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Bocas do Galinheiro Mestres das bandas sonoras

14-02-2023

Em tempo de aniversário do Ensino Magazine - este mês são vinte e cinco - onde esta coluna assoma desde Dezembro de 1998 (já não falta muito para a marcante prata), nada melhor para a celebração que fazê-lo com música, homenageando dois génios que no-la deram, muita e boa, em filmes que marcaram gerações: Ennio Morricone e Burt Bacharach. E, tudo a propósito da estreia em Portugal de Ennio, o Maestro, de Giuseppe Tornatore um documentário sobre o grande compositor italiano e a recente morte do americano.

Sobre Morricone, tudo o que se possa dizer é sempre pouco face à grandiosidade da sua obra no cinema. Dos filmes de Sergio Leone até ao Oscar de melhor partitura original com The Hateful Eight, de Quentin Tarantino, de 2015, são algumas das muitas bandas sonoras lembradas no documentário que já estreou em Portugal. No dia 22 pode ser visto no Cine Teatro Avenida. Absolutamente a não perder.

Filho de um trompetista, Ennio Morricone, apesar de pretender ser médico, cedo foi encaminhado pelo pai para a música e para a trompete. Fez o conservatório, estudou composição, abraçou vários géneros musicais, da clássica à ligeira, recordamos a colaboração de Dulce Pontes no álbum Focus, em que a portuguesa interpreta clássicos do Maestro e originais compostos para ela, mas será recordado, não só pelos cinéfilos, pelas mais de quinhentas bandas sonoras que compôs.

Na sua actividade no cinema, que se inicia nos anos de 1960 e que termina com a sua morte, em 2020, colabora com variados realizadores e géneros. Do incontornável Leone e os westerns, desde logo, para citar apenas estes, Aconteceu no Oeste e O Bom, o Mau e o Vilão, ou aquela que será uma das suas melhores partituras para Era Uma Vez na América, a Bernardo Bertolucci, em Teorema, Pier Paolo Pasolini, em As Mil e Uma Noites, Roland Joffé, em A Missão (1987), banda sonora nomeada para o Oscar, tal como o foram Dias do Paraíso (1979), de Terence Malick, Os Intocáveis (1988), de Brian De Palma, Bugsy (1992), de Barry Levinson e Malèna (2001), de Giuseppe Tornatore para quem escreveu, mas não apenas, Cinema Paraíso, a juntar a um distinta lista de que fazem parte, entre outros Oliver Stone, John Carpenter, Dario Argento, Terence Young, Alberto Lattuada ou Lina Wertmüller. Depois há alguns filmes com a vedeta italiana Gianni Morandi, que qual Elvis também entra em vários filmes com canções compostas por Morricone e muito em voga naqueles anos do Yé Yé. Porém, nada melhor do que assistir ao documentário para perceber, pelo próprio, o que está por detrás das suas bandas sonoras.

Falecido no passado dia 8, Burt Bacharach é outro nome grande da música no cinema,mas julgo que mais conhecido pelos hits que escreveu e cantados por vozes inesquecíveis, principalmente da cena musical americana, como Walk On By ou Say a Little Prayer, por Dionne Warwick e esta última também, mas não só, por Aretha Franklin, ou What’s New Pussycat, do filme com o mesmo nome de 1965, realizado por Clive Donner, cantada pelo galês Tom Jones e outras que ao longo dos anos têm sido ouvidas em centenas de filmes e séries. Porém, o compositor é igualmente autor de várias bandas sonoras, e, também ele, vencedor de alguns Oscares. Começando por aqui, os prémios para que foi nomeado e os que arrebatou são na sua maioria para as canções, cujas letras são de Hal David. A estatueta dourada para a melhor partitura consegui-a com o filme de George Roy Hill, Dois Homens e Um Destino (Butch Cassidy and the Sundance Kid), em 1970, arrebatando ainda o Oscar da melhor canção, Raindrops Keep Fallin on My Head, interpretada por B.J. Thomas. Já nas canções, Best That You Can Do, do filme de Steve Gordon, Arthur, o Alegre Conquistador, em 1981, mas já antes tinha sido nomeado por What’s New Pussycat, em 1966 e por Alfie, do filme com o mesmo título, de Lewis Gilbert, em 1967 e por The Look of Love, popularizada por Dusty Springfield de Casino Royale, em 1968, um 007 fora da caixa, com realização, entre outros, de John Huston.

Espaço houvesse e poderíamos ficar aqui a esmiuçar filmes, temas e canções até exaustão, minha e dos leitores! Mas bastará rever alguns filmes em que estes dois senhores assinaram canções e as respectivas bandas sonoras pra nos deliciarmos.

Já estávamos a fechar esta prosa quando tivemos conhecimento da perda de outro nome grande da sétima arte, este aqui ao lado, o espanhol Carlos Saura, no passado dia 10. Não nos podemos alongar, mas já que estamos em maré de homenagem a compositores, será justo lembrar aqui o filme de Saura Fados, de 2007, uma sentida homenagem à nossa música e a nomes grandes do género como são Carlos do Carmo, Camané, Marisa, Argentina Santos, Cuca Roseta e outros intérpretes que em algum momento interpretaram fados e que podem ser ouvidos nesta bela banda sonora, cados de Caetano Veloso, Chico Buarque ou a Brigada Victor Jara. 

Até à próxima, bons filmes e boa música!

Luís Dinis da Rosa

Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico

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