O cinema experimental, cinema de vanguarda ou avant-garde, principalmente a Avant-Garde francesa, dos anos 20 e 30, do século passado, corrente que acolheu realizadores como Jean Epstein, Louis Delluc, Jean Vigo ou Abel Gance, é caracterizado pela procura por inovação e pela rejeição de convenções narrativas e estilísticas do cinema mainstream, mas inclui autores que não se revêm nesse termo, casos de Man Ray ou Marcel Duchamp, que alinham no chamado Cinema Puro, que combina autores de correntes muito diversas como o cubismo, o abstracionismo e o dadaísmo, entre outros, ou os autores que se reveem no Cinema Absoluto, não muito diferente do Cinema Puro, onde podemos encontrar autores como Walter Ruttmann ou Hans Richter.
Nesta ótica o cinema experimental frequentemente explora a forma cinematográfica em si, utilizando técnicas como a montagem não-linear, a sobreposição de imagens e a manipulação do tempo e do espaço, a abstração, evitando narrativas claras e personagens definidos, focando-se em imagens e sons abstratos que evocam emoções ou estados de espírito do espetador.
Outra corrente importante é o cinema underground americano, um cinema formalmente audacioso que aborda temas tabu, onde se incluem a sexualidade, de forma explícita e sem censura, drogas ou mesmo a política. Filmes como os de Jonas Mekas ou Maya Deren, conhecida por se centrar na expressão corporal e o modo como esta se articula com a câmara, através de imagens surrealistas e montagem inovadora, combinando poesia, cinema e dança; Stan Brakhage, conhecido por obras que exploram a perceção visual e a experiência sensorial, utilizando uma multiplicidade de técnicas inventivas e criativas, como a colagem, a pintura, trabalhando sobre a própria película ou Kenneth Anger, que incutiu nos seus filmes uma marca pessoal, abordando temas como o erotismo, a homossexualidade, o ocultismo e o esoterismo.
O cinema experimental, tal como o cinema underground despontaram no século XX, como desafio às convenções do cinema comercial e explorando novas possibilidades artísticas e narrativas, de que Andy Warhol, como interveniente ativo no cinema expandido, com filmes comprometidos quer com o cinema experimental quer com o underground, é figura de topo.
Mentor, desde 1963, da Factory, verdadeira fábrica de arte e de boémia, ao contrário de outros artistas plásticos, Andy Warhol não foi buscar à sua obra elementos inovadores para os seus filmes, mas outrossim, pretendeu cortar com os filmes narrativos, criando obras provocatórias, quer nos temas, em que a componente sexual, de cariz homossexual, que é transversal nos seus filmes, abrindo, todavia, caminho para outros cineastas, nomeadamente Paul Morrissey que corealizou filmes de Warhol como I, a man (1967) e Lonesome Cowboys (1968). Neste, apesar de não aparecer como realizador, é-o de facto e a partir daí liberta-se do seu mentor e avança para a realização onde se destaca a célebre trilogia, onde Warhol não figura na ficha técnica, mas que sabemos, está lá, Flesh (1968), Trash (1970) e Heat (1972), todos com o Brandoesco Joe Dallesandro, que como escreve Gene Youngblood na sua obra seminal de 1970, Expanded Cinema, “é virtualmente a encarnação do homem polimorfo-perverso tal como Morrissey o interpreta: o arquétipo do corpo erótico, respondendo aos prazeres da carne sem ideais ou violência num universo pansexual.”, ou o não menos inovador na sua adaptação de Bram Stoker, Sangue Virgem para Drácula (1974), também com Dallesandro, mas com concorrência de peso, no caso Udo Kier e o próprio Vttorio De Sicca!
Ora foi este colaborador de Andy Warhol, que nos deixou no passado 28 de Outubro e que apesar de ser voz corrente que a presença e o nome de Warhol eram pouco mais que comercialmente simbólicos, como Morrissey confirmou, os dois ficarão indissociavelmente ligados no cinema, tanto mais que depois da morte do primeiro, continuou a realizar, apesar da sombra.
Até à próxima e bons filmes!
Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico