O Instituto Politécnico de Castelo Branco está a assinalar 40 anos de vida. António Fernandes, o seu presidente, destaca a importância da instituição, faz um balanço positivo da entrada de novos alunos no IPCB e aborda o futuro. Em entrevista, respondida por escrito, fala da reorganização do politécnico e da recuperação financeira da instituição.
Como avalia o percurso destes 40 anos do IPCB na região e no país?
O IPCB é uma referência incontornável, rigorosa e interventiva, no desenvolvimento da região, e do país. Comemorar os 40 anos do IPCB é comemorar o seu percurso e reconhecer a importância histórica da sua criação e, com a mais elementar justiça, é sublinhar a trajetória positiva do seu desenvolvimento bem como os contributos especialmente significativos decorrentes da sua existência e afirmação.
A melhoria do nível de qualificação da sociedade; a intensificação da investigação científica e do nível tecnológico da economia regional com reflexos na inovação empresarial e no reforço da empregabilidade em sectores especializados; a capacidade de promoção da equidade social, conseguida com a oportunidade de acesso à qualificação dada a tantos jovens, a recente consolidação do percurso de internacionalização, onde se atingiu, nos dois últimos anos letivos; a capacidade máxima de acomodação de estudantes internacionais; a consolidação interna na organização dos processos e no cumprimento dos procedimentos regulamentares, são, entre outros, exemplos marcantes que conferem ao IPCB capacidade para assumir um papel vital e determinante enquanto agente construtor do desenvolvimento social e económico sustentável, que se somam à sua atividade formativa, científica, tecnológica, investigativa e cultural.
Qual o balanço que faz da colocação de novos alunos no IPCB, tendo em conta as várias formas de entrada?
Faço um balanço muito positivo. Concluídas a 1ª e 2ª fase do Concurso Nacional de Acesso (CNA) ao ensino superior para o ano letivo de 2020/21, foram colocados no IPCB nos cursos de licenciatura 774 novos estudantes. É importante sublinhar a tendência crescente do número de estudantes colocados no IPCB ano após ano. O aumento de 2020 face a 2019 foi praticamente o dobro do aumento de 2019 face a 2018. A somar a estes estudantes há que contabilizar mais 63 estudantes colocados no âmbito do concurso local da ESART e cerca de 350 estudantes colocados através de outros regimes, onde se incluem 291 novos estudantes internacionais que já formalizaram a matricula. No total, e para as licenciaturas, o IPCB tem mais de 1200 novos estudantes.
Relativamente às outras ofertas formativas, matricularam-se no presente ano 189 novos estudantes nos Cursos Técnicos Superiores Profissionais (CTeSP), distribuídos por 11 CTeSP. Nas Pós-graduações e Mestrados já temos 261 novos estudantes matriculados. Aguardamos pelos resultados da segunda fase tanto para as candidaturas dos CTeSP como dos mestrados.
Temos ainda pós-graduações na modalidade de ensino a distância na área de Sistemas de Informação Geográfica, Recursos Agroflorestais e Ambientais, de Ciências Florestais e de Gestão de Negócios com um total de 140 estudantes.
A estes números acrescem 16 estudantes do Instituto Politécnico de Macau que chegaram ao IPCB para frequentar connosco todo o ano letivo 2020/21, ao abrigo de um protocolo de cooperação entre as duas instituições.
Considerando todas as ofertas formativas, estimamos para este ano letivo muito perto de 2000 novos estudantes.
No concurso nacional de acesso houve alguns cursos que tiveram dificuldade em acolher novos alunos, sobretudo na área das engenharias. Pelas outras vias ficou garantido o funcionamento desses cursos?
