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Bocas do galinheiro Raquel Welch e um poster para a eternidade

14-03-2023

Não têm sido muitas as actrizes a passarem por esta coluna. Mas desta fez não poderíamos deixar de lembrar Raquel Welch, apesar de a pormos a dividir palco com Robert Blake. Já lá vamos.

A rapariga do poster de “Os Condenados de Shawshank” (1994, Frank Darabont, morreu no passado dia 15 de Fevereiro, tinha 82 anos. Nascida em Chicago, como Jo Raquel Tejada, de origem boliviana, começou como modelo tendo-se estreado no cinema em 1964 em “A House Is Not a Home”, de Russell Rouser, onde é uma das call girls da casa gerida pela consagrada Shelley Winters, a que se seguiram pequenos papéis em séries de televisão. O papel que a consagra, mais como sex symbol do que propriamente como actriz é o de Loana, uma mulher das cavernas, coberta apenas com um bikini de pele em “Quando o Mundo Nasceu”1966, dirigido por Don Chaffey, ao lado de John Richardson, numa produção do britânico Estúdio Hammer, conhecido por filmes de terror e derivados. Porém, no mesmo ano Raquel já havia protagonizado outro filme bastante mais interessante, “Viagem Fantástica”, uma obra de ficção científica, em que uma equipa médica e um submarino são miniaturizados e injectados no corpo de um cientista para lhe removerem um coágulo inacessível através de um procedimento médico normal, realizado por Richard Fleischer que já havia dirigido em 1954 uma adaptação do romance de Jules Verne “Vinte Mil Léguas Submarinas”. Apesar de o chamariz da actriz fosse o seu corpo, em ambos os filmes ressaltam a insubmissão, quer ao seu companheiro pré-histórico, quer aos seus colegas, cientistas como ela, mas extremamente machistas. Porém, mais célebre que o filme é o tal poster que referimos, para quem ainda não viu o filme, desculpe o spoiler, cúmplice fulcral da espectacular fuga da prisão do personagem interpretado por Tim Robbins. Quando nada o faria esperar, a carreira de Welch dispara depois deste filme e é vê-la ao lado de grandes nomes do cinema, não recusando mostrar os seus atributos físicos em cenas arrojadas. Roda alguns filmes em Itália, nomeadamente “Dispara Forte" (1966, Eduardo De Filippo), com Marcello Mastroianni, bem como nos sabidos filmes de sketches, assinados por vários realizadores, como sejam “As Feiticeiras”, no segmento “Fata Elena”, dirigido por Mauro Bolognini.

Nas décadas de 1960 e 1970 a sua carreira é já imparável. Filmes como “Bandolero”, de Andrew V. McLaglen, ao lado de James Stewart, “Uma Mulher de Cimento”, de Gordon Doulas, com Frank Sinatra, ambos de 1968 e “100 Armas ao Sol” (1969, Tom Gries), onde abala a barreira do racismo protagonizando cenas de sexo com Jim Brown. Ainda em 1969 contracena com Peter Sellers e Ringo Star na estapafúrdia comédia “Um Beatle no Paraíso” , de Joseph McGrath, para em 1970 voltar a quebrar barreiras em “Myra Breckinridge”, de Michael Sarne, numa adaptação do romance de Gore Vidal, em que interpreta um transsexual, depois da operação de Myron! Em 1973 é Constance de Bonacieux em “Os Três Mosqueteiros – Os Diamantes da Rainha”, de Richard Lester, que lhe valeu o Globo de Ouro de Melhor Actriz numa Comédia ou Musical, actuando também na continuação, “Os Quatro Mosqueteiros: A Vingança de Milady” de 1974.

Depois de “O Belo Animal” (1977, Claude Zidi), ao lado de Jean-Paul Belmondo, a sua carreira abranda, muito, aparecendo em poucas longas metragens, mais em filmes para televisão, bem como aparições nalgumas séries, de que se pode destacar “Seinfield”, num cameo em 1997, sendo que as suas últimas aparições foram na série, “Date My Dad”, de 2017. Uma “breve doença” roubou-a ao cinema e ao mundo.

No passado dia 9 de Março faleceu Robert Blake, aos 89 anos, recordado mais pela sua interpretação de Perry Smith, um dos dois homens que assassinaram quatro membros da família Clutter numa quinta em Holcomb, no Kansas, do que por uma carreira que se iniciara como actor infantil, ao lado de Scott Wilson, que encarna o outro criminoso, Dick Hickock, no filme de Richard Brooks, “A Sangue Frio”, de 1967, adaptado do romance de Truman Capote, sobre crime ocorrido em 1959,  cujo processo de investigação é mote de “Capote” (2005, Bennett Miller), com Philip Seymoure Hoffman, no papel do jornalista/escritor.

Voltando a Robert Blake, integrou o elenco de Our Gang/Little Rascals, de 1939 a 1944, uma série de curtas metragens infantis que já vinham de 1932, tendo uma carreira maioritariamente em filmes ou séries para televisão. No cinema, para além do filme de Brooks, destaque para “Os Homens Morrem Assim” (1959, Lewis Milestone), “Gente Sem Compaixão” (1961, Gotffried Reinhardt) ou “O Vale do Fugitivo” (1969, Abraham Polonsky). Com uma vida complicada, que lhe afectaria a carreira, as suas últimas aparições no cinema acontecem com “O Comboio do Dinheiro” (1995, Joseph Ruben) e “Lost Highway – Estrada Perdida” (1997, David Lynch).

Até à próxima e bons filmes!

Luís Dinis da Rosa

Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico

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