Este website utiliza cookies que facilitam a navegação, o registo e a recolha de dados estatísticos.
A informação armazenada nos cookies é utilizada exclusivamente pelo nosso website. Ao navegar com os cookies ativos consente a sua utilização.

Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVIII

António Fernandes, presidente do Instituto Politécnico de Castelo Branco (IPCB) Uma instituição comprometida com o desenvolvimento da comunidade e do território

20-10-2025

A comemorar 45 anos de vida e a superar a barreira dos cinco mil estudantes, o IPCB afirma-se como uma das instituições mais relevantes da região. Em entrevista, o presidente António Fernandes estima um impacto económico superior a 60 milhões de euros, aborda os projetos em curso, em termos de infraestruturas e internacionalização, e aproveita a oportunidade para comentar as reformas que a tutela pretende implementar na estrutura organizacional do ensino e da ciência.

O IPCB está a comemorar, em outubro, 45 anos de existência. Que balanço faz do impacto social e económico da instituição para a região?

O IPCB é uma das instituições mais relevantes da região, sendo obviamente impactante tanto na dimensão social e como na dimensão económica. A superar a barreira de 5 mil estudantes, objetivo definido para este quadriénio, o IPCB tem tido capacidade de formar e qualificar pessoas sendo que muitas permanecem na região contribuindo para uma sociedade mais qualificada e socialmente bem-sucedida. Na dimensão económica, a presença do IPCB é verdadeiramente impactante no desenvolvimento económico de toda esta região. Num estudo efetuado pelo Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP) há alguns anos, concluiu-se que por cada euro de dotação orçamental verificava-se um efeito multiplicador na atividade económica superior a três vezes. Considero que o impacto atual não será menor e talvez até maior. A dotação orçamental do IPCB para o ano 2026 ronda os 21 milhões de euros, pelo que podemos assumir que o impacto económico do IPCB na região é superior a 60 milhões de euros.

No relatório da última avaliação institucional do IPCB, realizada pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES) pode ler-se: «Considera-se que atualmente o IPCB é uma instituição ativa, dinâmica, e viva, que possui recursos humanos capazes de promover e fortalecer sinergias internas e externas, locais e regionais, nacionais e internacionais, e empenhada em cooperar com o poder político local, instituições sociais e culturais, organizações empresariais e outras instituições de ensino, promovendo o crescimento científico, técnico, artístico, cultural e cívico dos jovens e dos adultos que procuram a Instituição». Esta avaliação recente da A3ES ao IPCB remete-nos para uma instituição capaz de evoluir e empenhada na promoção do desenvolvimento da sociedade e que tem uma capacidade influenciadora junto da sua comunidade direta, mas, também, da sociedade em geral. Ao liderar iniciativas de cooperação e integração regional, o IPCB tem-se fortalecido como uma instituição de ensino e investigação comprometida com o desenvolvimento da comunidade e do território, o que pode atrair mais estudantes, investigadores e recursos para a instituição.

Está em curso a construção de uma nova residência. Para quando a sua conclusão?  As escolas do IPCB têm a decorrer algum investimento relevante?

Temos em construção a nova residência de estudantes no Campus da Talagueira, para 152 camas, com financiamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) no âmbito do programa de Alojamento Estudantil a Custos Acessíveis de 2 574 720,00 euros e adjudicação no valor de 3 915 525,28 euros. Prevê-se a conclusão das obras na primavera de 2026 e a entrada em funcionamento no ano letivo 2026/27. Em curso encontra-se também a requalificação de duas alas das atuais residências de estudantes, correspondentes a 208 camas, com um financiamento de 1 966 488,60 euros e adjudicação de 2 545 652,50 euros. Também estas obras deverão estar concluídas na primavera de 2026.

As escolas do IPCB têm a decorrer algum investimento relevante?

Nas escolas do IPCB (Agrária, Tecnologia e Saúde) tivemos um investimento de cerca de 4 000 000 euros ao nível da melhoria da eficiência energética e eficiência hídrica das instalações, com a intervenção a permitir melhorias significativas ao nível de revestimento de fachada, cobertura, iluminação, sistemas de climatização e produção de energia elétrica através de painéis fotovoltaicos.

O Concurso Nacional de Acesso (CNA) registou, este ano, uma assinalável diminuição de candidatos. Na sua perspetiva, o que é que pode ser feito a nível central e institucional para inverter a situação?

Este ano verificou-se uma quebra acentuada no número de candidatos via CNA e, consequentemente, no número de estudantes colocados por esta via. As instituições de Ensino Superior de zonas de menor pressão demográfica foram as que mais sentiram esta quebra. A tendência de redução da importância do CNA já não é nova para muitas instituições. Nesta perspetiva, considero que a valorização de outras vias de ingresso na educação superior dever ser uma preocupação crescente de cada instituição e, também, a nível central, algo que considero já existir. Evidentemente que a perceção da sociedade sobre a importância destas outras vias de ingresso na educação superior ainda não é a desejável, mas é um caminho que vai sendo feito, e a notoriedade académica, e mais tarde profissional, dos estudantes que ingressam nas instituições de ensino superior por essas vias tem ajudado à construção e reconhecimento destas vias de ingresso por parte da sociedade em geral.   

