O Politécnico da Guarda assinalou, no passado dia 22 de janeiro, o seu Dia. Joaquim Brigas, presidente da instituição, aproveitou a ocasião para ser critico a algumas medidas que, na sua opinião, prejudicam o ensino superior no interior do país. Ao Ensino Magazine concretiza essas questões, destaca a importância da sua instituição no desenvolvimento da região e apresenta alguns projetos inovadores que o IPG tem em curso. Em respostas enviadas por email, fala ainda da oferta formativa e da candidatura para a construção de uma nova residência de estudantes.
Na sua intervenção no Dia do Politécnico da Guarda, foi muito critico para com a nova regra este ano implementada no acesso ao ensino superior e que limita a vinda de alunos estrangeiros. Quer concretizar?
É muito simples: o ensino superior, para além de formar jovens e de qualificar adultos, tem também funções de promoção e de qualificação dos territórios em que está implantado. Essas funções são tanto mais importantes, quanto mais periféricas e de baixa densidade forem as regiões.
Instituições como o Politécnico da Guarda tornaram-se nas últimas décadas, não só símbolos identitários das respetivas cidades e territórios, como também, as suas principais fontes de atração de jovens, de fixação de população qualificada e de ligação ao tecido empresarial, às instituições sociais e aos produtores de cultura.
Assim, para além da sua missão de formar alunos para a região e para todo o país e a de produzir conhecimento e ciência que promovam a inovação social e económica na sua área de influência, o Politécnico da Guarda tem sido igualmente o principal motor de renovação demográfica e de fixação de população qualificada na região. Desde 2019 temos aumentado o número de alunos, quer nacionais quer estrangeiros, pois se há em Portugal uma região que necessita de jovens é precisamente esta, o território de montanha, interior e transfronteiriço do distrito da Guarda.
No contexto de inverno demográfico que se vive em Portugal e da diminuição global de população jovem candidata ao ensino superior que se verifica todos os anos, limitar a chegada de jovens estrangeiro a politécnicos do Interior é expô-los a uma concorrência desleal com as instituições do Porto e de Lisboa. E é condenar o Interior à desertificação.
Em que medida essa nova regra prejudicou o Politécnico da Guarda?
Temos cursos que não têm tantos alunos quanto podiam e deviam ter. Quadros que são precisos para o nosso país e para a Lusofonia. É uma coisa que não faz sentido nenhum, porque não há melhor política de coesão nacional e de desenvolvimento do Interior do que o ensino superior. Os alunos estrangeiros, não só animam as cidades da Guarda e de Seia em que o Politécnico da Guarda está implantado, como são moradores potenciais e bem qualificados para se fixarem nesta região.
O Politécnico da Guarda está a preparar uma candidatura para uma nova residência de estudantes. É uma prioridade?
É uma prioridade absoluta. Está comprovado que o principal obstáculo à concretização das matrículas das estudantes que são colocados na Guarda é não terem habitação adequada a preços acessíveis. A falta de uma residência estudantil de grande capacidade impede, todos os anos, a matrícula de 100 a 150 alunos.
Qual a capacidade dessa nova estrutura e para quando poderá ser lançada a concurso?
A nossa candidatura é para uma residência no campus da Guarda, com capacidade para 120 alunos. Se não nos colocarem os obstáculos incompreensíveis que foram postos à primeira candidatura, esperamos lançar o concurso este ano.
No seu discurso, também no dia do IPG, foi muito crítico ao modo como a candidatura do Politécnico da Guarda foi excluída no primeiro aviso do PRR. Consegue compreender o porquê dessa exclusão?
É um caso claríssimo de como, neste país, as coisas ainda funcionam numa lógica de “filhos” e de “enteados”. A empresa que nos preparou o projeto que candidatámos viu projetos exatamente iguais de outras instituições serem aprovados. É incompreensível. E, sobretudo, é escandaloso.
O Politécnico da Guarda tem em curso um projeto de reposicionamento de medicamentos para tratar o cancro. Em que medida este projeto é diferenciador?
É um projeto europeu de reposicionamento de medicamentos para o tratamento de cancros no valor de 1,8 milhões de euros, que o Politécnico da Guarda lidera. Envolve também a Universidade da Corunha, a Universidade de Santiago de Compostela, o Centre National de la Recherche Scientifique de Paris e empresas e institutos públicos portugueses e dos países que referi. A reutilização de fármacos já existentes para combater o cancro irá impulsionar a atividade da indústria biofarmacêutica.
Há outros projetos que gostaria de destacar?
Um projeto muito interessante visa desenhar um curso para incentivar estudantes do sexo feminino, que frequentam o ensino superior nas áreas da Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática, a tornarem-se mais empreendedoras e a lançarem startups em diversas áreas de negócio. É liderado pelo IPG e envolve universidades da Polónia, Itália, Espanha e Grécia, a Fundação Educacional “Perspetivas”, da Polónia e a consultora portuguesa Inova +, presente em cinco países europeus.
