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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

Opinião Não faltam só técnicos, também escasseiam doutores

Muito se tem dito e escrito sobre a falta de recursos humanos nas mais diversas áreas. Acima de tudo, quem faz e analisa os respetivos balanços vê com preocupação a carência de trabalhadores indiferenciados em múltiplos setores de atividade, mas também a falta de técnicos que chegam ao mercado pela via profissionalizante.
Bem vistas as coisas, parece que as escolas profissionais voltaram ao centro do debate, apesar de muitas mentes ainda se encontrarem num estádio de quase total ignorância acerca do tema.
É verdade que no Ensino Profissional também existe oferta formativa desajustada da realidade do país. Mas é inegável que as escolas profissionais prestam um excelente serviço público, não só em termos pedagógico-científicos, dando os conhecimentos base necessários ao crescimento de um estudante do 10º ao 12º ano, mas também na integração de novos cidadãos ativos no mercado de trabalho.
Ao contrário do que por vezes é mencionado, o Ensino Profissional não é, de todo, o último reduto para quem não se identifica com a palavra estudo. É, sim, a oportunidade de qualquer jovem poder, de forma constante, prática, adequada e imersiva, adquirir conhecimentos numa uma área na qual pretende desenvolver competências e construir uma carreira.
É normal que um estudante proveniente do Ensino Profissional consiga entender a linguagem técnico-científica de uma determinada licenciatura precursora à sua área de estudo bem melhor do que um aluno proveniente do ensino regular. Neste capítulo, os estudantes do profissional levam uma ampla vantagem, sem desprimor para os outros.
O facto de terem frequência obrigatória de um determinado número de horas dedicadas à formação em contexto de trabalho permite a sua integração em equipas experientes e um privilegiado crescimento individual através da interação com outros colaboradores, muitos deles com idade dos seus pais. Este tipo de vivências dá-lhes maturidade.
Se tudo isto é entendível, convém ter presente o reverso da medalha. É verdade que há cada vez mais licenciados e mestres formados pelas instituições de Ensino Superior em Portugal. Mas onde estão os doutores?
A falta de doutorados é hoje uma realidade que afeta, acima de tudo, as instituições de Ensino Superior e os seus centros de investigação. Nas décadas mais próximas, umas e outros vão precisar de repor, ano após ano, docentes nos seus quadros, devido ao expetável e natural êxodo dos que seguirão para a (merecida) reforma.
Não me parece que a melhor desculpa para esta situação seja a questão remuneratória. Embora as tabelas de vencimento não sejam demasiado atrativas, elas estão acima da média, facilmente se equiparando aos salários da maioria dos profissionais qualificados que existem no país. Acredito que este seja sobretudo um caso de falta de interesse ou mero comodismo.
Outro fator importante poderá ser a nossa típica, e já crónica, limitação cultural que endeusa o desenrascanço enquanto método mais eficaz para a resolução de qualquer problema – se o desenrascanço ajuda a resolver, não precisamos de mais!
A questão é que, ao invés, deveríamos aguçar a nossa curiosidade e enaltecer a constante busca do saber em estado sólido. O problema salta à vista: como “desenrascamos” (solução reativa de curta duração para um determinado problema), nunca conseguimos chegar a uma construção de fundo que nos permita resolver algo de uma forma eficaz e duradoura.
Aos doutorados é-lhes pedido que investiguem de forma incessante, que analisem um problema de múltiplas formas, que façam balanços, que desenvolvam novos métodos e técnicas… sempre em busca de novas soluções e resoluções.
Esta figura do doutorado, sempre proeminente na vida académica, tem como poiso certo as salas de aula das universidades e politécnicos. Mas eles são – ou devem ser – cada vez mais o eco da inovação e os principais potenciadores do empreendedorismo, impulsionando start-ups de elevado valor acrescentado que geram postos de trabalho qualificados, criam e desenvolvem produtos ou serviços mais eficientes e sustentáveis, capazes de satisfazer as reais necessidades de todos os ecossistemas – tudo isto em consonância com os valores éticos que balizam a nossa vida em sociedade.
Daí os nossos votos: que venham mais técnicos e doutorados para 2025!