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Politécnico IPCB: investigador português defende em Madrid ensino da Viola Beiroa nas escolas

09-11-2023

A Universidade Autónoma de Madrid, uma das mais prestigiadas de Espanha, ficou rendida à viola beiroa, ao aprovar, com distinção, a tese do segundo doutoramento de Miguel Carvalhinho com o título “Viola Beiroa – Uma perspectiva pedagógica”.

O instrumento tradicional da Beira Baixa e que tem naquele professor da Escola Superior de Artes Aplicadas de Castelo Branco (ESART), um dos principais impulsionadores (não só na sua utilização, mas também na sua construção) deve fazer parte do ensino da música nas escolas oficiais portuguesas, como conservatórios ou academias.

Essa é pelo menos uma das conclusões do estudo desenvolvido. “Os argumentos fundados na minha vasta experiência pessoal e profissional coincidiram com as conclusões dos questionários realizados para esta tese. A maioria dos intervenientes considera muito importante que a música tradicional e os instrumentos tradicionais, nomeadamente a Viola Beiroa, façam parte do universo das escolas oficiais de música”, começa por explicar Miguel Carvalhinho.

O autor recorda o percurso que tem sido feito em prol da Viola Beiroa em Castelo Branco. “Em 2012 iniciámos um projeto de revitalização da Viola Beiroa promovido pela Fundação Inatel desenvolvendo várias ações abrangendo a catalogação de instrumentos existentes, a identificação e criação de repertório, cursos de formação de tocadores, cursos de construção de instrumentos, gravação de CDs, divulgação em atuações públicas, divulgação nos meios de comunicação social e na internet”, diz no início da tese.

Através deste estudo Miguel Carvalhinho procurou “avaliar a pertinência e o interesse em integrar este instrumento na oferta formativa das escolas do ensino oficial de música em Portugal. Nela propõem-se uma série de estudos e peças, explorando a capacidade que este instrumento tem para fazer melodia acompanhada, que poderão integrar um programa do ensino oficial”.

O docente e compositor explica que outros dos aspetos importantes da tese, na perspetiva do ensino daquele instrumento nas escolas oficiais, está relacionado com o repertório, o qual “tem que ser variado não se confinando somente à música tradicional”.

A tese apresenta ainda “três experiências pedagógicas que incluem a validação de peças e estudos escritos para Viola Beiroa onde os temas musicais são eruditos e tradicionais”. Miguel Carvalhinho acrescenta: “numa primeira experiência quatro músicos profissionais avaliam o repertório e propõem alterações. Nas outras experiências é apresentado o repertório a dois alunos. O primeiro não sabe ler nem escrever música e o segundo é um diplomado com a licenciatura em Guitarra Clássica. As conclusões destas experiências são importantes para a criação de mais repertório para um programa de Viola Beiroa”, sublinha.

 

Como foi feito o estudo

 

Miguel Carvalhinho explica que a investigação, que englobou “a realização de questionários, com uma amostra a rondar as três centenas de pessoas oriundas de todo o território continental e ilhas, pretendeu ainda perceber qual o tipo de repertório que se deveria trabalhar num programa curricular, se há vantagens em que os tocadores saibam ler e escrever música e qual o conhecimento que têm da existência das violas de arame, nomeadamente a Viola Beiroa”.

Além disso, foi também realizada “uma reunião, apelidada de Grupo de Discusión, onde um grupo de sete personalidades com responsabilidade no meio musical português no contexto da música tradicional e da música erudita manifestaram as suas opiniões relacionadas com o tema da tese”.

Também a “pesquisa histórica para perceber qual o enquadramento em que surge a Bandurra, Viola Beiroa ou Viola de Castelo Branco leva-nos ao século XVI e são apresentadas evidências até à atualidade descrevendo as fases do processo de revitalização da Viola Beiroa que começou em Castelo Branco há cerca de dez anos”.

 

Educar para o futuro

 

“O tema Viola Beiroa tem sido desenvolvido através de várias iniciativas, que envolvem atuações da Orquestra Viola Beiroa, cursos de construção, o processo de certificação do produto, gravação de CDs, promoção na comunicação social e internet. Mas necessitava de um documento que definitivamente impeça o seu desaparecimento e extinção, que era o que poderia ter acontecido antes do início do projeto de revitalização em curso”. É deste modo que Miguel Carvalhinho justifica, em respostas enviadas na volta do correio eletrónico, a escolha da Viola Beiroa para esta tese de doutoramento.

Na sua perspetiva, “a educação é muito importante para criar novos públicos jovens que considerem os nossos valores tradicionais válidos dando-lhes a importância devida. Se houver um curso oficial de Viola Beiroa haverá decerto alunos que vão desenvolver este instrumento em vários contextos musicais”.

Para o docente da ESART “com a divulgação nas redes sociais e nos media a Viola Beiroa fará naturalmente parte da cena musical portuguesa. Aliás, esta estratégia já deu frutos pois no ano letivo 2022/2023 foi criado o curso profissional, na Escola Profissional do Conservatório de Castelo Branco, com oferta formativa em Viola Beiroa, Guitarra Portuguesa e Bandolim. Ou seja, o objetivo de fundo da realização deste trabalho académico foi atingido antes da conclusão do mesmo”.

O autor do estudo não tem dúvidas que “a realização de uma tese de doutoramento com esta temática é, só por si, a valorização deste instrumento pois leva-o para o patamar mais elevado da academia. Depois abre portas para que surjam outras investigações semelhantes tendo a música tradicional como um interessante pano de fundo”. Miguel Carvalhinho dá o exemplo da tese de doutoramento que concluiu, em 2011, na Universidad de Extremadura que resultou na recolha, análise, edição e divulgação de cerca de cento e quarenta canções do repertório tradicional das aldeias da serra da Gardunha. Um trabalho tem sido citado por investigadores e utilizado para a composição de novo repertório nomeadamente de música contemporânea. É exemplo da divulgação e da utilidade desta temática no meio académico”.

Mas porquê ir a Madrid fazer a tese?, perguntámos. “A importância de ser uma universidade espanhola com a dimensão da Universidad Autónoma de Madrid dá um maior relevo e uma maior divulgação à Viola Beiroa que é o principal objetivo”, começou por esclarecer.

Miguel Carvalhinho recorda que “o diretor desta tese de doutoramento é o Professor Doutor Enrique Muñoz da Universidad Autónoma de Madrid. É um compositor com muita experiência e criador de um repertório vasto para várias formações e instrumentos solistas. Em 2016 participámos no projeto Fronte(i)ra que começou na ESART, o qual contou com a composição de música contemporânea com compositores portugueses e espanhóis tendo as canções raianas da nossa região como material inspirador. Apresentámos a Viola Beiroa como um instrumento capaz de ombrear com outros eruditos como o violoncelo, o contrabaixo ou um coro a doze vozes. Começou aí a relação com o compositor Enrique Muñoz que viria depois a compor uma Fantasia para Viola Beiroa solo. A proposta de realizar uma tese de doutoramento com estes objetivos foi aceite e, desde 2019, foi uma tarefa diária desenvolvida ao longo de muitas horas, num percurso em que contei também com o apoio da professora Doutora Maria Jesús del Olmo Barros”.

 

 

 

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