As escolas portuguesas vão necessitar de recrutar mais de 39 mil professores até ao ano letivo 2034/35. Os números foram apresentados este mês, no Teatro Thalia em Lisboa e fazem parte do estudo "Diagnóstico de Necessidades Docentes de 2025 a 2034”, realizado Nova SBE, e que tem em conta os docentes que nesse período serão aposentados. O problema é que as instituições de ensino superior, segundo a oferta atual, só conseguem formar 20 mil professores nesse espaço temporal.
Este é, por isso, o momento das universidades e os politécnicos se chegarem à frente e aproveitarem as condições anunciadas pelo Ministério da Educação, Ciência e Inovação, para o aumento de vagas nos cursos de formação de professores. Uma oportunidade que garantirá mais estudantes nas suas instituições.
As universidades de Lisboa, Nova de Lisboa, Algarve e Trás-os-Montes e Alto Douro, e os Institutos Politécnicos de Lisboa, Setúbal, Leiria, Portalegre, Porto e Santarém deram o primeiro passo nesse sentido, com a assinatura de contratos programa com vista a dar resposta ao problema. Na prática majora-se o apoio por aluno dessas ofertas formativas, estando disponíveis 27,2 milhões de euros para a celebração de contratos, entre os anos letivos 2025/26 e 2029/30.
Importa agora que outras instituições façam o mesmo, que abram mais as suas portas (leia-se vagas) e coloquem o seu saber à disposição daqueles que querem vir a abraçar a profissão docente. Esta medida - a par da estabelecida com a Universidade Aberta, que permite a abertura de 300 vagas para um novo curso, de dois anos, para que os professores com habilitação própria realizem a profissionalização em serviço -, vai contribuir para que o país possa dar resposta às necessidades das escolas.
O envelhecimento da classe docente é uma situação transversal a praticamente todas as escolas, que em muitos casos têm entre os professores “mais jovens”, gente na casa dos 40/50 anos. Para se ter uma ideia, por ano, aposentam-se da escola pública quatro mil professores, um número que irá repetir-se durante o próximo quarto de século.
Se, por um lado, a abertura de mais vagas é uma oportunidade para que muitos jovens optem por esses cursos; por outro, há que tornar a profissão docente mais aliciante. Como referia o meu professor de economia, é “aqui que a fémea do suíno torce o apêndice caudal”. O curto vencimento de arranque nas funções, o excesso de burocracia, ou o andar com a casa às costas, são fatores que podem desincentivar uma geração que não está muito habituada a sacrifícios. No entanto, a garantia de emprego no Estado poderá falar mais alto.
Fernando Alexandre, o ministro que tutela o setor, sublinhou a necessidade de tornar a carreira mais aliciante. O governante classificou ainda profissão docente como a mais importante que existe: “não é por ser professor ou ministro da educação, mas sem esta não há outras profissões. Esta é a mãe de todas a profissões. Desvalorizar esta profissão é um erro que se paga muito caro”, disse.
E a verdade é que assim é. Sem ela dificilmente daremos ao país as ferramentas para as outras profissões. A bola está agora do lado das universidades e dos politécnicos. Esta é também uma oportunidade para o Estado promover a coesão territorial, abrindo mais vagas para estes cursos nas Instituições de Ensino Superior (IES) localizadas no interior do país, as quais, na sua generalidade têm a estrutura preparada para que isso aconteça. É importante que os protocolos não se fiquem por aquelas universidades e politécnicos.
A porta está aberta e cabe às IES fazerem o seu trabalho, apresentando propostas e projetos concretos, envolvendo todas as suas regiões e parceiros para um bem maior, que é a formação de professores em Portugal. Acredito que juntos - Governo, universidades, politécnicos e as regiões - conseguirão cumprir os seus objetivos de diplomar mais docentes e, ao mesmo tempo, promoverem a coesão territorial. Que assim seja.