Outro projeto europeu coordenado pelo IPG é o do livro branco digital “Cuidador: o seu papel na promoção do envelhecimento saudável”, o qual tem como objetivo fornecer informações valiosas e práticas sobre a implementação de intervenções para um envelhecimento saudável, centradas na deteção, no retardamento e na gestão de declínios físicos e cognitivos significativos. Para além do IPG, este projeto integra um Centro de Inovação Português, um Centro de cirúrgico de Espanha e as universidades de Hungria e da Chéquia.
Ainda nesta área, o IPG lidera mais um projeto europeu para combater a exclusão digital, aumentar a literacia digital em saúde e promover o envelhecimento saudável em pessoas com mais de 50 anos: o “LiterAge4All”, o projeto terá a duração de dois anos e meio e será cofinanciado em 250 mil euros pela União Europeia, no âmbito do programa Erasmus +. Para além do IPG, integram este projeto a Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde, a Unidade de Tecnologias da Saúde e da Bioengenharia do Centro de Cirurgia Minimamente Invasiva Jesús Uson, em Cáceres, a Fundação para as Oportunidades Digitais de Berlim e a Universidade de Tecnologia da Silésia, na Polónia.
São três exemplos de projetos europeus liderados pelo Politécnico da Guarda. Há mais…
Ao nível da oferta formativa, que novos cursos poderão abrir no IPG?
A este nível, estamos a preparar novas formações nas áreas da Educação, do Turismo, das Engenharias, do Empreendedorismo e na Proteção de Pessoas e Bens. Por outro lado, no âmbito da UNITA, está a ser elaborada uma proposta Licenciatura para promover a línguas românicas nas áreas da administração e da comunicação.
No que respeita aos doutoramentos está alguma proposta a ser desenvolvida?
Em cima da mesa estão, para já, matérias como logística, TIC entre outras, mas, nesta fase, não gostaria de adiantar muito mais.
Recentemente o IPG anunciou um mestrado de dupla titulação, no âmbito da UNITA, com uma universidade romena. Para quando o arranque?
A universidade de Timisoara já tem a funcionar o Mestrado em Sistemas de Informação Geográfica. O Politécnico da Guarda está a agora a preparar o seu, cuja candidatura será entregue, até final de março, à A3ES, a Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior em Portugal. A nossa expectativa é que esta Agência aprove o mestrado a tempo de a primeira edição poder ser aberta no final de 2024. Quanto ao mestrado de dupla titulação com a Roménia, é previsível que possa iniciar-se em 2025.
Essa é uma das primeiras iniciativas que o IPG desenvolve com a UNITA. Há outras em perspetiva? Quais?
Estamos a reorganizar os nossos currículos e dar formação específica aos docentes para trazer para os nossos cursos alunos estrangeiros das universidades de França, Espanha, Roménia e Itália que integram a UNITA, uma aliança que une instituições que têm em comum a localização em zonas transfronteiriças e de montanha.
O projeto “UNITA – Receitas para a Internacionalização” terá a duração de três anos e será cofinanciado em 400 mil euros pela União Europeia. Serão criados novos cursos, com inovações que irão aumentar a disponibilidade de serviços educativos digitais como cursos online, videoconferências, webinars, etc.
Recentemente o IPG criou um observatório para combater o abandono escolar. Já está em funcionamento? Que mais valias traz à instituição e aos seus alunos?
É uma estrutura transversal e interdisciplinar que reforçou a prioridade que o Politécnico da Guarda tem dado à boa integração dos alunos e à deteção precoce daqueles que necessitam de apoio. No início do ano letivo, mobilizámos os Serviços de Ação Social para que não houvesse uma única aluna ou aluno a deixar de estudar no IPG por razões económicas. Agora temos em funcionamento um instrumento permanente para acompanhar os estudantes ao longo do seu percurso académico, ajudando-os a resolver e a ultrapassar dificuldades, para que possam aproveitar todo o potencial que este Politécnico e os seus cursos têm para lhes oferecer.
Está a funcionar bem e tem sido uma forma de detetar problemas e de prevenir potenciais casos de abandono, com os estudantes que nos contactaram a serem encaminhados e apoiados. Até agora, os casos detetados têm passado mais por necessidades de aumentar rendimentos, o que implica ajudar a encontrar opções de trabalho para os estudantes, apoiá-los na preparação dos seus currículos e, ao mesmo tempo, apoiá-los psicologicamente ao longo deste processo.
Os contactos iniciais têm sido feitos sobretudo por e-mail e pessoalmente, mas estamos a incentivar os alunos a interagirem cada vez mais com as nossas equipas através da plataforma “Sempre Contigo”, que criámos para o efeito.