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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

Opinião Um futuro desafiante da Escola

No auto designado mundo ocidental a escola e os educadores vivem momentos difíceis. A crença de que o aumento do esforço na educação conduziria à obtenção progressiva de melhores postos de trabalho e à melhoria do bem-estar social tem sido posta em causa, não só pelo elevado do número de desempregados com formação académica, mas também pelos incompreensíveis ataques a que a escola pública tem estado sujeita.

Ataques que provêm de meios esclarecidos da sociedade e a que a comunicação social dá eco, sem se interrogar sobre as consequências desse acto. Ataques que surgem pela voz de quem sabe que a escola é uma instituição insubstituível, entregue a profissionais altamente qualificados, a quem as famílias confiam, todos os dias, os seus filhos.

Infelizmente, há quem queira admitir que a escola pode resolver todos os problemas e contradições da sociedade, pelo que aquela se torna vítima evidente das sequelas e contradições do progresso económico e social.

Talvez por isso, nos tempos que correm, muitos educadores encaram o futuro com baixas expectativas e, inclusivamente, com algum receio.

Em boa verdade, a educação experimentou desde a sociedade industrial, e desde então até à sociedade da informação e do conhecimento uma mudança radical. Aliás, o conceito de "mudança" tem dominado o padrão de vida actual exigindo aos profissionais da educação a reorientação das suas funções ao longo do seu "ciclo vital".

Enquanto há apenas uma geração a escola preparava o indivíduo para uma sociedade relativamente "estática", com o impulso da revolução tecnológica e o movimento de globalização, a sociedade e o indivíduo têm que enfrentar a permanente necessidade de se moldarem a uma mudança dinâmica, que todos os dias põe em causa as suas aprendizagens e os seus sabres.

São circunstâncias que têm levado os responsáveis pela construção da Europa a repensar o papel da educação e dos professores, na perspectiva da sociedade do século XXI, sociedade em que se admite não ser mais possível "treinar" os jovens para o desempenho das tarefas “actuais” dos adultos.

 Logo, torna-se indispensável repensar a escola em torno da previsibilidade de algumas das preocupações com que os jovens se confrontarão nas próximas décadas, como o sejam: 1ª- A mudança permanente e acelerada nos domínios cultural, social, técnico, económico e científico; 2ª- A aceitação dessa mudança, o que requer plasticidade, uma visão antecipatória do futuro, e o desejo de continuar a aprender; 3ª- A adaptação para essa mudança; 4ª- A reconversão como processo de sobrevivência profissional.

No fundo, trata-se de se empreender um novo paradigma na educação: o de formar os nossos jovens para saberem sempre aprender ao longo da sua vida, buscando, manipulando e utilizando a informação, com o domínio das novas tecnologias que dão acesso a essa informação disponível.

Para tal, as escolas devem proporcionar aos alunos o acesso às novas tecnologias da comunicação e ao aproveitamento total das bases de dados digitais, adquirindo critérios de escolha entre a informação útil e fiável e a desinformação manipuladora que reina nas redes sociais.

Na sociedade e na escola, a aquisição do conhecimento exige o domínio de novas ferramentas de acesso ao saber, o domínio da procura permanente da informação e da partilha da informação disponível, de forma que possa ser culturalmente aproveitada.

Perante a complexidade do problema, que fazer? Os grandes problemas têm muitas vezes soluções bem simples. Por exemplo: a de reconhecer que os professores e educadores continuam a desempenhar um papel insubstituível na formação dos nossos jovens e que a eles compete o nobre papel de despertar nos alunos a curiosidade, o saber, a autonomia, o rigor, os valores socialmente reconhecidos, criando o desejo para a aprendizagem permanente e para uma participação cívica construtiva.

Reconhecer isto é pedir muito?

João Ruivo
ruivo@rvj.pt

Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico