O músico, compositor e professor na Escola Superior de Artes Aplicadas, Miguel Carvalhinho, acaba de lançar o seu último trabalho. "Convite" junta muitas afinidades nos seus 35 anos de carreira.
O álbum vai ser apresentado, em Lisboa, dia 25 de janeiro, na Casa das Beiras, na Avenida Almirante Reis, a partir das 16h30 min. A escolha do local resulta do movimento associativo e da Associação Recreativa e Cultural da Viola Beiroa de Castelo Branco, de quem é um dos responsáveis e que tem permitido fazer renascer aquele instrumento tradicional.
Neste trabalho o músico português empresta, pela primeira vez, a sua voz aos temas que escreveu e musicou, a que junta o som da viola beiroa. "É um registo diferente, pois é a primeira vez que canto e declamo os poemas que escrevi", explica.
Ao seu lado surgem Custódio Castelo (guitarra portuguesa e produção) e Pedro Ladeira (clarinete) - ambos docentes da Esart e que, como refere são os seus "irmãos de música”.
O filho, Horácio Carvalhinho, é outra peça importante neste trabalho. Ilustrou o livro que acolhe o CD, numa “homenagem ao ‘primo-irmão’ António”, como explica Miguel Carvalhinho, enquanto nos mostra o trabalho.
Gravado no estúdio de Pedro Ladeira, “Convite” foi editado pela Junta de Freguesia de Castelo Branco. Enquanto o escutamos o som da lareira está presente ao longo do disco, que brevemente irá ficar disponível nas plataformas digitais. “É um convite ao recolhimento, à lareira”, explica Miguel Carvalhinho.
O trabalho reúne “afinidades com pessoas que são amigas e que partilham este percurso, mas também com a família”, adianta o músico e compositor. O CD começou a ser “preparado em 2024 e surge na sequência de um processo de investigação sobre a viola beiroa. É um ‘mix’ que faz com que reúna um conjunto diverso de afinidades”.
Nesta conversa Miguel Carvalhinho faz uma retrospetiva da sua carreira. “Um músico deve ter um papel fundamental na sociedade. Eu tento encarnar esse papel e contribuir para ele. O mais importante é a marca identitária de cada música. Com esta postura assumo-me como um músico construtivo na sociedade”, refere.
Com dois doutoramentos na área da música, o último dos quais dedicado à viola beiroa, Miguel Carvalhinho adianta que o “CD tem muito que ver com a nossa cultura mediterrânica”. Os 35 anos de carreira estão espelhados num trabalho muito cuidado. “A maturidade e a experiência levam-nos a ter em atenção outros detalhes”, sublinha.
A viola beiroa volta a ser rainha neste trabalho. Miguel Carvalhinho tem sido um dos impulsionadores pelo reaparecimento deste instrumento. Na sua última tese de doutoramento, defendida na Universidade Autónoma de Madrid, lança o desafio do seu ensino nas escolas oficiais portuguesas. “Os argumentos fundados na minha vasta experiência pessoal e profissional coincidiram com as conclusões dos questionários realizados para esta tese. A maioria dos intervenientes considera muito importante que a música tradicional e os instrumentos tradicionais, nomeadamente a Viola Beiroa, façam parte do universo das escolas oficiais de música”, disse.
O autor recorda o percurso que tem sido feito em prol da Viola Beiroa em Castelo Branco. Naquele estudo, Miguel Carvalhinho recorda que “em 2012 iniciámos um projeto de revitalização da Viola Beiroa promovido pela Fundação Inatel desenvolvendo várias ações abrangendo a catalogação de instrumentos existentes, a identificação e criação de repertório, cursos de formação de tocadores, cursos de construção de instrumentos, gravação de CDs, divulgação em atuações públicas, divulgação nos meios de comunicação social e na internet”.
Através deste estudo Miguel Carvalhinho procurou “avaliar a pertinência e o interesse em integrar este instrumento na oferta formativa das escolas do ensino oficial de música em Portugal. Nela propõem-se uma série de estudos e peças, explorando a capacidade que este instrumento tem para fazer melodia acompanhada, que poderão integrar um programa do ensino oficial”.
Na sua perspetiva, “a educação é muito importante para criar novos públicos jovens que considerem os nossos valores tradicionais válidos dando-lhes a importância devida. Se houver um curso oficial de Viola Beiroa haverá decerto alunos que vão desenvolver este instrumento em vários contextos musicais”.
Para o docente da ESART “com a divulgação nas redes sociais e nos media a Viola Beiroa fará naturalmente parte da cena musical portuguesa. Aliás, esta estratégia já deu frutos pois no ano letivo 2022/2023 foi criado o curso profissional, na Escola Profissional do Conservatório de Castelo Branco, com oferta formativa em Viola Beiroa, Guitarra Portuguesa e Bandolim. Ou seja, o objetivo de fundo da realização deste trabalho académico foi atingido antes da conclusão do mesmo”.