Este website utiliza cookies que facilitam a navegação, o registo e a recolha de dados estatísticos.
A informação armazenada nos cookies é utilizada exclusivamente pelo nosso website. Ao navegar com os cookies ativos consente a sua utilização.

Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

Opinião Poesia de amor

“Poesia de Amor nos Versos de António Salvado” foi o último livro que editei com António Salvado e que veio a público em fevereiro, mês em que o poeta fez 87 anos. É uma antologia, com poemas selecionados pelo autor e prefaciados por José Maria da Silva Rosa, com a capa do pintor Emerenciano (que já tinha emprestado a sua arte à antologia “se canto são as palavras”, organizada por Paulo Samuel e de que também tive a honra de ser o editor). Não chegou a ser apresentado publicamente como era seu desejo. O poeta faleceu aos 87 anos, dia 5 de março, no Hospital Amato Lusitano, em Castelo Branco. O seu desaparecimento significa uma grande perda para a cultura portuguesa e iberoamericana e levou a Câmara da sua cidade a decretar dois dias de luto municipal.
Quis o destino que desde os três anos de idade e durante duas décadas, vivesse na rua onde António Salvado nasceu, paredes meias com a casa onde a sua família residia e que, depois de adquirida pela Junta de Freguesia de Castelo Branco, está a ser alvo de um estudo arqueológico. Por isso, desde criança que ouvia falar do poeta e do diretor do museu. Imaginem a felicidade e a honra de ter tido a oportunidade de editar obras suas.
O último livro é o que marca. Este último trabalho realizado com António Salvado mostrou a sua força interior e o desejo de publicar mais. “Tenho aqui um dossiê que dá para muitos livros”, disse-me uma das vezes que o visitei na sua casa. Este trabalho mostrou toda a sua resiliência à dor e capacidade de sofrimento perante o seu estado de saúde. “Ficou catita”, referiu-me ao telefone.
Infelizmente, a vida não lhe permitiu ver a antologia que estamos a produzir, sobre a sua prosa, num trabalho de Paulo Samuel, que será editado a curto prazo e que reforçará toda a dimensão do escritor.
António Salvado, para além de ter entrado na minha vida profissional passou, em 2021, a fazer parte do percurso do meu filho, Afonso, então com 16 anos, ao apadrinhar o seu primeiro livro, “Bloco de Notas”, escrevendo o prefácio e intervindo na apresentação pública. Esta dimensão, de apoiar e incentivar os jovens poetas, viria a ser reforçada na assinatura do protocolo para o funcionamento da Casa António Salvado, que como desejou, deverá apoiar jovens poetas.
A despedida fez-se com poemas seus declamados pelo filho, Gonçalo Salvado, por Alfredo Pérez Alencart, Costa Alves, Antónia Dias de Carvalho e pela amiga de sempre, Milola, para quem António Salvado “foi um poeta da esperança, da luz, mas também do futuro, da natureza, do amor, da geografia”, A professora acrescenta: “as palavras poéticas de António Salvado eternizam o sentimento que traz a humanidade. Por isso, a presença de António Salvado é perene, preenchendo uma ausência física, usufruindo nós a sua companhia para sempre”.
Partilho, talvez por ter nascido em Angola, um dos poemas de António Salvado que mais me tocam e que escreveu naquele país, na década de 60, durante a guerra colonial:

E eis a chave. Ela abre
todas as portas fechadas:
o MUNDO É REDONDO E CABE
NUM ABRAÇO APERTADO!

À esposa, Adelaide Salvado, aos filhos Pedro, Gonçalo e Isabel, aos netos, restante família e amigos, as minhas sentidas condolências.

João Carrega