Um projeto que envolve quatro instituições de ensino superior está a avaliar a qualidade do ambiente interior em salas de aula, com resultados preliminares a mostrarem que a qualidade do ar é globalmente aceitável.
Segundo a investigadora Anabela Veiga, o projeto, designado ‘Breath IN’, visa “avaliar a qualidade do ambiente interior em salas de aula de instituições de ensino superior em Portugal, Grécia e Chipre”, o que inclui a qualidade do ar e fatores como a temperatura, a humidade e a iluminância, “porque todos estes elementos têm impacto direto na saúde, no bem-estar e no desempenho académico”.
Anabela Veiga, docente do Politécnico de Leiria, instituto que, juntamente com as universidades Demócritus da Trácia (Grécia) e de Nicósia (Chipre) integram o consórcio liderado pelo Politécnico de Tomar, explicou que “foram instalados sensores de monitorização contínua em salas de aula” das quatro instituições de ensino superior.
“Estes sensores medem parâmetros como partículas, dióxido de carbono, temperatura, humidade e iluminância, permitindo uma caracterização muito detalhada das condições em que alunos e professores trabalham diariamente”, afirmou.
A investigadora adiantou que “a qualidade do ar exterior está igualmente a ser monitorizada, dado o seu impacto na qualidade do ambiente interno dos edifícios”, referindo que “estas iniciativas foram ainda estendidas a algumas escolas secundárias na área de influências das instituições do consórcio”.
“Os resultados preliminares mostram que a qualidade do ar é globalmente aceitável, sobretudo no que diz respeito às partículas em suspensão”, observou.
Porém, foram registados “níveis elevados de dióxido de carbono em períodos de maior ocupação, o que revela que a ventilação nem sempre é suficiente”, assinalou.
“Também observámos temperaturas baixas e níveis altos de humidade, que comprometem o conforto térmico”, declarou a docente, precisando que, no que respeita à iluminância, “em algumas salas os valores ficaram abaixo dos recomendados", o que pode afetar o conforto visual e a concentração dos estudantes”.
Ressalvando que ainda se está numa fase de análise de dados, Anabela Veiga destacou, contudo, já se poder afirmar que “a ventilação é determinante para a qualidade do ar em salas de aula” e que “a iluminância também se revelou relevante, já que em várias situações foi insuficiente para garantir conforto visual adequado”.
“Encontrámos diferenças entre instituições e países, ligadas ao clima, ao tipo de edifícios e aos sistemas de ventilação e iluminação disponíveis”, continuou.
Questionada sobre se são necessárias muitas mudanças para melhorar a qualidade do ar em salas de aula, a investigadora respondeu que, “muitas vezes, pequenas alterações de rotina já fazem a diferença”, como “abrir janelas, ajustar horários de ventilação ou reforçar a manutenção dos sistemas existentes”.
“O mesmo acontece com a iluminação”, continuou, observando que “ajustar os níveis de iluminância ou melhorar a entrada de luz natural pode melhorar significativamente as condições de conforto”, embora, “em alguns casos, pode ser necessário investir em sistemas de ventilação mecânica ou em soluções de iluminação mais eficientes, sobretudo em edifícios mais antigos”.
A investigadora alertou que “quando a qualidade do ar não é boa, os efeitos são claros” e passam por “fadiga, dificuldade de concentração, dores de cabeça e agravamento de problemas respiratórios”.
“Se juntarmos a isto temperaturas inadequadas e humidade elevada, o desconforto aumenta e pode até afetar a saúde a longo prazo”, realçou, acrescentando que “a iluminância insuficiente também tem impacto, porque prejudica o conforto visual e reduz a atenção e a produtividade”.
“Tudo isto, em conjunto, traduz-se em pior desempenho académico e menor bem-estar para alunos e professores”, salientou Anabela Veiga.
O projeto ‘Breath IN’ envolve as quatro instituições de ensino superior em parceria com escolas de ensino secundário e especialistas em qualidade do ar, engenharia e saúde ambiental.
É financiado pelo programa europeu Erasmus+ KA220, com um orçamento de cerca de 400 mil euros, e decorre até agosto de 2026, quando será apresentado um relatório final com recomendações práticas para melhorar a qualidade do ambiente interior em salas de aula no ensino superior.