Milene Gil, investigadora do Laboratório HERCULES da Universidade de Évora (UÉ) está a coordenar um estudo científico sobre a arte da Pintura Mural de Almada Negreiros.
A equipa coordenada pela docente da Universidade de Évora procura dar resposta a questões como: Em que aspetos este artista multidisciplinar português foi inovador? Quais foram as suas fontes e tendências no desenvolvimento da sua prática como pintor muralista?
Segundo nota enviada ao Ensino Magazine, a equipa, liderada pela investigadora da UÉ, espera identificar e caracterizar as técnicas pictóricas e os materiais constituintes do suporte e das camadas cromáticas até hoje desconhecidos bem como apurar as suas implicações nos fenómenos de deterioração registados para a sua futura salvaguarda e manutenção.
Diz a UÉ que “os resultados gerados ao longo dos três anos de duração deste projeto, e a sua disseminação a nível nacional e internacional, “constituirão um importante passo em frente no conhecimento, valorização e conservação da arte mural de Almada Negreiros e rampa de soluções inovadoras para a sua usufruição” destaca por fim a investigadora”.
Com financiamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, este projeto, de natureza pluridisciplinar, nasce da parceria entre o Laboratório HERCULES da UÉ, o Laboratório José de Figueiredo da Direção Geral do Património Cultural, o Instituto de História de Arte da faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e Administração do Porto de Lisboa.
José Sobral de Almada Negreiros, é considerado uma das figuras-chave da vanguarda e modernismo em Portugal. Desde a sua primeira exposição colectiva em 1911, passando pela sua intervenção futurista em 1916-1918, marcou o panorama artístico e cultural através de uma carreira multifacetada de quase sessenta anos em Portugal e em Espanha. De 1919 a 1920, Almada Negreiros viveu em Paris e de 1927 a 1932 em Madrid, onde se estabeleceu como artista e fez parte das principais tertúlias, colaborando em projectos com vários outros autores da cena cultural madrilena. Já regressado a Portugal, assistiu à emergência do Estado Novo (1933-1974), no contexto no qual trabalhou em várias encomendas, públicas e privadas.
A maioria das pinturas murais que executou para encomendas públicas foram integradas em projetos de arquitectura da autoria do arquitecto Porfírio Pardal Monteiro. A vasta obra mural de Almada Negreiros inclui cinco núcleos de pintura realizados na cidade de Lisboa entre 1938 e 1956. Entre os mais conhecidos encontram-se os cinco painéis da antiga sede do Diário de Notícias (1939-40), os oito painéis monumentais da sala de espera da Gare Marítima de Alcântara (1943-45) e outros seis análogos na Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos (1946-49).
Citada na mesma nota, Milene Gil explica que “todas as suas pinturas murais estão catalogadas como frescos mas esta poderá não ter sido a única técnica pictórica realizada”. A investigadora sugere que “os materiais empregados e o modus operandi de Almada Negreiros são praticamente desconhecidos”, acrescentando que, “Almada era conhecedor da técnica do fresco, mas também era um experimentalista.”