A Universidade de Évora (UÉ), no âmbito do seu programa de Saúde Mental - Vagar(mente), está a desenvolver o Projeto “Patém Calma”. Na prática são utilizados cães para combater a ansiedade, num modelo inovador.

De acordo com a academia, as primeiras sessões de interação com cães terapêuticos para diminuição da ansiedade dos estudantes em época de exames académicos já se realizaram. "A saúde mental é um dos aspetos centrais do Plano Estratégico 2023/2026 da Universidade de Évora, sendo uma preocupação constante da instituição melhorar o bem-estar de toda a comunidade académica, com especial destaque para os estudantes, através da prevenção, promoção de fatores protetores, sinalização precoce e apoio psicológico", explica a UÉ.

Citada na nota enviada ao Ensino Magazine, Sara Bastos, especialista em intervenções assistidas por animais, área na qual trabalha há mais de 10 anos,  explica que "o projeto foi concebido tendo como base os princípios do One Health e a articulação entre o bem-estar humano e animal, refletindo também a abordagem interdisciplinar do Mestrado em Políticas Públicas”.

O projeto é mais uma das iniciativas desenvolvidas por Sara Bastos, que neste momento frequenta o mestrado em Políticas Públicas e Projetos, na Universidade de Évora "Ao longo da sua carreira, Sara Bastos tem desenvolvido projetos inovadores que integram o bem-estar animal com os princípios de One Health, promovendo a saúde e o equilíbrio entre humanos e animais. Com uma formação especializada em comportamento animal, Sara também participou e liderou projetos relacionados com esta área, sempre com o propósito de melhorar a relação entre animais e pessoas", revela a universidade.

“As intervenções consistem em sessões presenciais com a duração de uma hora, durante as quais os estudantes interagem com cães treinados para promover o bem-estar emocional. Estas sessões são realizadas antes de momentos críticos, como exames, e têm como objetivo imediato a redução do stress e da ansiedade, proporcionando aos estudantes um ambiente emocional mais equilibrado”. Para além das sessões individuais, “está ainda planeada a implementação de sessões de grupo, desenhadas para capacitar os estudantes com ferramentas práticas que lhes permitam lidar de forma mais eficaz com o stress académico, através do contacto com os cães. Esta abordagem visa não só apoiar os estudantes a curto prazo, mas também dotá-los de estratégias úteis para enfrentar futuros desafios”, explica Sara Bastos.

De acordo com aquela investigadora, os objetivos delineados para o projeto “Patém Calma” incluem “a redução de níveis de ansiedade e stress nos estudantes, especialmente em momentos de avaliação; a promoção de saúde integrada (One Health), destacando os benefícios mútuos das interações entre humanos e animais para o bem-estar emocional e mental; e ainda a capacitação dos estudantes universitários, particularmente os do primeiro ano, com conhecimentos práticos e teóricos sobre o papel dos animais na promoção da saúde humana, fomentando a consciencialização para este tema”. 

Para já os dados recolhidos, através de questionários, antes e após as sessões que “demonstram uma redução significativa nos níveis de ansiedade dos participantes”. Refere ainda que “o feedback qualitativo reforça a aceitação e o impacto positivo do projeto, evidenciando a sua relevância e potencial para ser replicado em outras instituições. Estes resultados sublinham a necessidade de apoio financeiro e institucional contínuo para a sustentabilidade e expansão do projeto”, diz.

Na mesma nota, Miguel Rolo, estudante de mestrado em Psicologia da Educação na Universidade de Évora, que integrou este projeto como parte de uma proposta de estágio curricular na área de investigação científica e aplicação de conhecimentos em Psicologia da Educação, classifica a "experiência como extremamente enriquecedora. Trata-se de um projeto inovador que utiliza técnicas de atividades assistidas por animais para promover o bem-estar dos alunos, tanto físico como mental. O carácter pioneiro do projeto proporciona uma aprendizagem constante, desde a coordenação destas atividades até à compreensão de como podem ser aplicadas na área da Psicologia. Esta oportunidade tem sido fundamental para transferir o conhecimento académico para um contexto prático, permitindo-me observar e participar no impacto direto dessas intervenções”.

Miguel Rolo tem verificado um notório impacto positivo desta interação entre humanos e animais. Assim, considera que “os dados provisórios do projeto Pátem Calma indicam que a interação direta com os cães - através de atividades como dar festas, escovar, ensinar truques e oferecer guloseimas – reduz significativamente a ansiedade dos alunos antes dos exames. Além disso, os alunos relatam melhorias na sua perceção de si mesmos e nas suas capacidades”, destaca.

João Nabais, vice-reitor das Infraestruturas e das Políticas para a Vida na Universidade de Évora, citado na mesma nota, recorda que “quando a Sara Bastos nos apresentou este projeto inovador houve desde logo a perceção de que esta intervenção seria uma mais valia para os estudantes e para a promoção do seu bem-estar e diminuição da ansiedade. Pouco depois foi publicado o aviso para candidaturas ao programa de promoção da saúde mental no Ensino Superior e na construção do projeto Vagar(Mente) foi decidido pela equipa inserir esta intervenção como uma atividade. O Vagar(Mente) foi avaliado positivamente e teve financiamento para a sua execução".

Aquele responsável sublinhou no encontro promovido pelo Ministro da  Educação, Ciência e Inovação, nos dias 23 e 24 de outubro, Universidade de Coimbra, foi visível que “a intervenção com os cães terapêuticos era uma atividade exclusivamente realizada na UÉvora e que despertou o interesse geral dos participantes no Encontro. É uma atividade inovadora e mostra a nossa capacidade de pensar diferente, em abordagens menos convencionais e que permitem potenciar a promoção do bem-estar”.

No âmbito deste projeto transversal irão decorrer futuras sessões com vista à melhoria do bem-estar emocional dos estudantes, permitindo-lhes enfrentar os desafios académicos com maior tranquilidade e equilíbrio, uma atividade que reforça a aposta da Universidade de Évora na promoção da ligação entre ciência, saúde e sociedade.