Todas as licenciaturas do IPCB têm alunos colocados por outros regimes de ingresso (M23, titulares de Cursos Técnicos Superiores Profissionais, titulares dos cursos de dupla certificação do ensino secundário e cursos artísticos especializados, estudantes internacionais), estando assegurado o funcionamento de todas essas licenciaturas e a grande maioria terá as vagas totalmente ocupadas. É importante sublinhar a opção que os estudantes estão a fazer no que se refere à escolha de outros regimes de ingresso que não o CNA. No IPCB cerca de metade dos estudantes que ingressam nas licenciaturas estão a fazê-lo por via desses outros regimes. E não há qualquer problema com este aspeto. Temos imensos casos de elevado sucesso de diplomados do IPCB que são excelentes quadros de empresas e instituições tanto a nível regional como nacional.
Este ano letivo inicia-se num período em que o país e o mundo estão a conviver com a pandemia. De que forma se está a processar o novo ano letivo no IPCB? O ensino presencial é a prioridade?
O ensino presencial é prioridade. No quadro da crise sanitária que atravessamos, o IPCB demonstrou capacidade na adaptação e transformação digital que permitiu, com sucesso, o funcionamento da sua atividade nas diferentes valências.
Mas, mais importante, demonstrámos uma grande capacidade no regresso, desejado, ao modelo de ensino presencial, adotando medidas amplamente divulgadas, compreendidas e cumpridas por toda a comunidade.
Em cada escola superior do IPCB foram elaborados planos para o funcionamento do ano letivo 2020/21 no cumprimento das recomendações às Instituições Científicas e de Ensino Superior para a preparação do ano letivo 2020/2021 recebidas do Gabinete do Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior bem como as orientações para atividades letivas e não letivas nas Instituições Científicas e de Ensino Superior elaboradas pela Direção Geral de Saúde (DGS) no contexto da pandemia COVID-19.
Está garantida a presença dos docentes nas Escolas assegurando que em caso de fundamentada necessidade de desdobramento em regime de ensino a distância de algumas das atividades letivas, por impossibilidade de acomodação de todos os estudantes pertencentes a uma determinada turma nas condições de segurança definidas nas orientações da Direção-Geral da Saúde, devem as mesmas ser ministradas nas instalações das Escolas, com soluções apoiadas por tecnologias digitais a distância, mas sempre na presença de estudantes em número máximo adequado às condições de segurança referidas, havendo rotatividade dos estudantes em contexto presencial.
Uma das questões que tem estado na agenda do IPCB é a sua reorganização, já aprovada em Conselho Geral. Qual é o próximo passo?
A proposta de reestruturação organizacional do IPCB foi aprovada pelo Conselho Geral na reunião realizada no dia 08 de julho de 2020, com 18 votos favoráveis. Posteriormente, na reunião do Conselho Geral realizada no dia 09 de setembro, foi aprovada a constituição da comissão estatutária para a elaboração nos novos estatutos do IPCB que tem trabalhado afincadamente nesse processo.
Esta reorganização que ganhos vai garantir ao IPCB?
Como já tive oportunidade de referir anteriormente, com a proposta de reestruturação organizacional foram identificados aspetos internos relacionados com o funcionamento da Instituição suscetíveis de alteração com consequente melhoria dos níveis de eficiência e eficácia organizacional, garantindo a articulação, transversalidade e complementaridade entre áreas do conhecimento e a otimização de recursos. Pretende-se, fundamentalmente, que a reestruturação organizacional permita:
Tudo indica que a reestruturação organizacional do IPCB promova a conceção e o desenvolvimento de novas ofertas formativas alinhadas com as novas Escolas e que respondam às atuais necessidades da sociedade. Dos novos arranjos são esperados ganhos de atratividade pela especificidade e natureza inovadora dessas formações. Reforçar a ligação ao tecido empresarial e institucional mantém-se como uma importante orientação estratégica, sendo essencial apostar em iniciativas conjuntas geradoras de especialização tanto no contexto do ensino e investigação como da prestação de serviços que melhorem a dinâmica de atração, captação e fixação de jovens e técnicos qualificados na região.
Pretende-se, acima de tudo, aproveitar o efeito sinergético resultante da associação de áreas afins presentemente afastadas, com melhoria ao nível da formulação de novas propostas de formação e ganhos de atratividade. Por outro lado, maior dimensão (escala) em cada departamento, e consequentemente em cada uma das novas Escolas, permite definir estratégias próprias e capacitar a Instituição para o futuro, reforçando a sua afirmação no panorama nacional e internacional, e fazendo o seu próprio caminho.
