Nos últimos anos, a saúde mental dos estudantes universitários tem emergido como um dos grandes desafios da vida académica. O que antes se associava apenas a períodos de stress antes dos exames, hoje revela-se um fenómeno mais profundo, persistente e preocupante. A pressão para ter sucesso (frequentemente influenciada pelos supostos modelos de êxito espelhados nas redes sociais), a incerteza em relação ao futuro, a deslocação geográfica e até possivelmente (ainda) efeitos da pós-pandemia são ingredientes que, combinados, criam terreno fértil para o aumento de casos de ansiedade, depressão e exaustão emocional.
Na Universidade de Évora, estudos recentes mostram que uma parte significativa dos estudantes manifesta sinais preocupantes ao nível da saúde mental, sobretudo associados à ansiedade e à depressão (Pinho et al, 2025). Mas o que podemos fazer, de forma concreta, para mudar este cenário?
Uma das respostas pode estar nas pequenas pausas que raramente nos permitimos fazer. A investigação conduzida até ao momento na Universidade de Évora pelo projeto aBREAK4you, financiado pela aliança EU GREEN, sobre o impacto da realização de pausas de relaxação durante as aulas teóricas na saúde e bem-estar nos estudantes, revelou algo simples, mas muito pertinente: os estudantes universitários têm a perceção que breves momentos de respiração consciente, alongamento ou meditação podem melhorar a concentração, reduzir o stress e aumentar a sensação de bem-estar. O mais interessante é que muitos estudantes estão abertos a integrar estas práticas no seu quotidiano académico, especialmente em ambientes ao ar livre, durante pausas de cerca de quinze minutos. Estes resultados lembram-nos de que cuidar da saúde mental não exige necessariamente grandes mudanças estruturais, por vezes, basta dar espaço ao corpo e à mente para respirar. As universidades têm aqui um papel essencial: criar ambientes mais humanos, que valorizem o equilíbrio e o autocuidado tanto quanto valorizam o desempenho académico.
Mas esta preocupação não deve limitar-se apenas aos estudantes. Docentes, funcionários e outros membros da comunidade universitária enfrentam igualmente pressões intensas — carga de trabalho elevada, exigências burocráticas e, muitas vezes, falta de tempo para o próprio bem-estar. A saúde mental institucional deve ser vista como um ecossistema interligado, onde o equilíbrio de uns influencia o de todos. Da mesma forma, é fundamental alargar o olhar à comunidade envolvente. Profissionais de saúde, professores do ensino básico e secundário e outros stakeholders ligados ao meio académico lidam com desafios semelhantes de exaustão, ansiedade e sobrecarga emocional. Os próximos projetos de investigação e intervenção da Universidade de Évora terão precisamente em conta esta dimensão mais ampla, procurando desenvolver estratégias colaborativas de promoção do bem-estar psicológico que envolvam estudantes, docentes, funcionários e parceiros da comunidade. O Programa Vagar(Mente) já é disso um exemplo, organizando-se em seis grandes ações e dezanove atividades, que abrangem desde a criação dos Serviços de Saúde Mental e Bem-Estar da UÉ (SSMBE_UÉ) até à implementação de programas de literacia em saúde mental, promoção do bem-estar físico e emocional, intervenções psicoterapêuticas e formação de pares, docentes e não docentes em primeiros socorros psicológicos.
Falar de saúde mental no ensino superior é, em última análise, falar de qualidade de vida, de aprendizagem e de futuro. Um estudante, professor ou profissional mais tranquilo, consciente e equilibrado não é apenas melhor no que faz — é alguém mais capaz de contribuir, com empatia e criatividade, para uma sociedade mais saudável. E talvez seja esse o verdadeiro sucesso que devíamos ambicionar nas universidades.