O Instituto Politécnico de Castelo Branco assinala 42 anos dia 28 de outubro. António Fernandes, presidente da instituição destaca, em entrevista respondida por escrito, o crescimento que o IPCB teve em número de alunos, mas também as prioridades para o seu segundo mandato.
Conhecidos os resultados do concurso nacional de acesso ao ensino superior (CNAES), e conhecendo também os resultados dos concursos especiais, qual o balanço que faz da entrada de novos alunos na instituição?
O balanço é francamente muito positivo com o IPCB a crescer relativamente ao número de novos estudantes. Neste momento contabilizamos mais de 1800 novos estudantes colocados nos diferentes níveis de formação: Cursos Técnicos Superiores Profissionais, licenciaturas e mestrados. São resultados muito animadores, que deverão ser motivo de orgulho para toda a comunidade académica, e que confirmam o crescimento sustentado do Politécnico de Castelo Branco vivido nos últimos anos.
Relativamente ao Concurso Nacional de Acesso (CNA) ao ensino superior 2022/23, o IPCB foi o politécnico do interior do país com a taxa de ocupação de vagas mais elevada, 74,9%, considerando os resultados das 3 fases do concurso. De salientar ainda que, na 1.ª fase do CNA, o IPCB registou um aumento de 14% no número de colocados, ocupando a 4.ª posição das instituições (politécnicos e universidades) que mais aumentaram percentualmente o número de novos estudantes. Relativamente à 2.ª fase, com um aumento de 31%, o Politécnico de Castelo Branco foi a instituição que registou o maior aumento de colocados, considerando todos os politécnicos e universidades portuguesas. Através do CNA estão no IPCB 741 novos estudantes. Através de outros regimes 547 novos estudantes e através do concurso local da ESART 46 novos estudantes.
No que diz respeito a outros graus de ensino, encontram-se colocados 200 novos estudantes nos Cursos Técnicos Superiores Profissionais (CTeSP) e 281 estudantes nos mestrados. Aguardamos ainda pela 3ª fase de candidaturas.
Temos ainda pós-graduações na modalidade de ensino a distância na área de Ciências Florestais, Sistemas de Informação Geográfica, Proteção Civil e Gestão de Negócios, com um total de cerca de 100 candidatos aptos para seriação.
Foi eleito para um segundo mandato. Quais as prioridades para os próximos quatro anos?
Nos próximos quatro anos é obrigatório mantermos e reforçarmos a aposta na ciência e no ensino superior pelo seu importante papel no desenvolvimento e implementação de soluções conducentes a maior coesão, competitividade e conhecimento, em alinhamento com o processo de convergência europeia para 2030. No contexto concreto do IPCB, identifico 5 principais eixos de intervenção:
Especialização e diversificação da oferta formativa focada em novos públicos, atraindo mais jovens para as áreas STEAM (science, technology, engineering, the arts, and mathematics) e promovendo a atualização de competências em mais adultos, em estrita ligação com organizações empresariais e institucionais da região, possibilitando maiores níveis de empregabilidade em áreas estratégicas com elevado potencial. Simultaneamente, manter níveis elevados de captação de estudantes nacionais e internacionais para os diferentes ciclos de estudo ministrados no IPCB em alinhamento com as necessidades da sociedade e tendo em conta a necessidade de implementação de novos métodos de aprendizagem que combinem com o desígnio de transição digital da sociedade;
Consolidação e valorização da investigação com a dinamização de ambientes de I&D+I que melhorem a transferência de conhecimento e tecnologia para a comunidade e em alinhamento com boas práticas de redes internacionais de investigação e desenvolvimento que o IPCB deverá integrar;
Reforço da cooperação institucional valorizando o IPCB enquanto centro de ciência, tecnologia, inovação e competências, capaz de promover a participação ativa e colaborativa dos diferentes atores que integram relevantes redes nacionais e internacionais de transferência de conhecimento e que em conjunto criam condições para o desenvolvimento e transformação das regiões, do país e do mundo;
Sustentabilidade organizacional com a aposta em modelos de governação e gestão sustentáveis e transparentes, promovendo a utilização eficiente dos recursos e a redução gradual da dependência do financiamento para formação inicial, assim como o desenvolvimento e valorização pessoal e profissional do capital humano existente, com particular destaque para a igualdade e inclusão, onde a existência de adequadas condições de apoio social e integração dos estudantes deverá ser uma prioridade;
Melhoria das infraestruturas através do melhor aproveitamento de fundos europeus para a requalificação das instalações das escolas bem como a manutenção dos espaços tendo em conta as disponibilidades orçamentais existentes.
