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Bocas do Galinheiro Marcello Mio

21-10-2024

Marcello Mastroianni, falecido em Paris a 19 de dezembro de 1996, teria feito este ano 100 anos em 28 de Setembro, dia em que nasceu em Fontana Liri, em Itália. Centenário que foi alvo de homenagens, não só no seu país natal, mas um pouco por todo o mundo. E não seria para menos.
Evocar a memória de Mastroianni é fácil. Difícil será escolher de entre os filmes que protagonizou, aqueles que levaríamos para a tal ilha deserta. Repudiava o epíteto de latin lover, respondia que era um homem comum, o que poderíamos contrariar lembrando alguns dos papéis mais famosos, bem como os relacionamento que foi tendo fora da tela. Mas não foi isso que nos trouxe cá.
Confessou que aprendeu tudo com Visconti, com quem filmou em 1957 Noites Brancas, adaptação do romance de Dostoievski e O Estrangeiro (1967), da obra homónima de Albert Camus, com Anna Karina, apesar de ter sido com Fellini, ou melhor como seu alter ego, que a sua carreira se projetou de forma imparável, sobretudo graças a La Dolce Vita, de 1960, ao lado de Anita Ekberg e Anouk Aimée. Claro que será difícil lembrar este filme sem nos vir à memória o icónico banho da actriz sueca na Fontana di Trevi, ou o aparecimento da figura do paparazzo, mas também as suas interpretações noutras obras-primas do grande mestre italiano como Fellini 8 1/2 (1963), ao lado de Anouk Aimée e Claudia Cardinale, Roma (1972), A Cidade das Mulheres (1980), Ginger e Fred (1986), ao lado de Giulietta Masina, mulher do realizador, e um dos últimos filmes que dirigiu. Com Mastroianni ainda fará Entrevista (1987), o penúltimo filme de Fellini, que morreria em 1993, colocando-se assim um ponto final num das parcerias mais profícuas do cinema italiano.
Com Sophia Loren partilhou tela numa séria de filmes, muitos deles comédias, um género bastante explorado em Itália, mas não só. Matrimónio à Italiana e O Último Adeus, de Vittorio De Sica, de 1964 e 1970, respectivamente, ou A Mulher do Padre (Dino Risi, 1970), Um Dia Inesquecível (Ettore Scola, 1977) e Pacto de Sangue (Lina Wertmüller, 1978), são alguns deles. Claro que, como muitos dos seus relacionamentos extra matrimoniais (manteve o casamento com Flora Carabella, até à sua morte, com que teve uma filha, Barbara), foram com actrizes, o mais famoso dos quais com Catherine Deneuve, com quem teve igualmente uma filha, Chiara, contracenaram nalguns filmes, entre os quais A Longa Jornada (Nadine Trintignant, 1971) Não Toques na Mulher Branca e Liza, a Submissa de Marco Ferreri, 1970 e 1972.
Mas além de italianos, trabalhou com realizadores importantes, casos de Louis Malle, John Boorman, Jacques Demy ou de Roman Polanski. Nos últimos anos da sua carreira e da sua vida, foi também dirigido por Theodoros Angelopoulos, Bertrand Blier, Raúl Ruiz, bem como o nosso Manoel de Oliveira em Viagem ao Princípio do Mundo, de 1977, naquele que seria o último filme do actor.
Foi nomeado para três Oscar de Melhor Actor por Divórcio à Italiana (Pietro Germi, 1961), tendo o argumento de Ennio Concini, Alfredo Gianneti e, arrebatado o Oscar de Melhor Argumento Original, Um Dia Inesquecível (1977) e Olhos Negros (Nikita Mikhalkov, 1987), tendo sido todavia galardoado em diversos festivais e academias, bem como nos Globos de Ouro.
Porém a grande e sentida homenagem deste centenário vem da sua filha Chiara e da mãe, Catherine Deneuve, no filme de Christophe Honoré, Marcello Mio, de que também é o autor do argumento. Num filme onde mãe e filha fazem delas próprias (apesar de já terem contracenado antes), para além de amigos de ambas e de Mastroianni, filme que esteve na competição oficial do último Festival de Cannes, Chiara Mastroianni, passa a fazer de Marcello, vestindo-se como o pai e recriando (assumindo) alguns papéis que foram marcantes na carreira do autor em filmes como La Dolce Vita, Fellini 8 1/2 ou Ginger e Fred, todos de Fellini, passando a ser um actor, Marcello Mastroianni, dirigido agora, 47 anos depois da sua morte, por Christophe Honoré, ele que já trabalhou com Chiara em vários filmes, mas também de Noites Brancas e Divórcio à Italiana que valeu Marcello a tal a primeira nomeação para o Oscar!
Até à próxima e bons filmes!

Luís Dinis da Rosa

Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico

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