A Universidade de Évora está a assinalar os 50 anos da sua refundação. Hermínia Vasconcelos Vilar, reitora daquela que é a segunda universidade mais antiga do país, em entrevista ao Ensino Magazine fala da excelência do ensino que ali é ministrada e dos projetos para o futuro, como o curso de medicina e a construção de um polo ligado à saúde, bem como de um novo campus.
A Universidade de Évora é a segunda academia mais antiga do país e está a assinalar os 50 anos da sua refundação. Como avalia o seu percurso e qual o seu impacto na região e no país?
Com efeito a Universidade de Évora é a segunda mais antiga Universidade portuguesa fundada em 1559. Encerrada no século XVIII, no tempo do Marquês de Pombal, foi refundada em 1973 no quadro da reforma Veiga Simão. Foi então criada como Instituto Universitário de Évora e, em 1979, foi definitivamente reinstaurada como Universidade de Évora.
Ao longo das últimas 5 décadas a Universidade de Évora tem-se vindo a consolidar tanto no campo da formação, oferecendo hoje um amplo leque de formações de primeiro, segundo e terceiro ciclos de estudos em diferentes áreas, como no campo da investigação, cujo reconhecimento nacional e internacional, tem vindo a crescer, através de múltiplos projetos e parcerias.
O seu papel no desenvolvimento da região é visível a diferentes níveis. Eles vão desde a capacidade de atrair e fixar jovens, empresas e investigação de ponta que contribuem para o desenvolvimento do território.
A sua presença em Évora é, a meu ver, particularmente importante para a cidade e para o seu dinamismo. Costumo dizer que há uma cidade de Évora com e sem alunos e penso que não estou a exagerar quando o refiro. O dinamismo que a Universidade dá à cidade é particularmente relevante.
A nível nacional destacar que estamos integrados, juntamente com a Universidade do Algarve e a Universidade Nova de Lisboa, no Campus Sul em que a nossa principal missão é contribuir, através da investigação e da oferta formativa, para um desenvolvimento mais sustentável do Sul e, também, reforçar a coesão territorial. Mas, a Universidade de Évora não tem apenas um impacto no desenvolvimento económico, social, cultural e ambiental na região Alentejo e no país. A nível internacional, tem contribuído bastante para o desenvolvimento territorial de alguns países, nomeadamente S. Tomé e Príncipe.
Com mais de nove mil alunos, a Universidade de Évora, mesmo estando no interior do país, tem vindo a aumentar o número de estudantes. Qual o segredo?
A Universidade de Évora situa-se numa região marcada por acentuados problemas demográficos. Problemas que se mantêm como aliás os dados do último censo evidenciam. Contudo, a Universidade de Évora tem conseguido aumentar o número dos seus estudantes, tanto nacionais como internacionais.
Ao nível internacional destacamos os estudantes vindos dos países de expressão portuguesa, mas também da América Latina e de países europeus.
Ao nível nacional a nossa área de recrutamento estende-se a diferentes pontos do território português, de norte a sul, passando pelo centro do país.
Tal só é possível pelo reconhecimento da qualidade dos cursos oferecidos pela Universidade de Évora.
A Universidade de Évora tem na cidade o seu próprio campus. O crescimento que tem tido e os custos associados ao funcionamento das diferentes escolas, obriga a pensar o futuro da instituição de forma diferente?
A aposta da Universidade de Évora foi, desde cedo, fazer da cidade o seu campus, o que tem trazido dinamismo à cidade. Assim, a Universidade de Évora tem o seu núcleo central no centro histórico da cidade de Évora e na zona limítrofe, com destaque para o Pólo dos Leões. Compreende ainda o chamado núcleo da Mitra bem como pólos em Sines, Alter do Chão, Estremoz e explorações no Baixo Alentejo, pólos que refletem o compromisso da Universidade com o território.
A opção de fazer da cidade o seu campus teve indiscutíveis vantagens, mas também tem inevitáveis implicações. O núcleo central é constituído por um número elevado de edifícios históricos, com valências originais que nada têm a ver com as funções que hoje assumem. Sem dúvida que a adaptação e manutenção destes edifícios implica gastos acrescidos que, de forma alguma, têm reflexo no financiamento concedido à Universidade.
Sem questionar a presença da Universidade na cidade, que me parece imprescindível, há que pensar o futuro, tendo em conta as novas exigências do processo de formação e de investigação e caminhar para pólos estruturantes em vez de acentuar a dispersão na cidade.
Para tal a Universidade irá dinamizar uma reflexão interna que permita um planeamento a médio prazo sobre a evolução do campus da Universidade.
No que respeita à oferta formativa, a UÉ apresentou já uma proposta para um curso de mestrado integrado em medicina. Qual a importância da abertura desse curso para a Universidade, para a região e para o país?
A aposta na área da Saúde é já uma aposta consolidada por parte da Universidade de Évora. Vale a pena relembrar que a UE iniciou recentemente a oferta do 1º ciclo de estudos em Ciências Biomédicas e no ano passado o mestrado integrado em Ciências Farmacêuticas, o qual teve a melhor média de acesso na 1ª fase do Concurso Nacional de Acesso no ano de 2023/2024.
