Embora ainda não seja claro para a maioria das pessoas, é indiscutível que o ensino a distância oferece todo um mundo novo de oportunidades de educação e desenvolvimento. E sim, é muito mais do que uma mera ferramenta de recurso utilizada em período de isolamento social pandémico.
Recuando a março de 2020, cerca de 397 mil estudantes do ensino superior em Portugal passaram, de uma semana para a outra, a aprender exclusivamente na modalidade a distância sem que ninguém estivesse preparado para o efeito: nem as Instituições de Ensino Superior (IES), nem os estudantes, nem mesmo os docentes.
Na prática, os métodos pedagógicos do ensino presencial foram emulados para o ensino a distância, continuando os docentes a interagir com os estudantes da mesma forma que faziam na semana anterior, como que se a existência de um ecrã a mediar a sua relação fosse insignificante. Naturalmente, não correu bem... pois assim são os planos de contingência: faz-se o que se pode e mitigam-se estragos a cada dia. As IES e os seus docentes tiveram que fazer, em três dias, o que estava por fazer há 30 anos.
Hoje ainda pagamos esta fatura. É que, fruto duma impreparação para a (súbita) transição para o online, o ensino a distância encontra-se depreciado no seio da academia, em particular, e da opinião pública em geral. Estudantes e docentes desenvolveram uma frustração (e alguma aversão) ao online, decorrente da inexistência de um modelo pedagógico específico para esta modalidade de ensino.
O ensino a distância não pode ser encarado como uma mera reprodução do ensino presencial, mas antes, como uma alternativa de elevada qualidade com atributos distintos. Nem melhores nem piores, somente diferentes.
Não sendo destinado ao mesmo público, o ensino a distância não funciona com as mesmas metodologias. Esta modalidade de ensino destina-se, predominantemente, a adultos entre os 30 e os 45 anos de idade, empregados a tempo parcial/integral, com vidas pessoais e familiares maduras, que torna incapaz a sua deslocação aos campus académicos num horário pré-determinado. A flexibilidade de espaço e tempo, proporcionada pelo ensino a distância, preconiza que os estudantes possam desenvolver o seu percurso formativo ao ritmo que melhor se compatibiliza com as suas vidas pessoal e profissional.
É nesse sentido que fazer ensino a distância requer uma estrutura muito diferente da tradicional. A mudança não pode emergir de uma decisão tática de um diretor de curso que acha interessante ter um curso a distância, mas sim de uma decisão estratégica da IES, pois as repercussões vão muito além da dimensão científico-pedagógica. Com a promoção de cursos a distância, toda a IES enquanto organização tem de estar preparada para viver wireless e sem papel: desde a comunicação com o mercado, admissão e gestão de estudantes, promoção de meios de pagamento, emissão de documentos. Também no domínio pedagógico deve existir uma equipa multidisciplinar de digital learning architects e técnicos de produção multimédia que ajudem os docentes a declinar os conteúdos científicos numa experiência académica digital imersiva para os estudantes. É neste sentido que a experiência da Universidade Aberta em Portugal deve ser capitalizada por todos os players como um aporte de valor acrescentado absolutamente decisivo.
O ensino online vai crescer muito nos próximos anos até porque, nos dias de hoje, o percurso de qualquer profissional faz-se também de mudanças de carreira. O upskill (reforço das competências existentes) e o reskill (aquisição de novas competências) são ferramentas essenciais ao sucesso e que o ensino online vem facilitar.
Quando comparado com a União Europeia, Portugal tem uma percentagem de adultos com formação superior muito abaixo da média, segundo indicam os relatórios internacionais. Por exemplo, enquanto a Irlanda tem 50% dos seus adultos com formação superior, Portugal não chega sequer a 30%. Este foi o objetivo do XXI Governo Constitucional ao aprovar o regime jurídico do ensino superior ministrado a distância em 2019: formar 50 mil adultos até 2030. Não tenho dúvidas que, se soubermos utilizar e aproveitar todas as potencialidades do ensino online, será possível ultrapassar esta meta.