Estudos recentes de mercado realizados pela empresa Dare2Care indicam que a população com mais de 65 anos, na União Europeia, aumentará para 129,8 milhões até o ano de 2050, sendo que a maioria da população com mais de 65 anos vive sozinha ou em casal (representando uma percentagem de 79,3), ao passo que os restantes 20,7% residem em instituições ou com familiares.
Atualmente, o rácio de pessoas em idade ativa para pessoas idosas está no índice 3. Todavia, em 2050, prevê-se que decresça para 1,5. Esta previsão indica que haverá metade da população em idade ativa para um aumento exponencial de população acima dos 65 anos.
Assim, questiono: quantos de nós atualmente estamos disponíveis para cuidar de um familiar? Quantos de nós temos recursos materiais e humanos na nossa residência por forma a assegurar as atividades de vida de Outro, como higienizar-se, alimentar-se, vestir-se? Ou como garantir que tem uma vida social, que previna perigos, como perder-se na rua, cair, automedicar-se? Cuidar de um familiar, idoso (ao qual podemos agregar patologias do foro degenerativo como Alzheimer, Parkinson, entre outras), exige tempo, habilidade, conhecimento e empatia por parte do cuidador.
Tendo em conta o custo de vida atual em Portugal, é frequente depararmo-nos com pessoas em idade ativa que trabalham em emprego duplo (ou até triplo) para suportar as despesas a que têm de fazer face diariamente.
Assim, apresentam-se duas grandes problemáticas. A primeira, que corresponde ao decréscimo da população ativa (intimamente relacionado com a baixa da taxa de natalidade) e a segunda, com a falta de tempo para cuidar. Facilmente chegamos à conclusão de que haverá cada vez menos tempo e pessoas para cuidar, pelo que o futuro dos nossos idosos passará pela instituicionalização.
A falta de tempo para cuidar do Outro têm consequências dramáticas, nomeadamente no que diz respeito à gestão medicamentosa.
Um estudo realizado entre o ano 2000 e 2018 revela que as intoxicações fatais – suicidas – por medicamentos aumentaram 0,19 para 0,63 por cada 100.000 idosos, indicando uma variação média anual de 7,7%. As intoxicações fatais – acidentais – por medicamentos aumentaram de 0,25 para 2,67 por cada 100.000 idosos, apresentando uma variação média anual de 16.2%.
Enquanto enfermeira, foi-me ensinado o princípio da não maleficiência e da beneficiência, bem como os conceitos de autonomia e independência, pelo que, quando deparada com estes factos, a equipa Dare2Care da qual sou Presidente e Fundadora procurou encontrar uma solução.
Criámos um dispositivo, alimentado por Inteligência Artificial, que permite aos idosos manterem a sua autonomia na toma da medicação e independência nas suas deslocações, pois podem levar o dispositivo consigo, que os relembra por meio de alertas da toma da medicação, bem como só permite a retirada do comprimido certo, na hora certa, por meio de sensores e mecanismos de bloqueio, estabelecendo em tempo real ligação aos cuidadores formais, informais e equipas de saúde.
Desta forma garantimos o bem-estar do idoso, no que diz respeito à gestão medicamentosa, e aliviamos a exaustão dos cuidadores, tornando esta tarefa dinâmica e interativa, da qual o próprio utilizador (idoso) pode participar, promovendo a sua autonomia e independência.
Esta solução reporta-se não apenas à população idosa como a qualquer outra faixa etária que necessite de tomar medicação com necessidade de supervisão por parte de outro.
Este projeto será divulgado na maior conferência da Europa em tecnologias, Web Summit Lisboa, que decorrerá de 13 a 16 de novembro de 2023 e na qual a empresa Dare2Care terá um stand próprio. O objetivo? Atrair investidores para iniciar a produção dos dispositivos e poder, o mais breve possível, “ser a mudança que queremos ver no mundo”.