Estas formações vieram-se juntar a ofertas anteriores na área do Desporto, da Reabilitação Psicomotora e da Enfermagem.
É nesta estratégia que se integra a apresentação da proposta de um mestrado integrado em Medicina, ou seja, num processo de alargamento e de consolidação da oferta e da investigação na área da saúde.
Esta oferta é muito importante para a região ao pretender contribuir para a alavancagem do novo Hospital Central do Alentejo, aproveitar as oportunidades colocadas por esta construção e contribuir para a fixação de profissionais ligados à área da saúde, assegurando assim uma melhor cobertura do território a sul do Tejo.
Mas a formação proposta, alicerçada em parcerias internacionais, procura igualmente responder aos novos desafios que se colocam na área da medicina, nomeadamente com a inclusão cada vez mais importante da Inteligência Artificial na sua prática.
Para além dessa oferta há outros cursos novos que poderão surgir ou vir a ser propostos? Quais?
Para lá dos primeiros ciclos de estudos em Ciências Biomédicas e em Ciências Farmacêuticas, a Universidade de Évora iniciou ainda, no ano lectivo de 2022/2023 uma licenciatura e mestrado em Inteligência Artificial e Ciência de Dados, procurando assim ir ao encontro de uma área com crescente procura por parte dos jovens e dos empregadores.
Esperamos, em breve, poder contar com uma formação de primeiro ciclo em Engenharia Aeroespacial, área que corresponde igualmente a uma afirmação estratégica da Universidade, nomeadamente tendo em conta o cluster existente no Alentejo nesta área.
Não será de mais relembrar que a Universidade de Évora compreende ainda um leque diferenciado de cursos tanto na área das Ciências Sociais e Humanas como na área das Artes e das Ciências. Nesta última área, destaco as formações no campo das Ciências Agrárias, uma área de afirmação estratégica da Universidade.
Realço ainda a importância do Património, do seu estudo, requalificação e análise, como área de investigação da Universidade. Área onde se cruzam diferentes ciências desde a História à Química, sem esquecer a antropologia biológica, as geociências, entre outras.
Todas estas formações e muito em particular os mestrados e doutoramentos estão alicerçados numa investigação enquadrada em unidades de investigação avaliadas pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e em projetos nacionais e internacionais.
A construção do edifício para acolher a Escola de Saúde e Desenvolvimento Humano é uma prioridade. Em que fase se encontra o processo?
Nos últimos dias, mais concretamente no passado dia 21 de junho, foi-nos comunicado pelo próprio Senhor Primeiro Ministro a autorização do governo para a aquisição do terreno, junto ao novo Hospital, para a construção da futura Escola de Saúde. Esta autorização era imprescindível para o avanço deste processo. Seguiremos agora para a fase de concurso para a apresentação do projeto da futura Escola, o qual conta com apoio PRR.
A Universidade de Évora continua a ser subfinanciada pelo Estado, sendo que o valor recebido não é suficiente para fazer face aos encargos com os vencimentos. A fórmula de financiamento já foi alterada pelo anterior governo. Que novos critérios deveriam ser introduzidos para a instituição não ser prejudicada?
Para lá das alterações já introduzidas à fórmula do financiamento, penso que esta devia ainda ter em linha de conta dois princípios básicos. O primeiro liga-se à necessidade de olhar para as instituições de ensino superior como pilares centrais de toda e qualquer política de coesão. O segundo de que o país precisa de ter presente a necessidade de reforçar o investimento no ensino superior.
Embora o horizonte de trabalho de toda e qualquer instituição de ensino superior seja internacional, as instituições não podem ignorar o território em que se integram. Desta forma, a fórmula de financiamento tem de atentar na diversidade dos contextos em que as diferentes instituições de ensino superior atuam, sendo necessário a incorporação de fatores de correção das assimetrias.
Por outro lado, uma fórmula de financiamento deve assegurar estabilidade e planeamento, mas tendo subjacente desafios de curto e médio prazo como é o caso, entre outras, das novas exigências colocadas à formação e investigação, o rejuvenescimento do corpo docente, a fixação dos investigadores que agora terminam os seus contratos.
No caso da Universidade de Évora parece-nos ainda legítimo chamar a atenção para a estrutura do nosso campus e para o contributo que a Universidade faz para manter um centro histórico que é também património mundial.
A nível internacional a UÉ passou a integrar a universidade europeia EUGreen, com outras instituições europeias. Que mais valias retira desse consórcio?
A integração da Universidade de Évora neste consórcio tem sido uma história de sucesso. Para lá da adesão de docentes, não docentes e estudantes aos diferentes works packages que constituem este projeto, a integração neste consórcio tem permitido o alargamento da internacionalização da Universidade com a apresentação de novas parcerias internacionais tanto na área da formação como da investigação.
De destacar ainda que o programa deste consórcio alicerçado na sustentabilidade tem ainda como objetivo tornar as instituições que nele colaboram em instituições mais sustentáveis a diferentes níveis.