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Opinião O envelhecimento e a falta de docentes

Um estudo divulgado este mês pelo Ministério da Educação revela que nesta década serão necessários mais 34 mil 508 professores nas escolas portuguesas. Os números não surpreendem e vêm ao encontro de uma das faces visíveis da escola pública: o envelhecimento da classe docente e a falta de rejuvenescimento dos quadros de professores. Aquilo que este estudo, coordenado por Luís Capela Nunes, da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, também nos diz é que o número de diplomados pelas escolas superiores de educação não serão suficientes para dar resposta a estas necessidades.
Estes dados vem reforçar os resultados do inquérito, desenvolvido pelo Observatório de Cibersegurança, do Centro Nacional de Cibersegurança, entre 20 de outubro e 15 de novembro de 2020. Dirigido aos docentes do ensino não superior em Portugal, o estudo teve 21 mil 126 respostas, a partir das quais se verifica que 78% dos professores do ensino básico e secundários têm idades entre os 40 e os 59 anos. Entre os 30 e os 39 anos a percentagem de docentes é de 7% e com menos de 30, é de 1%.
O país enfrenta, por isso, um problema, que para quem está nas escolas não é novo, mas que vai obrigar à adoção de medidas imediatas que só terão efeitos mais tarde. Por ano são necessários cerca de mais 3451 novos docentes no sistema.
A perceção que a sociedade, em especial os jovens, tem sobre a profissão docente já foi mais positiva. Não por culpa dos professores, que na sua esmagadora maioria o são a tempo inteiro (mesmo fora da escola) e olham para a sua profissão como uma missão. A sociedade reconhece isso, embora com um ou outro tique de falta de respeito.
Os jovens são os primeiros a olhar para os professores com respeito pela importância que estes têm na sua formação, mas também são os primeiros a reconhecer as dificuldades que os docentes enfrentam para desenvolver a sua atividade (burocracia associada às suas tarefas; remuneração pouco aliciante; mau estar provocado pelos mega agrupamentos; indisciplina vivida dentro da sala de aula, pressão por parte dos pais/encarregados de educação de que a escola é sempre a culpada por esta ou aquela situação que corre menos bem, entre outras). Não é por acaso que, apesar desse reconhecimento e da importância que atribuem à figura do professor, não desejam para eles essa profissão. Por isso não se candidatam a esses cursos. Aliás, vão para essas formações os alunos que, regra geral, têm médias menores.
O futuro não é risonho nesta matéria. E a situação, apesar de agora comprovada pelo estudo da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa e da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, era previsível há muito tempo. O Ministério da Educação quer, agora, arrepiar caminho, pretendendo intervir em várias frentes. Ao nível da formação inicial, a intenção passa por colocar os alunos do segundo ano de mestrado em estágio pedagógico nas escolas, com acompanhamento a distância, para que a colocação possa ocorrer por todo o país. A tutela quer também alterar a habilitação para a docência, com a abertura para a entrada de profissionais com formação científica adequada que farão a profissionalização em serviço.
O recrutamento também poderá ser alterado de forma a dar estabilidade no acesso à carreira, garantindo que “os professores poderão entrar diretamente em quadro de agrupamento ou de escola, mantendo a possibilidade de entrar em quadro de zona pedagógica para os docentes que assim preferirem”, como revela a tutela.
O que está em causa é o futuro do país e da escolaridade dos portugueses e de quem, não o sendo, aqui habita. E esse é que é o problema. Resta saber se Portugal, no seu todo, estará à altura de ultrapassar esta questão…

João Carrega
carrega@rvj.pt