Iniciou-se, recentemente, o primeiro doutoramento na Escola Superior Agrária. Há mais doutoramentos em perspetiva? Que outras ofertas formativas podem ser disponibilizadas noutros ciclos?

O doutoramento em Sustentabilidade Agroalimentar e Ambiental, o primeiro doutoramento da história do IPCB, arrancou no dia 26 de setembro. É fruto de uma parceria com os politécnicos de Coimbra, Viseu e Santarém, tendo a 1.ª edição tido lugar em janeiro de 2025 no Politécnico de Coimbra e a 2ª edição no IPCB. Tivemos um número de candidaturas superior ao número de vagas (25) e temos enorme convicção do sucesso do programa. Para além deste programa de doutoramento, submetemos à A3ES um programa de Doutoramento na área do Desporto e outro na área do Design. Estamos ainda a trabalhar noutro programa de doutoramento na área da Educação, Artes, Cultura. Estas propostas resultam de redes de cooperação que criámos com outras instituições de ensino superior que nos permitiu submeter à Fundação para a Ciência de Tecnologia (FCT) Unidades de Investigação robustas e com reconhecida qualidade.  

O governo aprovou no início de setembro, em Conselho de Ministros, a revisão do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES). Qual a sua leitura sobre este pacote legislativo, que ainda será discutido na Assembleia da República, que pode significar uma reforma profunda no sistema de ensino superior e na política científica e de inovação em Portugal?

A minha leitura é obviamente positiva tendo em conta que apesar de alterações pontuais que vieram a ser introduzidas por diferente legislação, a obrigatoriedade de avaliação do RJIES em cinco anos após a data da sua entrada em vigor não se veio a verificar. Só agora, passados 16 anos é que tal aconteceu. Do que se conhece da proposta, estamos perante alterações significativas, sendo de destacar o reforço da autonomia das instituições de ensino superior públicas, permitindo que as mesmas possam projetar e concretizar estratégias de médio e de longo prazo.

É de registar a preservação do modelo binário com um enquadramento de mais flexibilidade e aumento da autonomia das instituições para diversificarem a sua oferta formativa e definirem e implementarem estratégias alinhadas com os desafios regionais, nacionais e europeus bem como o avançarem para um ensino mais flexível e adaptável às mudanças tecnológicas e às necessidades do mercado de trabalho. A revisão do RJIES propõe um novo sistema de eleição do reitor das instituições de ensino superior aberto a toda a comunidade incluindo, de modo ponderado, docentes, investigadores, pessoal técnico, especialista e de gestão, estudantes e antigos estudantes. No que respeita à representatividade de cada corpo no processo de eleição, a proposta é aberta e permite maior autonomia das instituições de ensino superior.

No âmbito da internacionalização, o IPCB integra a Universidade Europeia BAUHAUS4EU. Qual é a importância dessa aliança e que projetos estão na calha?

O IPCB integra a Universidade Europeia BAUHAUS4EU que tem um financiamento aprovado de 14,5 milhões de euros, no âmbito do programa “Erasmus+” da Comissão Europeia, sendo cerca de 1,4 milhões de euros atribuído ao IPCB.  Ao longo dos próximos quatro anos serão desenvolvidos projetos conjuntos nas áreas da educação e da investigação, incluindo duplas titulações. Haverá mobilidade de estudantes, docentes e não docente. Existe a possibilidade de alocação de recursos humanos e financeiros ao projeto de forma a promover o desenvolvimento estratégico da aliança.

O tecido empresarial local e regional bem como as entidades parceiras poderão beneficiar desta aliança na resposta aos desafios territoriais, muitas vezes comuns entre as instituições de ensino superior que integram a rede, devido às semelhanças das realidades locais. Além de tudo, a Universidade Europeia pretende ser um exemplo da implementação dos objetivos da New European Bauhaus, focados em princípios de sustentabilidade e integração, e devem ser pilares para todas as atividades desenvolvidas, motivando a mudança para uma sociedade que partilhe os valores europeus.

O Ministério da Educação, Ciência e Inovação está a implementar uma reforma na estrutura organizacional do ensino e da ciência. Qual é a sua opinião?

Segundo o ministro Fernando Alexandre o objetivo da reforma orgânica do Ministério «é garantir a igualdade de oportunidades no acesso a uma Educação de qualidade em todo o território nacional, bem como gerar e transformar talento e conhecimento em valor social e económico». Para a tutela, a estrutura antes existente estava inadequada e desajustada aos desafios e aos novos tempos, sendo objetivo da reforma tornar o sistema mais simples e articulado. Da nossa parte, todas as alterações promotoras da melhor articulação e simplificação operativa e relacional com as estruturas do Ministério são bem-vindas. Certamente que o diagnóstico foi feito, e esperamos que as mudanças em curso contribuam para uma melhor integração do sistema como um todo, que responda com mais eficiência e eficácia aos desafios do País, e particularmente, às propostas e estímulos das instituições de ensino superior.

