Menos de um decénio separa a morte de João Roiz de Castelo Branco do nascimento de Luís Vaz de Camões, presumindo-se que este tenha tido notícia dos versos do ilustre poeta albicastrense que marca, com singularidade lírica, o Cancioneiro Geral, dito de Garcia de Resende. Como escreveu com acerto Teófilo Braga, num opusculo que praticamente ninguém conhece, não devia haver circunstância de centenários para se evocarem figuras das Artes e das Letras cujas obras, conferindo imortalidade aos respectivos autores, importam mais aos que ficaram para as fruir e desvelar, com isso merecendo altear-se a patamares de Conhecimento que ainda hoje nos continuam a surpreender. É o caso de Luís de Camões e da sua obra poética, pois se a Lírica mantém o seu poder de fascinação e encanto, Os Lusíadas desafiam sem cessar novas leituras e estudos hermenêuticos, para se apreender o quanto Camões esteve à frente do seu tempo, legando ao povo luso um manancial de saberes, de referentes históricos e culturais, que permanecem válidos para a apreensão desse novo mundo que foi não só o das Descobertas como a época do Renascimento.
Será, com certeza, dentro destes parâmetros – ou até alargando-os – que o tópico “mito, figura e génio” – escolhido para titular a iniciativa a realizar brevemente em Castelo Branco – se fará eco. Porventura um outro ou renovado Luís de Camões, distinto daquele a que nos habituámos escolarmente, surgirá na sucessão de Conferências alinhadas no programa da comemoração camoniana que terá lugar na Biblioteca Municipal de Castelo Branco, de 20 de Novembro a 13 de Dezembro. Programa que inclui uma Exposição bibliográfica e iconográfica centradas na representação da que seria a vera efígie do Poeta (complementada por um vídeo, com versão impressa, que mostra 53 imagens plausíveis do Épico imortal) e ainda performances de leitura de versos camonianos, seja por parte das Companhias de Teatro locais Váatão e Mimabô, seja por alunas seniores (USALBI) e alunos de Agrupamentos de Escolas da cidade. No elenco dos Conferencistas, há que sublinhar a participação de Rita Marnoto (estudiosa d’ Os Lusíadas, organizadora da edição crítica da obra de Camões, e ex-Comissária da missão responsável pelas Comemorações oficiais do V Centenário do nascimento de Luís de Camões), que pronunciará a conferência inaugural; de José Carlos Seabra Pereira (coordenador científico do Centro Interuniversitários de Estudos Camonianos da Universidade de Coimbra e autor desse novo Viajar com… Luís de Camões); e da Escritora Isabel Rio Novo, autora da mais recente e encorpada biografia de Luís Vaz de Camões, além de outras participações que importa consultar no sítio electrónico da BMAS e nas plataformas digitais que esta usa (facebook e instagram). Há que salientar também a oportunidade que confere ao público visitante a exposição bibliográfica referida, pois permite ver algumas edições muito raras d’ Os Lusíadas e das Rimas, datadas de 1639, 1685-88, 1779-1780, que integram o acervo daquela Biblioteca Municipal, às quais se juntam outras edições de referência, como a editada no Porto por Emílio Biel (1880), ou a de Sousa Viterbo de 1900, e uma mostra de bibliografia passiva, que reúne 115 títulos, alguns pouco conhecidos. Um catálogo, organizado para esta comemoração camoniana, constitui uma mais valia para se aferir da importância desta comemoração camoniana em Castelo Branco, iniciativa que a Câmara Municipal promove, numa organização e coordenação do ensaísta e investigador Paulo Samuel.