Em Idanha-a-Nova, onde atualmente está a sede da ESG, o IPCB vai continuar presente? De que forma?
O IPCB tem estado presente em Idanha com o funcionamento de Licenciaturas, Cursos Técnicos Superiores Profissionais (CTeSP) e Mestrados e, consequentemente, com estudantes, professores e pessoal não docente, e continuará a ter essa atividade em resposta à procura. O importante é ter bons projetos, que sejam inovadores, tanto na dimensão qualificação como na dimensão investigação, e a Instituição ter capacidade para responder às alterações de contexto. O IPCB deve ser encarado como uma instituição virada para a região cujo sucesso todos desejamos. A concretização da ambição de o IPCB continuar a ter um papel incontornável, rigoroso e interventivo no desenvolvimento da região, obriga à mobilização coletiva sendo uma responsabilidade onde ninguém fica de fora e onde todos devem ser capazes de unir recursos, vontades e ambições. É desta responsabilidade coletiva que se concretizam os melhores resultados.
Qual a data previsível para o processo da reorganização estar completo?
A comissão estatutária tem o trabalho praticamente concluído com uma proposta de novos estatutos alinhada com a proposta de reestruturação organizacional do IPCB aprovada.
Em breve, os novos estatutos do IPCB serão discutidos no Conselho Geral. Depois de aprovados, serão enviados ao Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior para homologação.
Mudando um pouco de assunto, um dos desejos das instituições de ensino superior politécnico é, pelo menos em termos internacionais, a mudança de nome para universidades de ciências aplicadas. Esse também é um desejo do IPCB?
Há, de facto, um movimento que presentemente está a ser liderado pelos presidentes dos Conselhos Gerais dos Institutos Politécnicos no sentido de vir a ser possível a utilização pelos Politécnicos da designação de university of applied sciences, ou equivalente, nos documentos oficiais em língua inglesa, e o IPCB acompanha esta proposta.
Na oferta formativa, a questão dos doutoramentos continua a ser defendida pelos politécnicos. A concretizar-se esta possibilidade, o IPCB poderá avançar nestas pós-graduações em parcerias com outras instituições? e em que áreas?
Os doutoramentos ao deixarem de estar dependentes do subsistema a que pertence a Instituição de Ensino Superior (IES) passam a depender de um conjunto de critérios objetivos que são iguais para universidades e politécnicos. Um dos critérios é as IES demonstrarem que produzem ciência na área em que querem abrir essa formação e as unidades de investigação associadas têm que ter a classificação mínima de Muito Bom na avaliação da Fundação para a Ciência e Tecnologia. É um trabalho exigente que tem que ser feito, mas que demora o seu tempo. A organização em consórcios, trabalhando em rede e aproveitando o que existe de melhor em cada instituição de ensino superior parece-me uma boa opção.
Uma das primeiras prioridades do seu mandato era equilibrar financeiramente a instituição. Já existem resultados?
Desde o início do meu mandato que decidimos pela adoção de um modelo de governação e gestão assente em critérios objetivos, transparentes e bem comunicados à comunidade. Juntamente com os diretores das Escolas, definimos critérios para as renovações de contrato e novas contratações e melhorámos a coordenação de horários e turmas visando a melhoraria dos níveis de eficiência. Por outro lado, decidimos avançar com algumas medidas gestionárias relacionadas com as formações colocadas anualmente em funcionamento, designadamente a seleção dos Cursos Técnicos Superiores Profissionais (CTeSP).
O equilíbrio financeiro do IPCB, conseguido no ano em que celebra o seu 40º aniversário, é motivo de orgulho para uma instituição que pediu, ano após ano, um reforço orçamental correspondente ao seu défice anual, e que ascendeu a valores superiores a um milhão e meio de euros por ano. Em 2020 essa angústia não existe.