O subfinanciamento é um obstáculo crónico que se coloca às instituições do ensino superior. Que impacto tem este problema para a qualidade do ensino e da investigação e que soluções advoga para ultrapassá-lo?

O modelo de financiamento, no que respeita à dotação orçamental, tem em linha de conta exclusivamente o número de estudantes e considera a utilização de ponderações diferenciadas entre subsistemas, politécnico e universitário – as ponderações servem para medir o custo com cada estudante em função da respetiva área de formação. Considero que tal abordagem poderá ser melhorada. Em primeiro lugar, as instituições de menor dimensão têm custos fixos exatamente iguais às instituições de maior dimensão, pelo que quando a dotação orçamental está indexada ao número de estudantes, coloca as instituições com menos estudantes em clara desvantagem. Não se considerar qualquer mecanismo de compensação destinado às instituições de menor dimensão, e localizadas em territórios de menor pressão demográfica, é uma lacuna pertinente. Existem custos fixos de funcionamento que, pelo conceito que lhes é subjacente, não dependem do número de estudantes inscritos em cada instituição. O potencial ganho implícito a economias de escala encontra-se, naturalmente, limitado nas instituições de ensino superior mais pequenas e com maior dificuldade de crescer. Um fator de majoração do peso dos estudantes das instituições que cumpram o critério de localização em territórios de baixa pressão demográfica e que consequentemente têm custos de contexto associados a essa condição, deveria ser considerado no modelo de financiamento, a bem da coesão territorial e económica do país.

No que se refere às ponderações, não deveria haver diferença entre politécnicos e universidades. Ao existirem diferenças nos ponderadores (considera-se que para a mesma área de formação o custo inerente nas universidades é maior do que nos politécnicos) está a promover-se uma discriminação negativa dos politécnicos e, obviamente, das suas comunidades académicas. Não são conhecidos dados concretos subjacentes ao cálculo do valor das ponderações, diferentes entre politécnicos e universidades, para as mesmas áreas de formação.

A inteligência artificial e a sustentabilidade são duas temáticas que, na atualidade, dominam muitas conversas e muitas análises. De que forma é que a instituição que lidera está a enfrentar estes desafios na sua prática quotidiana, ao nível do ensino e na própria relação entre docentes e estudantes?

A inteligência artificial pode considerar-se uma transformação estrutural no processo de ensino aprendizagem que exige respostas estratégicas por parte das instituições de ensino superior. No IPCB, assumimos uma postura proativa. Ao nível do ensino, temos vindo a introduzir conteúdos relacionados com inteligência artificial e ciência de dados nos conteúdos das unidades curriculares em diferentes áreas como o caso da informática, as ciências agrárias, da saúde ou do design. Consideramos que a literacia digital e a compreensão de fundamentos associados à inteligência artificial são competências transversais e devem estar presentes em todos os diplomados, independentemente da área concreta de especialização. Relativamente à sustentabilidade, o IPCB tem incorporado os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU no âmbito da implementação da sua estratégia. Alinhado com os compromissos nacionais e europeus de descarbonização e eficiência energética, o IPCB tem construído este caminho, especialmente impulsionado desde 2018. Nesse mesmo ano foram aprovadas três candidaturas do Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos (POSEUR) para implementação de medidas de eficiência energética nos Serviços Centrais e da Presidência, na Escola Superior Agrária e na Escola Superior de Educação, no valor de 850 mil euros. Estas medidas abrangeram a intervenção ao nível da instalação de sistemas de produção fotovoltaica, substituição de iluminação por tecnologia LED, substituição de vãos, isolamento de fachadas exteriores e substituição de equipamentos de climatização. No âmbito do programa ECO.AP 2030, foi aprovado o Plano de Eficiência e Descarbonização 2025-2027 do IPCB, reforçando a aposta da instituição numa cultura organizacional sustentável e ambientalmente responsável. O plano contempla medidas a implementar em todos os edifícios e infraestruturas do IPCB, incluindo os Serviços Centrais, Presidência, Unidades Orgânicas e Residências de Estudantes para o triénio 2025-2027. Tem como objetivo estratégico a promoção da eficiência no uso de recursos – energia, água, materiais e gases fluorados – de forma a alcançar um desempenho ambiental significativamente superior ao verificado em 2023. Entre os principais indicadores de progresso definidos destacam-se a melhoria de 30% em eficiência energética, 15% de energias renováveis, 6% em eficiência hídrica e a eliminação gradual de equipamentos com gases fluorados.

Nuno Dias da Silva
Direitos Reservados
Voltar