Passaram a 3 de Abril 100 anos do nascimento de Marlon Brando, um actor que marcou a sua passagem pelo cinema como poucos. Para além da personagem de Don Vito Carleone, O Padrinho, sobre a mafia siciliana, encarnada por Marlon Brando no filme com o mesmo nome realizado em 1972 por Francis Ford Coppola, o primeiro da célebre trilogia e que a determinada altura foi considerada a melhor de sempre do cinema segundo uma votação de críticos norte-americanos que elegeram as 100 melhores personagens vistas nos écrans, outros momentos altos aconteceram na sua não muito longa, mas também estranha filmografia. Estávamos no princípio do século e muitos filmes depois, a personagem que conheceu outros intérpretes nas entregas seguintes, há muito foi ultrapassa por outras criações mais recentes, porém outras interpretações do “wild one”, nunca passariam despercebidas tal a força que Brando incutia nas suas personagens, ou não estivéssemos perante um dos maiores do “Actor’s Studio”, de que foi fundador, e do tão propalado “método” inspirado nos ensinamentos de Stanislavski.
Nascido em Omaha, no Nebraska, estreou-se na Broadway em 1944, depois de estudar teatro com Erwin Piscator e Stella Adler, com a peça I Remember Mama. Em 1946 é considerado o mais prometedor actor da Broadway depois de fazer Truckline Café. Todavia o seu ponto alto no teatro acontece em 1948 com o papel de Stanley Kowalski na peça Um Eléctrico Chamado Desejo”, de Tennessee Williams, com encenação de Elia Kazan. A peça manteve-se em cena dois anos, consagrando Brando como uma das grandes estrelas da Broadway. O seu encontro com Elia Kazan será determinante e o seu inolvidável Stanley Kowalski de 1951, no cinema, ao lado de Vivian Leigh, também com realização de Kazan, marcou o início de uma carreira imparável, sobretudo pela profundidade que imprimia às personagens. Nomeado para o Oscar, perdeu para Bogart. Ainda não tinha chegado a sua vez. A geração anterior ainda dominava a Academia, o que se confirma nas nomeações seguintes, em 1952 com Viva Zapata, ainda de Kazan, a estatueta foi para Gary Cooper e em 1953 com Júlio César, de Joseph L. Mankiewicz, onde fez um portentoso Marco António, o Oscar foi para William Holden.
Porém, não foi preciso esperar muito para arrecadar a sua primeira estatueta dourada. Depois de interpretar o leader de um gang de motoqueiros em The Wild One, de Laslo Benedeck, tornando-se símbolo de uma geração, rivalizando com outro outsider, James Dean, marcando a moda do blusão de cabedal e da t-shirt branca. Em 1954 a sua interpretação de Terry Molloy, outra personagem marcante na sua carreira, novamente dirigido por Elia Kazan, valeu-lhe o primeiro Oscar.
A sua filmografia que sempre se debateu com alguns excessos e polémicas, fizeram dele um nome incontornável da 7ª Arte, quer por dar a vida aos tais papéis únicos, quer pelo seu posicionamento cívico, principalmente na defesa dos povos nativos americanos. Sempre provocador, recusou o segundo Oscar pela sua interpretação de Don Vito Corleone, pela forma como os nativos americanos eram retratados nos media. Coube a Sacheen Littlefeather, activista dos direitos civis dos nativos americanos subir ao palco para recusar o prémio em nome de Marlon Brando, sem nunca tocar no Oscar, mas não pôde ler o texto do actor que, todavia, seria publicado posteriormente com as razões da recusa.
Antes deste filme e do respectico Oscar recusado, Brando atravessou uma fase de filmes menos conseguidos, sem que a sua presença passasse alguma vez despercebida. Podíamos recordar a tão citada cena com Maria Schneider, mesmo por alguns que nunca a viram, em O Último Tango em Paris (Bernardo Bertolucci, 1972), mas porquê, quando outros seus grandes papéis se perderam m filmes muito menos badalados.
Para além de ter realizado o seu único filme, One-Eyed Jacks, em 1961, um western atípico, que ele próprio financiou, ao lado de Karl Malden com que contracenara em Há Lodo no Cais, um género que gostava de revisitar, como em 1976 como um pistoleiro em Duelo no Missouri, de Arthur Penn, em que enfrenta esse outro seguidor do “método”, Jack Nicholson.
Porém são as tais aparições lendárias de que se tornou especialista nos últimos anos da sua carreira, de que se destaca Superman (Richard Donner, 1978), em que faz de Jor-El, o pai de Kal-El jovem super-homem que rendeu e rende, ou o coronel Kurtz de “Apocalypse Now”, para mencionar apenas estes. Claro que era o actor mais bem pago. Porque não? Não só o mereceu como fez por isso. E uma carreira destas tem de ser paga! Bem paga. Um olhar desafiante e uma personalidade única a bem dizer não têm preço!
Até à próxima, e bons filmes!
Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico