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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

Propostas SANGUE, SUOR E LÁGRIMAS

23-10-2023

A célebre frase de Churchil de 1940, quando apresentou no parlamento britânico uma moção de confiança ao governo de unidade nacional que formou para iniciar o longo caminho que levou à derrota do nacional-socialismo alemão de Hitler, “I have nothing to offer but blood, toil, tears, and sweat”, que rapidamente passou a sangue, suor e lágrimas, para enaltecer os que se destacam e vencem uma batalha desigual, resume a participação da selecção nacional de râguebi, no mundial que decorre em França. Apesar de eliminados na primeira fase, os Lobos, pontuaram por duas vezes, os primeiros pontos num Mundial, o segundo em que participaram. Venceram as Fiji no último jogo, uma equipa de outra galáxia, daí o feito, daí as lágrimas que não escaparam, nem podiam, à realização, e um empate com a Geórgia, uns furos acima, mas ainda assim do nosso campeonato, com uma penalidade falhada no último segundo, foi pena, uma vez que a vitória esteve ao seu alcance. Mas, convém lembrar, que foi no último segundo que Portugal concretizou um pontapé que nos levou a França num play-off dramático com os EUA.

As imagens da prestação dos atletas que defenderam as cores de Portugal, a alma com que cantaram o hino nacional, com uma lágrima ou outra a escorrer pela cara de alguns e o sangue e suor, naturais num desporto em que a força e o confronto físico fazem sempre a diferença sintetizaram na perfeição a brilhante tirada Churchil. Imagens que a televisão, com uma realização competente, raramente deixa escapar, numa cobertura em que dispõe da melhor tecnologia para nos dar em tempo real, o desenrolar e a evolução do jogo, todo ele um espectáculo televisivo. Não é por acaso que cinema e televisão se digladiam desde o aparecimento desta, pela melhor forma de captar o momento e capturar a atenção do espectador. Cientes de que o cinema maioritariamente ficciona e que o corpus da televisão é o directo, o acontecimento, como é o caso das transmissões desta e doutras competições, também sabemos que nada disto é absoluto e poderíamos trazer para aqui bastos exemplos do seu contrário.

Apesar destes brilharetes, ficámos em quarto lugar no grupo, oferecemos a lanterna vermelha aos georgianos e enchemos o peito de orgulho, pois não é caso para menos. Acontece que o râguebi não é suficientemente mediático para ter direito a uma semana de discussão à volta do fora de jogo por um centímetro, seja lá o que isso for num campo que mede 120 metros por 0, como acontece no futebol, porque no râguebi o fora de jogo não tem o protagonismo que tem no futebol, com a agravante de os árbitros roubarem o protagonismo aos comentadores porque explicam ao vivo e a cores o porquê da decisão, pelo que aos homens dos painéis restava-lhes analisar a pronúncia do árbitro, uma vez que todos se exprimem em inglês.

Já havíamos trazido râguebi a esta coluna a propósito do filme “Invictus”, com realização de Clint Eastwood e que conta a história caminhada dos Springboks, a selecção de râguebi sul-africana até à final vitoriosa com a poderosa Nova Zelândia no mundial de 1995, realizado na África do Sul. Porém, mais que glorificar o desporto, que também faz, o cineasta aborda este momento ímpar na construção de um espírito de união que serviu para quebrar as amarras e levar a África do Sul a nação multi-racial pela visão de Nelson Mandela que, não deixa de ser ironia, pegou num desporto quase exclusivamente praticado por brancos, o râguebi, e dele mote para a união de um país, a África do Sul, que viveu 42 anos sob um desumano regime de segregação racial, o apartheid. Ironia também é que o artífice dessa união tenha sido um negro longos anos preso por lutar contra essa realidade no seu país. Um homem que soube estar à altura do país que queria fosse o seu. Perdoou em vez de condenar. E nisso revelou a sua grandeza. E por isso conquistou uma nação que o encarcerara durante 27 anos em Robben Island, onde, daí o título do filme, encontrava as forças que lhe poderiam faltar na leitura do poema "Invictus", de William Ernest Henley.

Tal como em Invictus, onde Madiba ia buscar força, lendo e relendo “I am the master of my fate:I am the captain of my soul.”, forjando a reconciliação de um país com o seu destino, faço votos para que Portugal, um país de futebol, coloque o râguebi no lugar que merece.

Até à próxima e bons filmes!

PS: A final deste mundial vai colocar frente a frente, 28 anos depois, a Nova Zelândia e a África do Sul, os All Blacks contra os Springboks. Que vença a melhor!

Luís Dinis da Rosa

Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico

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