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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVIII

Tim Vieira, empreendedor 'Portugal tem de mudar a mentalidade'

24-03-2025

Quer transformar o país com o seu projeto educativo inovador e ambiciona um bom resultado nas eleições presidenciais de 2026. Inconformado com o rumo, Tim Vieira partilha as suas ideias para «dar a volta a Portugal».

É o fundador da Brave Generation Academy (BGA), uma iniciativa nascida em 2020, em Cascais, a cidade onde escolheu viver. Pode falar-nos um pouco deste projeto educativo que pretende ser inovador?

Na verdade, foram os meus filhos que serviram de «cobaias» para este projeto da BGA, que tem como principal característica romper com o modelo tradicional de ensino. Mais adaptado às necessidade dos alunos, mais flexível e mais personalizado.  Queremos gerar menos ansiedade aos alunos e aliviar os professores de qualquer carga burocrática. A filosofia subjacente é que falhar não é o fim do mundo, mas faz parte da aprendizagem. Aliás, privilegiamos bastante a monitorização permanente da progressão da aprendizagem por parte dos alunos. O nome escolhido foi «Brave» porque precisamos de uma geração corajosa.

Este projeto funciona em modo híbrido (“online” e em “hubs”). A quem se dirige, quem pode aceder e a que preço?

Temos 30 “hubs” um pouco por todo o país, 61 à volta do mundo, em oito países (Quénia, África do Sul, Moçambique, Estados Unidos, Suiça, Espanha, etc). É um “networking” enorme. O objetivo primordial é tirar o melhor resultado da tecnologia, online e “offline”. Temos os “learning coaches”, professores  que dão lições presenciais entre 30 a 45 miúdos, dos 12 anos em diante e que têm como principal função, inspirar e motivar. Temos ainda os professores que preparam as lições. Os exames decorrem três vezes por ano. A escola está praticamente sempre aberta, exceto nas habituais férias de Natal e Páscoa. A frequência da BGA custa cerca de 580 euros por mês, mas quem não puder suportar este preço, pode concorrer a uma bolsa. Pode parecer um valor elevado, mas numa escola convencional os alunos pagam 300 euros para fazer o nosso currículo. Um aluno da BGA custa-nos metade do que um aluno custa ao Estado. E aqui o estudante consegue ter todas as aulas, com flexibilidade e personalização.

A questão da falta de equivalência no acesso às universidades é um obstáculo para a progressão deste projeto?

Ainda não conseguimos ter equivalência do nosso modelo para entrar em universidades portuguesas. Mas pelos contactos que tenho tido com responsáveis do governo e de outros setores acredito que estamos quase lá. Este é um entrave que queremos resolver o mais rapidamente possível, até porque são cada vez mais as crianças e as famílias que confiam no nosso projeto. Entretanto, estamos a avançar no projeto BGA, abrindo “hubs” dentro das próprias escolas, mais concretamente em 52 estabelecimentos de ensino, alguns deles em Portugal. É uma ajuda muito importante para suprir a falta de professores, de disciplinas e até de determinados currículos. No fundo, queremos ser parceiros das escolas e contribuir para que elas vençam os desafios com que se confrontam.

Já aqui disse que objetivo é que a BGA se generalize junto das escolas públicas. Um modelo tradicional e ultrapassado conseguirá coexistir com uma abordagem mais moderna?
A escola pública tem de se envolver nesta mudança. O sistema tradicional de ensino existe há muitos e muitos anos, mas estava formatado para que as crianças e os jovens desempenhassem determinadas profissões. Hoje o mundo é diferente. E o que se constata é que há alunos, professores, pais e empregadores que não estão felizes. É preciso transformar o sistema e encontrar soluções. E a cada dia que passa a situação vai-se arrastando e estamos a roubar futuros. Sem pessoas preparadas e motivadas, o futuro do país pode estar seriamente ameaçado. É quase criminoso. Os alunos de hoje precisam de aprender de maneira diferente e é preciso não esquecer que alguns apresentam necessidades especiais, para as quais o Estado não consegue dar resposta.

Portugal evoluiu muito nos últimos 50 anos, mas as lacunas em termos de educação são ainda notórias. Confia que a educação e o ensino podem ser os motores de um país que ambicione ser diferente?

Infelizmente, o tema do rearmamento da Europa está na ordem do dia. Mas gosto de citar o ex-presidente sul-africano, Nelson Mandela: «A educação é a arma mais poderosa do mundo.»  Como escola e como educadores deviamos deixar à margem estes argumentos e discursos belicistas da sociedade.  A sociedade está a andar muito mais rápido do que os modelos educativos e não há tempo a perder. Não podemos continuar no passado. É preciso arriscar, experimentar, fazer diferente. A maneira como estamos a fazer educação hoje em dia é uma estupidez. Com isto continuamos a perder talento para o exterior.

Os seus pais emigraram para Moçambique e depois para a África do Sul, onde nasceu. Nunca renegou as origens portuguesas e agora quer chegar à Presidência da República, nas eleições de 2026. Já recolheu as 7500 assinaturas obrigatórias? 

Já temos mais de metade. Vamos agora iniciar uma ação de rua para angariar mais assinaturas. Mas acredito que vamos conseguir este objetivo. Até pelas pessoas que já demonstraram vontade em participar neste movimento e que querem fazer parte de uma mudança e protagonizar uma nova visão para Portugal.

O inconformismo que demonstra com o rumo do país é o que explica a sua candidatura a Belém?

Sem dúvida. É preciso um sistema diferente e políticos diferentes, que não sejam provenientes do mesmos partidos de sempre. Já tivemos muito tempo disso. Quero dar a volta ao país. Nasci na África do Sul, sou português, podia estar a viver em qualquer sítio do mundo, mas escolhi residir aqui. Porque quero retribuir o que o país me deu. Se for Presidente da República quero dialogar com os partidos e torná-los mais responsáveis, cumprindo o que prometem em campanhas eleitorais. Admito que não é uma tarefa fácil, mas temos de fazer alguma coisa porque o potencial deste país e das suas pessoas não pode ser desperdiçado. Estive há pouco tempo em Genebra, na Suiça, e em contacto com a comunidade portuguesa, ouvi alguns dizerem que não querem regressar ao seu país. Queixam-se que vão sofrer uma taxa de 40 por cento na sua pensão. Não faz sentido.

Na sua campanha eleitoral os jovens, muitos alheados da vida política, serão os principais destinatários?

Sim, os jovens são o futuro, mas quero falar para todos os portugueses. Estarei cá para trabalhar com todos e para todos. Nunca fui um político e em nada contribuí em matéria de decisões para a situação em que Portugal se encontra, ao contrário de alguns políticos de carreira que agora vão concorrer comigo. Mas preocupa-me que os jovens se estejam a afastar da política e que tenham perdido a sua identificação nos políticos.

No livro «O melhor está para vir» identifica a «lamentação coletiva» como um «desporto nacional». O pessimismo, o fatalismo e o fado são várias partes de uma certa estranha forma de vida?

Temos um bocado disso. Portugal tem de mudar a mentalidade. Quero um país com mente empreendedora, mente mais virada para o sucesso e não ter medo de falhar. O meu livro é uma forma de as pessoas me conhecerem melhor, nomeadamente o meu passado, as minhas histórias de vida e alguns episódios motivadores e inspiradores.

Foi a participação no “Shark Tank Portugal”, em 2015, que o tornou conhecido do grande público. 98 por cento do tecido empresarial português é constituído por micro, pequenas e médias empresas. Este é um sinal de que há uma lógica de «quintinha» que inviabiliza um “mindset” empreendedor?

Respondo da seguinte forma: os bancos concedem crédito para comprar casa, mobiliário e automóvel. Mas para conceder empréstimos ou outro tipo de fundos para fazer crescer a economia, recusam. E se derem e correr mal, a pessoa que pediu está desfeita e o estigma vai perdurar durante muito tempo.  O excesso de regulamentos, burocracia e impostos matam-nos! Hoje em dia quem quer criar uma empresa acaba por ser penalizado e quem quer viver de subsídios acaba por ser premiado. Em Portugal trabalhar mais é um castigo. Não pode ser.

Vivemos uma inegável crise democrática e dos partidos tradicionais, com os atos eleitorais a sucederem-se. Acha que este contexto abre caminho a que, porventura, já nas próximas presidenciais uma personalidade sem apoio partidário possa ser eleita para Belém? Refiro-me em concreto, a Gouveia e Melo...

Prefiro falar de mim próprio: sou independente, não tenho apoio de lóbis, não tenho agendas. Acredito que estou em posição para um bom resultado. As pessoas vão ter de fazer escolhas. O busílis da questão reside em pensar diferente. E se pensarmos diferente, as escolhas eleitorais serão diferentes. Os políticos não estão a representar convenientemente o nosso povo. Olho para eles e não vejo Portugal. Cabe aos eleitores votar: em mais do mesmo ou votar diferente.

 

A CARA NOTÍCIA

Um português do mundo

Tim Vieira nasceu em Joanesburgo, em 1975. É um empreendedor visionário, um empresário de sucesso e um verdadeiro cidadão do mundo. Casado e pai de três filhos, abandonou os estudos universitários nos anos 90 para fundar uma microcervejeira independente na África do Sul. A sua paixão e ousadia levaram-no a Angola, em 2001, onde cofundou um dos maiores grupos de “media”. O público português conheceu-o quando fez parte da equipa do programa televisivo “Shark Tank Portugal”, em 2015. Atualmente a residir em Portugal, é o CEO da Brave Generation Academy, um projeto inovador na área da educação, e mantém negócios em diferentes setores, do imobiliário ao cinema. Em 2023, anunciou a sua candidatura às eleições presidenciais de 2026. "O Melhor Está Para Vir" é o seu primeiro livro, editado pela Oficina do Livro.

Nuno Dias da Silva
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