O Instituto Politécnico de Castelo Branco assinala 41 anos. António Fernandes, presidente da instituição fala dos projetos futuros e aborda, em entrevista respondida por escrito, a diferentes questões como a entrada de novos alunos e o pedido, por parte da tutela, de esclarecimentos sobre os novos estatutos do IPCB.
O presidente do Politécnico revela ainda que requalificação do Campus da Talagueira já teve início e que o estudo preliminar do projeto para uma nova residência de estudantes está feito, adiantando que obra será enquandrada no Plano de Recuperação e Resiliência.
Terminada a 1ª e a 2ª fase do concurso nacional de acesso (CNA) ao ensino superior, e conhecendo também os resultados dos concursos especiais, qual o balanço que faz da entrada de novos alunos na instituição?
O balanço é efetivamente muito positivo. Considerando todas as ofertas formativas, estimamos para este ano letivo superar os 2000 novos estudantes, o que é, de facto, motivo de grande satisfação para toda a comunidade. A este número acrescem os estudantes Erasmus e os estudantes inscritos em unidades curriculares isoladas.
Concluídas a 1ª e 2ª fase do Concurso Nacional de Acesso (CNA) ao ensino superior para o ano letivo de 2021/22, encontram-se inscritos no IPCB nos cursos de licenciatura 633 novos estudantes que ingressaram pela via do CNA. A somar a estes estudantes há que contabilizar 435 novos estudantes que ingressaram através dos concursos especiais e 65 novos estudantes através do concurso local da ESART. Aos estudantes já inscritos acrescem 155 estudantes colocados após as matriculas da 2ª fase do CNA, perfazendo-se assim o total de 1288 novos estudantes à presente data. Importa salientar que disponibilizámos ainda 97 vagas para a 3ª fase do CNA e esperamos que seja igualmente generosa para o IPCB. No total, e para as licenciaturas, é muito provável que o IPCB venha a ter cerca de 1400 novos estudantes.
Relativamente às outras ofertas formativas, encontram-se colocados no presente ano letivo 202 novos estudantes nos Cursos Técnicos Superiores Profissionais (CTeSP), distribuídos por 11 CTeSP. Nos Mestrados temos 241 novos estudantes. Aguardamos pela 3ª fase tanto para candidaturas aos CTeSP como aos mestrados.
Temos ainda pós-graduações na modalidade de ensino a distância na área de Sistemas de Informação Geográfica, Proteção Civil e Gestão de Negócios com um total de 108 estudantes.
A estes números acrescem 13 estudantes do Instituto Politécnico de Macau que frequentam connosco todo o ano letivo 2021/22, ao abrigo de um protocolo de cooperação entre as duas instituições. O primeiro semestre será realizado na modalidade de ensino a distância, tudo indicando que os estudantes chegarão a Castelo Branco no 2º semestre do presente ano letivo.
Há cursos do IPCB que ficaram totalmente preenchidos através do CNA, mas houve outros, nomeadamente algumas engenharias, que continuam, ano após ano, a ter dificuldades em ter candidatos nesse concurso. Que razões encontra para essa questão e o que pode ser feito para a inverter?
De facto, temos tido alguma dificuldade em captar estudantes através do CNA para algumas licenciaturas, designadamente ligadas às ciências agrárias e às engenharias. Infelizmente não é algo que ocorra apenas no Politécnico de Castelo Branco, sendo transversal a todas as Instituições de Ensino Superior (IES) que ministram nestas áreas, com maior incidência nas IES do interior. As razões estão muito relacionadas com o afastamento dos estudantes de algumas destas áreas em concreto. São áreas pouco presentes na lista de prioridades da vontade dos estudantes, muito provavelmente porque o resultado das provas de ingresso, designadamente das provas de matemática e física e química, não permitir a candidatura por parte dos estudantes.
Considero que o estímulo a programas de formações curtas direcionadas à população jovem, como o exemplo do programa “Impulso Jovens STEAM” para formação nas áreas da ciência, tecnologia, engenharia, artes/humanidades e matemática, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) poderá ajudar a inverter a situação e fazer com que mais jovens sejam atraídos por estas áreas tão importantes para o país. No entanto, um importante trabalho tem sido feito ao nível dos Cursos Técnicos Superiores Profissionais (CTeSP), onde o IPCB tem um percurso muito interessante nas áreas das ciências e engenharias e onde a taxa de prosseguimento de estudos para as licenciaturas é muito elevada.
