Num mundo cada vez mais interligado, a educação em direitos humanos emerge como uma ferramenta essencial para fomentar a tolerância, a solidariedade e a paz. Reconhecendo esta necessidade, um grupo de docentes do Instituto Tecnológico e Profissional da Figueira da Foz (INTEP) deu início a um projeto transversalmente multidisciplinar e, por isso, arrojado, com o objetivo de integrar os direitos humanos no cerne da sua missão educativa. Este artigo explora as motivações, as estratégias e os impactos desse projeto transformador, oferecendo perspetivas valiosas para educadores, alunos e para a comunidade educativa em geral, destacando o seu papel capital na formação de uma nova geração de líderes conscientes, comprometidos com a defesa dos direitos humanos e com a promoção da paz e da justiça em todo o mundo.
Desta feita, este projeto não é apenas uma resposta às crescentes manifestações de preconceito e discriminação que permeiam a sociedade, mas sim uma afirmação proativa do compromisso desta escola em moldar os cidadãos do futuro. Compreende- se que a educação vai muito além da mera transmissão de conhecimentos académicos; ela é, essencialmente, um instrumento de transformação social e de construção de um mundo mais justo e humano.

O Despertar da Consciência:
O Início do Projeto
O projeto “Geração 100% Tolerante” nasceu da observação de um aumento preocupante de discursos de ódio, discriminação e violência no contexto social que envolve os estudantes desta comunidade local. Nasceu, também, da convicção de que os direitos humanos devem ser não apenas ensinados, mas incorporados e vivenciados no contexto escolar. A integração desses valores nos diversos aspetos do currículo escolar reflete a compreensão de que a educação é o alicerce sobre o qual se constrói uma sociedade mais inclusiva e compassiva.
Assim, conscientes do papel fundamental da educação na formação de cidadãos responsáveis e empáticos, este grupo de docentes decidiu intervir. O projeto “Geração 100% Tolerante” surge com a visão de integrar os princípios dos direitos humanos em todas as áreas do currículo escolar.

Estratégias e Atividades
O projeto adotou uma abordagem multidisciplinar, envolvendo não só a disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, mas também as de literatura e ciências, para explorar os direitos humanos de forma abrangente. Seguem-se algumas das estratégias adotadas:
1) Currículo Integrado: desenvolvimento de unidades temáticas que abordam os direitos humanos de forma transversal, incentivando os alunos a fazer liames entre os conhecimentos adquiridos em sala de aula e o mundo real. Neste âmbito, os alunos elaboraram trabalhos/apresentações orais, relacionando conteúdos dos curricula a problemas (locais ou mundiais) de foro social.
2) Projetos de Ação Comunitária: os alunos são incitados a identificar questões relacionadas com os direitos humanos nas suas comunidades e a desenvolver projetos que promovam mudanças positivas, aplicando o conhecimento adquirido de forma prática e impactante. Aqui, os alunos promoveram ações de beneficiência a lares de idosos, orfanatos e outras entidades carenciadas.
3) Diálogos e Debates: organização de fóruns de discussão com convidados externos habilitados em direitos humanos, proporcionando aos alunos uma compreensão mais profunda e empática sobre violações a determinados direitos. Para além de palestras organizadas, todas as semanas eram apresentadas sugestões de livros e filmes, com as respetivas sinopses, cujo tema central abordava os direitos humanos, dando mote ao diálogo e à reflexão.
4) Arte e Expressão: Utilização de ferramentas artísticas como música e artes visuais para explorar e expressar temas de direitos humanos, permitindo uma expressão emocional e reflexiva por parte dos alunos. Aqui, destaca-se o concurso artístico “O Lápis Recorda, a Consciência Acorda”, que contou com a parceria da Câmara Municipal da Figueira da Foz, cujos produtos elaborados pelos alunos foram alvo de escrutínio, donde se elegeu um primeiro prémio para a pintura mais votada. Todas as obras de arte empreendidas pelos alunos foram expostas na escola. Destaca-se, também, a participação no concurso nacional no âmbito do “Dia Europeu de Combate ao Tráfico de Seres Humanos”, através de uma fotorreportagem elaborada pelos alunos.

Impactos e Resultados
O impacto do projeto na comunidade escolar foi profundo. Os alunos manifestaram-se mais conscientes dos direitos humanos e das responsabilidades associadas à cidadania global. Os diversos relatos de aumento na empatia, respeito pelas diferenças e envolvimento com questões sociais são testemunhos do sucesso do projeto.
Além disso, este projeto gerou uma onda de iniciativas lideradas por alunos, incluindo campanhas de sensibilização, angariação de produtos/bens essenciais para causas de direitos humanos e parcerias com organizações locais (associações ligadas à caridade e aos animais, são exemplo disso). Esta abordagem ativa e prática reforçou a mensagem de que cada indivíduo tem o poder de fazer a diferença.

Conclusão
O nosso projeto “Geração 100% Tolerante” demonstra o poder transformador da educação quando dirigida para a construção de uma sociedade mais justa e compassiva. Ao integrar os direitos humanos no currículo escolar, não só educamos os jovens para os seus direitos e responsabilidades, mas também os empoderamos a serem agentes de mudança nas suas comunidades e no mundo.
Acreditamos que a experiência desta escola, do INTEP, serve como modelo inspirador para instituições de ensino de todo o globo, reafirmando a importância de cultivar uma consciência global nos líderes de amanhã. Ainda, o facto de a direção escolar apoiar projetos de cidadania desta natureza traduziu-se num contributo importante para o desenvolvimento de competências e valores fundamentais nos jovens desta comunidade. A educação para os direitos humanos é, sem dúvida, um caminho promissor para a construção de um futuro mais promissor para todos.