De que forma o IPCB poderá crescer em número de alunos nos próximos anos?
É o imperativo apostarmos numa oferta de um ensino de excelência, perfeitamente ajustado às necessidades e exigências atuais e futuras do mercado, em domínios diversificados como as áreas STEAM sem descurar a aposta nas soft skills, desenvolvidas pelas pessoas e que remetem para características de personalidade, como a empatia, a capacidade de comunicação e de organização e a flexibilidade.
Por outro lado, a (re)qualificação da população ativa deverá ser uma prioridade. A população estudantil portuguesa a frequentar o ensino superior caracteriza-se por ser uma das mais jovens da Europa. Esta característica representa uma apreciável oportunidade para um maior crescimento do ensino superior português, trazendo mais adultos para o processo, através de programas específicos de formação e requalificação ao longo da vida.
Na minha opinião o IPCB deve optar por uma oferta formativa tendencialmente especializada nas áreas de intervenção onde possui corpo docente altamente qualificado e onde tem obtido excelentes resultados ao nível da captação de novos estudantes. Considera-se adequada a aposta na conceção de novos cursos de licenciatura nestas áreas tendo em vista o crescimento do número de estudantes inscritos nas licenciaturas do IPCB. Além disso, a diversificação e aposta na atração de novos públicos, jovens e adultos, para áreas especificas de formação e em alinhamento com a tendência europeia, parece uma estratégia inevitável para uma instituição que pretende evoluir e melhorar a sua especialização e internacionalização.
O IPCB deverá garantir a sua autonomia e mostrar disponibilidade para participar na discussão de políticas públicas ao nível da coordenação territorial da oferta formativa do ensino superior, assumindo papel ativo ao nível da cooperação com outras IES, contribuindo para o desenvolvimento dos sistemas científico e tecnológico e do ensino superior da região e do país.
O Campus da Talagueira, num investimento da autarquia, tem as obras de ligação entre as as escolas superiores de saúde e de artes aplicadas quase concluídas. Que mais valias esse espaço pode trazer à comunidade académica e à cidade?
As obras estão praticamente concluídas, de facto. O nosso objetivo é criar um espaço académico e de lazer aberto a toda a comunidade, que melhore a qualidade de vida não só dos estudantes, mas também de todos os albicastrenses.
Foi efetuada uma intervenção profunda numa área de cerca de 5 hectares, que exigiu remoção de terras, instalação de diversas infraestruturas e melhoria de infraestruturas existentes, sistemas de drenagem e equipamentos. Para além dos arranjos paisagísticos, com espaços verdes e áreas arborizadas, o espaço incluí um anfiteatro ao ar livre, pérgolas com mobiliário urbano (bancos e mesas, entre outros), um calçadão entre as duas escolas, uma ciclovia interligada com a rede de ciclovias da cidade e um novo estacionamento junto à entrada principal da ESART.
A questão do alojamento é importante para o desenvolvimento das Instituições de Ensino Superior (IES). O que está previsto para fazer face a esta questão?
A questão do alojamento é uma questão relevante para qualquer instituição de ensino superior e para qualquer cidade acolhedora de estudantes. As residências do IPCB possibilitam uma taxa de cobertura de cerca de 8% sendo uma das maiores taxas de cobertura do país. Evidentemente que consideramos que esta disponibilidade deverá ser aumentada e por esse motivo estamos atentos a possibilidades de financiamento que possam surgir no sentido de aumentarmos a capacidade de alojamento e melhorarmos as atuais condições das residências de estudantes.
Para além das residências estamos fortemente empenhados na disponibilização de espaços aos estudantes, designadamente salas de reunião e salas de estudo, geridas pelas estruturas estudantis e que permitem a realização de atividades de acolhimento e integração dos novos estudantes.
O Consórcio A23 já está em funcionamento. Que ofertas vão surgir nos três politécnicos?
A Rede Politécnica A23 (A23 Polytechnic Network) é um projeto que visa estabelecer uma rede temática de ensino superior, formação ao longo da vida e investigação aplicada nas áreas Proteção de Pessoas e Bens e Competências Digitais.
As ofertas formativas focam-se em Microcredenciações, que no fundo são cursos breves para ativos, em Cursos Técnicos Superiores Profissionais e em Pós-Graduações. O objetivo é que estes cursos sejam lecionados em estreita colaboração com o tecido empresarial e que contribuam para a melhoria das competências e produtividade dos trabalhadores.
De referir ainda que os estudantes destas formações podem beneficiar da atribuição de bolsas e de prémios de mérito, de valor equivalente (ou em alguns casos específicos superior) ao custo das propinas associadas à sua frequência.
A ministra do Ensino Superior já referiu que pretende encontrar uma nova fórmula para o financiamento das IES. Que aspetos devem ser tidos em conta na sua perspetiva?
O financiamento das instituições de ensino superior deverá ter em conta, naturalmente, o número de estudantes de cada instituição. Esta será, indiscutivelmente, uma variável do modelo de financiamento. Haverá, contudo, outras variáveis que deverão também ser incluídas e considero muito importantes para esse mesmo modelo de financiamento. A dimensão da instituição, a localização da instituição, o impacto económico, social e cultural, da presença da instituição no território, a evolução da instituição em diferentes domínios, os resultados da gestão, entre outros, são exemplos que deverão ser considerados. É algo complexo de se conseguir, mas penso ser possível encontrar um modelo justo com a participação de todos no debate a fazer.
A alteração de designação dos politécnicos para universidades politécnicas e a luz verde para que possam ministrar doutoramentos ainda não foram regulamentados. Acredita que está para breve? O que isso poderá mudar no IPCB?
A aprovação da iniciativa legislativa de cidadãos - Valorização do ensino politécnico nacional e internacionalmente – focada na proposta de alteração cirúrgica da Lei de Bases do Sistema Educativo e do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior, levada à Assembleia da República para discussão na generalidade no passado dia 23 de junho e votada no dia 24 de junho, foi aprovada por unanimidade.
O que se pretende em concreto é que os Politécnicos possam outorgar do grau de doutor e a atual designação de Instituto Politécnico seja alterada para Universidade Politécnica.
A existência de programas de doutoramento nos Politécnicos implicará mais investigação, desenvolvimento e inovação (I,D&I) junto de empresas e instituições, reforçando ainda mais o papel dos Politécnicos no desenvolvimento económico e social das regiões onde se inserem.
Alterar a designação de Institutos Politécnicos para Universidades Politécnicas é um reconhecimento do percurso efetuado por estas instituições, hoje com um corpo docente predominantemente doutorado e com resultados concretos de investigação realizada e produção científica relevante publicada nas melhores revistas internacionais. O termo Universidade é globalmente aceite e promove a afirmação nacional e internacional das instituições.
Entendemos que a alteração da designação para Universidades Politécnicas bem como a possibilidade legal da outorga do grau de doutor são a afirmação da qualidade e vitalidade do ensino superior de Portugal, mas também, e muito importante, do ensino superior das regiões.
Relativamente à reorganização do IPCB. Foi anunciado que iria (com o presidente do Conselho geral) reunir com a ministra. Já se concretizou essa reunião? Qual o resultado?
Eu e o Senhor Presidente do Conselho Geral do IPCB fomos muito recentemente recebidos no Ministério da Ciência Tecnologia e Ensino Superior, pelo Senhor Secretário de Estado do Ensino Superior. Na reunião ocorrida, tivemos oportunidade de apresentar o ponto de situação relativo ao processo da restruturação organizacional bem como o trabalho desenvolvido desde o ano 2017. Foi uma reunião muito profícua e interessante. No final, o Senhor Secretário de Estado referiu que iria transmitir à Senhor Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior os temas abordados na reunião e que oportunamente seria promovida uma reflexão conjunta sobre o assunto.