Importa, contudo, sublinhar, que todas as nossas licenciaturas nas áreas das ciências e engenharias têm um número de novos estudantes elevado, estando o seu funcionamento completamente assegurado. O número de vagas que disponibilizámos para a 3ª fase do CNA é baixo, precisamente pela elevada ocupação de vagas verificada neste ano letivo. Como exemplo, posso referir Engenharia Industrial com 22 novos estudantes matriculados, Engenharia Eletrotécnica e das Telecomunicações com 24 novos estudantes, Engenharia das Energias Renováveis com 21 novos estudantes, Engenharia da Proteção Civil com 19 novos estudantes ou Agronomia com 34 novos estudantes, licenciatura para a qual não conseguimos disponibilizar vagas para a 3ª fase do CNA. São estudantes que ingressam nas licenciaturas ao abrigo de outros regimes e temos tido elevado sucesso nos diplomados nestas áreas, que se têm revelado excelentes quadros de empresas e instituições tanto a nível regional como nacional.
Recentemente anunciou a intenção do IPCB poder vir a construir uma nova residência para estudantes. Em que fase é que se encontra esse processo?
Temos um estudo preliminar para o projeto da nova residência de estudantes do IPCB. Estão previstas cerca de 150 camas, em quartos duplos, bem como espaços de estudo e convívio. O projeto que temos enquadra-se no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) cujo objetivo para Portugal será acrescentar mais 15 mil camas a custos controlados para estudantes deslocados do ensino superior. Aguardamos pela publicação do respetivo aviso para que possamos apresentar a manifestação de interesse do IPCB.
A questão do alojamento é uma prioridade para o politécnico?
A questão do alojamento é uma prioridade do IPCB a par de tantas outras. Sobre esta matéria é nossa intenção apresentarmos igualmente uma manifestação de interesse também no âmbito do PRR para a requalificação das residências de estudantes que necessitam de intervenção. Importa aqui sublinhar a recente disponibilização às associações de estudantes do IPCB de um espaço na Residência de Estudantes, com acesso direto da rua, e onde os estudantes poderão reunir, estudar e conviver. É um espaço disponibilizado às associações que fica sob a sua responsabilidade e onde vai funcionar uma sala de estudo aberta das 24 horas às 8 horas.
E a iniciativa privada deve ter um papel importante no aparecimento de mais espaços para alojar alunos?
Claramente. O IPCB tem cerca de 4600 estudantes - com tendência de aumento - em 2018 eram cerca de 3900 estudantes - pelo que, mesmo com a construção de uma nova residência de estudantes, a taxa de cobertura cifra-se em cerca de 10% dos estudantes. Ora, atendendo que mais de 75% dos nossos estudantes são estudantes deslocados, existe uma grande necessidade de alojamento para os estudantes e a iniciativa privada tem um papel essencial nesta matéria.
Ainda no que respeita a obras, foi também anunciada a requalificação do Campus da Talagueira, entre a ESALD e a ESART. Para quando está previsto o arranque dos trabalhos?
Os trabalhos arrancaram esta semana, segunda-feira, dia 18 de outubro. A obra estará concluída, previsivelmente, dentro de 6 meses.
Mudando de assunto. O Ministério do Ensino Superior requereu uma revisão detalhada dos novos estatutos do IPCB. Essa revisão já foi feita e enviada à tutela?
Relativamente à Informação da Secretaria-geral de Educação e Ciência, o IPCB procedeu ao envio ao Senhor Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior da correção das desconformidades circunstanciadas na Informação. Quanto à Informação da Direção-geral de Ensino Superior (DGES), o IPCB produziu uma pronúncia esclarecendo acerca das questões colocadas. Sobre esta Informação, ao Presidente do IPCB apenas tinha sido solicitado pela DGES, em 23.04.2021, a “distribuição dos ciclos de estudos acreditados e registados a ministrar por cada uma das unidades orgânicas reestruturadas”, e não sobre os cursos acreditados ou registados, que em alguns casos não poderão voltar a funcionar face à interrupção que tiveram de ingresso de novos estudantes durante mais de 3 anos consecutivos. E nada tinha sido perguntado sobre o que é expectável acerca do local de funcionamento das novas escolas e dos respetivos cursos, pelo que a resposta seguiu agora na nossa pronúncia.
