O novo líder dos reitores das universidades antecipa “muitos desafios” no seu mandato, que começa mergulhado na “incerteza política” do país, mas tem a certeza de querer combater o subfinanciamento das instituições e o abandono escolar.
O reitor da Universidade de Aveiro, Paulo Jorge Ferreira, foi eleito, este mês, pelos seus pares como presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) e, em entrevista à agência Lusa, reconheceu que terá “muitos desafios” nos três anos do mandato.
A “incerteza do futuro” num país que vai novamente a eleições dentro de quatro meses é um dos desafios, mas o professor catedrático de 61 anos garante que a situação política não o “angustia nada”, garantindo estar preparado “para trabalhar com o Governo, seja ele qual for”.
A necessidade de aumentar o financiamento das Instituições de Ensino Superior (IES) será um dos principais assuntos a abordar, um tema que coloca “todos os reitores e universidades de acordo”, sublinhou Paulo Jorge Ferreira.
“Os níveis de financiamento [por estudante] do Ensino Superior em Portugal estão muitíssimo abaixo” dos da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), lamentou, baseando-se em dados recentes que indicam que em Portugal “faltam seis mil dólares por estudante em relação à media da OCDE”, segundo contas feitas utilizando a paridade do poder de compra (PPC).
Tendo Portugal cerca de 223 mil pessoas a estudar no ensino superior, a diferença são “cerca de 1,3 mil milhões de dólares (1,19 mil milhões de euros) em PPC e isso não é uma insignificância”, alertou.
Para o reitor da Universidade de Aveiro, esta diferença representa um obstáculo ao desenvolvimento de políticas em várias áreas, que vão desde o combate à precariedade dos professores e investigadores até à requalificação de edifícios, infraestruturas, equipamentos e laboratórios considerados obsoletos.
A proposta de Orçamento do Estado para 2024 (OE2024) prevê um aumento de verbas para o ensino superior na ordem dos 10%, um crescimento que Paulo Jorge Ferreira saúda, mas entende que “ainda falta um caminho enorme”.
A tudo isto soma-se ainda o desafio demográfico, num país cada vez mais envelhecido e com menos jovens. Com menos alunos, é preciso garantir que os que chegam ao ensino superior não desistem, alertou.
Nesse sentido, o novo presidente do CRUP quer sistemas da Ação Social que garantam apoios aos estudantes mais carenciados para que consigam completar a sua formação.
“A pior coisa que se pode fazer a um investimento é, depois de começar, deitá-lo fora”, alertou, defendendo o reforço e autonomização da ação social.
No mesmo sentido, é preciso garantir que existe alojamento a preços acessíveis para os estudantes, para que estes não abandonem os estudos ou deixem de se candidatar por falta de condições financeiras.
“O alojamento é uma das principais faturas quando se tem alguém a estudar no ensino superior e se não tivermos preços acessíveis temos um problema”, alertou, defendendo políticas adaptadas às realidades de cada região e de cada IES.
“Temos de pensar nas outras situações [que contribuem] para que alunos concluam com sucesso, como é o caso da saúde mental, da inovação pedagógica ou dos métodos de ensino”, acrescentou o novo líder do CRUP, que representa as 14 universidades públicas, além da Universidade Católica Portuguesa e do Instituto Universitário Militar.