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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

Opinião A tecnologia e as indigestões

A Direção-Geral de Estatística da Educação e Ciência acaba de publicar o relatório sobre os recursos tecnológicos existentes nas escolas. Os dados dizem respeito a 2022/23 e demonstram o esforço do país em fazer chegar às escolas, alunos e professores, computadores e acesso à internet. Este foi um dos grandes investimentos concretizados em meios informáticos na história da escola pública. A pandemia e a necessidade de se recorrer ao ensino a distância deram o empurrão que faltava para que o acesso às novas tecnologias seja hoje o mais generalizado possível.
Os números falam por si: no ensino básico existe um computador por aluno. No ensino secundário a média é de 1,2 alunos por computador. Juntando os dois níveis, verifica-se que a escola pública apresenta uma média de 1,1 aluno por computador. Significa isto que se atingiu a quase plenitude de um computador por aluno na escola pública. No ensino privado, a estatística demonstra que há 3,1 alunos por computador no ensino básico e 1,9 no ensino secundário, o que dá uma média 3,2 alunos por computador.
Mas os dados demonstram também uma evolução muito positiva no acesso que os alunos têm aos computadores. A entrega de portáteis a todos os alunos é uma medida que faz toda a diferença. Em 2018/19, no 1.º ciclo do ensino básico, um computador tinha que ser partilhado por seis alunos. Hoje cada um tem o seu. No ensino secundário, nesse ano letivo, quatro alunos partilhavam a mesma máquina. Agora a relação é de 1,1 alunos por computador. Mas este estudo diz-nos mais: 77% do equipamento informático nas escolas tem uma idade menor ou igual que três anos. 77% dos computadores são portáteis, 19% são de secretária e 4% são tablets.
Por norma, nós portugueses, somos um povo insatisfeito. Primeiro não havia computadores, agora o problema é que são lentos. Em 2022/23 o acesso à internet também foi quase generalizado a todos os alunos da escola pública, sendo que no privado o número médio de alunos por computador com acesso à internet, varia entre os 3,5 e os 2.
Entre os números, o ter e o não ter computador, a sua utilização dentro ou fora do contexto escolar, para trabalhos da escola ou em situações de lazer, surge a questão da responsabilidade. Responsabilidade delegada pela escola aos alunos e aos seus encarregados de educação para uma utilização responsável desses equipamentos - afinal quem, em casa, os utiliza e de que forma?; mas também da escola para os seus alunos, tornando-os um instrumento de trabalho em sala de aula e no desenvolvimento de trabalhos escolares. Responsabilidade, ainda, da escola na manutenção do seu próprio parque informático, o que muitas vezes é feito à custa da boa vontade dos professores de informática.
Todo este esforço deve ser valorizado. Adotar uma postura de que tudo está mal, de que os computadores que foram emprestados a todos os alunos, de forma gratuita, deveriam ser “mais rápidos”, de que a internet (que a partir de setembro passará a ser suportada pelos encarregados de educação) deveria ter mais Megabytes por segundo; ou de desaprovação face à necessidade dos estudantes terem que levar o equipamento para a escola, leva-me a afirmar que se está a criticar de barriga cheia. E quando assim é, por vezes há indigestões. Esperemos que não.

João Carrega
carrega@rvj.pt