Que leitura faz deste pedido do Ministério? Considera um retrocesso no plano de reestruturação que preconizou para a instituição?
Não considero, de todo, um retrocesso. Pelo contrário, considero um avanço. E uma manifestação de interesse por parte do Senhor Ministro Manuel Heitor. Os pedidos que foram efetuados são normais neste tipo de processos evolutivos. O mesmo aconteceu dentro da instituição, com vários passos, e com uma longa discussão ao longo de quase três anos.
Na visita que efetuou este ano ao IPCB, o Ministro referiu que a Quinta da Escola Superior Agrária deve constituir-se como um centro de investigação. Como encara esse desafio?
A Escola Superior Agrária tem dados provas muito concretas ao nível da investigação, com um corpo docente altamente qualificado e com produção científica muito relevante nos diferentes domínios. Também ao nível da participação em projetos de investigação, quer como entidade líder quer como copromotor, o IPCB, através dos docentes da Escola Superior Agrária, tem obtido resultados muito interessantes comparando-se com os melhores, tanto a nível nacional como internacional.
O IPCB tem, presentemente, duas Unidades de Investigação e Desenvolvimento (UID) muito ligadas às áreas da Escola Superior Agrária: o CERNAS – Centro de Estudos em Recursos Naturais, Ambiente e Sociedade e a QRural - Qualidade De Vida No Mundo Rural. O desafio de criar na Quinta Senhora de Mércules um centro de experimentação e inovação é uma ideia muito interessante, reforçando áreas, por exemplo a área do agroindustrial, trazendo novos conhecimentos, nova tecnologia, e apostando numa maior articulação com as empresas e a administração pública na área agrícola.
Nessa mesma visita foi anunciada, por si, a criação do Consórcio A23 com os politécnicos da Guarda e Tomar. Para quando a sua concretização e que papel pode vir a ter?
No âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), e concretamente em resposta ao aviso 01/PRR/2021, o IPCB, enquanto entidade promotora, e juntamente com os politécnicos da Guarda e Tomar (entidades copromotoras) apresentou uma manifestação de interesse que visa a criação de um consórcio que designámos de Rede Politécnica A23 (RP-A23) focado em duas áreas principais: a Proteção de Pessoas e Bens e as Competências Digitais. Para ambas as áreas, a nossa manifestação de interesse encontra-se focada na resposta aos dois programas previstos no aviso da candidatura: Impulso Jovem, muito focado nas áreas STEAM - ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemáticas, estando previstas novas formações ao nível de Cursos Técnicos Superiores Profissionais; Impulso Adultos mais focado em programas de pós-graduação e formações curtas direcionadas à população ativa.
O protocolo de cooperação para a criação desta rede de formação será assinado no dia 25 de outubro de 2021.
O Plano de Recuperação e Resiliência vem aí. Que prioridades tem o IPCB para poder vir a usufruir dele?
Conforme atrás referido, o IPCB tem como prioridade aproveitar ao máximo as oportunidades que vierem a estar disponíveis, com total rigor e eficácia. E estamos fortemente empenhados neste processo. Para já, aguardamos pelo resultado final da manifestação de interesse que apresentámos para a criação da Rede Politécnica A23. Quanto à requalificação das residências de estudantes e construção de uma nova residência, aguardamos pelo aviso para que possamos apresentar a nossa manifestação de interesse.
Acresce a disponibilidade da instituição para participar em outras candidaturas enquanto entidade parceira no âmbito de avisos do PRR e agendas mobilizadoras não exclusivamente destinados a IES. O PRR é uma oportunidade para os politécnicos se afirmarem ainda mais junto dos territórios onde atuam, com produção e difusão de conhecimento na sociedade, investigação e inovação, e formação humanística, cultural, artística, tecnológica e científica dos seus estudantes e da sociedade.