Vimos assistindo nos últimos anos a uma série de biopics sobre nomes maiores da cena musical iniciada em 2018 com Bohemian Rhapsody, de Bryan Singer. Um retrato de Freddie Mercury e, por arrasto, dos Queen, a banda de que era vocalista e figura de indiscutível destaque.
Aproveitando a onda, em Variações (2019), João Maia dirige Sérgio Praia que interpreta António Variações, cantor e compositor português dos anos de 1970/80, um autodidata que, com um misto de excentricidade e ruralismo mexeu com o panorama musical na época, num país, ainda a viver a ressaca da Revolução, onde os sonhos não eram fáceis de realizar.
Elvis (2022), de Baz Luhrmann, a que dedicámos este espaço, foi outra biografia que passou nas salas com assinalável êxito, a que se seguiu, em 2024, a homenagem cinematográfica a Bob Marley, figura incontornável do reggae e da Jamaica, em Bob Marley: One Love, realizado por Reinaldo Marcus Green, não envergonha, mas não está à altura duma figura com a grandeza e a espiritualidade, rastafari, do jamaicano.
Mais recentemente coube a Bob Dylan assistir à sua magnífica recriação por Timothée Chalamet em A Complete Unknown (2024), estreado em Portugal em Janeiro deste ano e dirigido por James Mangold, que passa em revista a chegada do jovem músico a Nova Iorque, os seus sonhos e ambições e as ligações que criou e o apoio de nomes maiores da folk, casos de Woody Guthrie e Pete Seeger, mas também com Joan Baez que seriam fundamentais para o seu crescimento como músico até hoje, com um Prémio Nobel da Literatura pelo meio.
Mas não é de biopics que, além destes os houve, e bons, que queremos falar, já nos alongámos que chegue, mas de um documentário sobre uma banda que, tal como Bob Dylan fez com o folk e tudo o que inovou a seguir, marcou o final dos anos 60 e a década de 1970 do século passado com um rock que tinha tanto de renovador como de surpreendente: os Led Zepplin.
Pois é. Estreou este mês em Portugal Led Zeppelin - O Nascimento da Lenda (Becoming Led Zeppelin, 2025), realizado Bernard MacMahon, conhecido, com a produtora e realizadora Allison McGourty por American Epic (2015-2017), uma série documental de quatro episódios sobre as primeiras gravações de música rural nos EUA na década de 1920 e o seu impacto cultural, social e tecnológico no mundo. Robert Redford chamou o projeto de “a maior história não contada da América”, da qual foi narrador e cujo filme estreia, no Festival de Cinema de Sundance, frequentemente referido como um dos melhores documentários musicais já feitos, onde se podem ouvir Willie Nelson, Jack White, Taj Mahal e muitos outros.
Este documentário, o primeiro documentário oficialmente autorizado pelos membros ainda vivos dos Led Zeppelin, Robert Plant, John Paul Jones e Jimmy Page, explora as origens dos Led Zeppelin e a sua ascensão meteórica que, contra todas as probabilidades, a icónica banda conseguiu atingir em apenas um ano. Um filme que enfrentou muitos dificuldades de produção, face aos enormes desafios que o realizador e co-argumentista Allison McGourty tiveram de enfrentar, como a escassez de filmagens do período inicial da banda, ma que, depois de alguma resistência inicial, conta com testemunhos dos seus membros, impulsionados por imagens psicadélicas inéditas e impressionantes atuações. Esta odisseia cinematográfica imersiva mergulha na história dos Led Zepplin para revelar uma quantidade de imagens raras e nunca vistas. Conta não só com imagens de arquivo inéditas, para além testemunhos referidos dos próprios Led Zeppelin, com uma entrevista antiga ao falecido baterista John Bonham.
Vencidas algumas dificuldades e depois de anos de pesquisa e da descoberta de imagens de arquivo faltava obter a autorização dos membros da banda que nunca aceitaram um documentário formal sobre os Led Zeppelin, vencida esta dificuldade e com o acrescento da tal entrevista de John Bonham, o projecto foi por diante o resultado aí está: um documentário clássico, em que através dos depoimentos ficamos a conhecer o percurso de sucesso dos membros da banda e a respetiva ligação à música, como músicos de estúdio, Page e Jones, ou a insistência de Plant perante oposição familiar, até à formação de um dos grupos mais icónicos da cena rock e que de forma indelével marcaram a história do género, autênticos pioneiros que que conhecemos como hard rock.
Não podemos esquecer que em 1976, os Led Zeppelin protagonizaram The Song Remains the Same, um filme realizado por Peter Clifton e Joe Massot, que documenta o seu magistral concerto no Madison Square Garden, em New York em 1973, mas não só, há também imagens dos membros da banda em cenas do quotidiano, como no documentário de MacMahon. Mas, no essencial é um filme sobre um concerto e que concerto. Tenho o vinil da banda sonora, o que já não é pouco.
Até à próxima e bons filmes!