Este website utiliza cookies que facilitam a navegação, o registo e a recolha de dados estatísticos.
A informação armazenada nos cookies é utilizada exclusivamente pelo nosso website. Ao navegar com os cookies ativos consente a sua utilização.

Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

Rui Calafate, comentador da CNN Portugal 'Os políticos têm de ser muito mais bem pagos'

22-04-2024

O sistema político e os partidos precisam de melhorar, mas as condições de atratividade também. Só deste modo será possível atrair os mais capazes que são formados nas universidades e levá-los a sentir o gosto de servir o país. Nos inúmeros conselhos que partilha, Rui Calafate defende que «transparência» deve ser a palavra-chave na relação entre eleitos e eleitores.

Um político que quiser vingar na sua carreira terá de, necessariamente, seguir os seus «10 mandamentos da política»?

Para começar, o convite da editora Leya para fazer o livro que agora lancei surgiu em 2022. Infelizmente, nesse ano, não consegui dar uma resposta ao desafio. Só em 2023 é que parei para pensar e aceitei o repto. Em resumo, são conselhos para políticos, mas que pretendi que se dirigissem ao leitor comum tendo, por isso, privilegiado uma prosa agradável e acessível. Com a experiência e o saber político e cultural que acumulei ao longo da minha vida construí 10 mandamentos que acho que dão jeito a todos os políticos. Até porque entendo que, de uma forma geral, os políticos portugueses leem pouco.

Partilha pequenas, mas incisivas histórias, sobre políticos nacionais e internacionais…

Sim, é um convite para que se fique a conhecer múltiplas referências: não só da política, mas também da cultura, da literatura, do cinema e das séries televisivas. Aliás, todo o livro, para além de divertido e dinâmico, está polvilhado de pequenas histórias, muitas referências culturais, não apenas para suscitar o interesse do leitor, mas para desenvolver o lado intelectual de quem o lê, nomeadamente alguns dos principais destinatários: os políticos.

A arte do possível, como também é conhecida a política, resume-se, nos dias de hoje, ao tridente imagem, comunicação e poder?

A imagem e a comunicação são fundamentais, mas o poder é o sal de tudo. Aliás, logo na introdução, o título é precisamente «macht, macht, macht». Traduzido do alemão para o português é «poder, poder, poder». Helmut Kohl conhecia desde muito jovem Angela Merkel e cedo se apercebeu que o que a movia era o gosto pelo poder.  E não há nenhum político que não tenha gosto pelo poder.  Em suma, a vontade e o afã de ter poder são condimentos e vitaminas essenciais. Mas a esses três ingredientes falta acrescentar outro: substância.

Esse é o ponto fraco dos políticos dos tempos modernos?

Muitas vezes falta substância aos políticos, tanto cá, como no estrangeiro. Prevalece a forma sobre a substância. É tudo muito trabalhado para o título, para o “lead”, para o destaque nas redes sociais, para o rodapé das televisões. Nos Estados Unidos, uma investigação analisou milhares de canções “pop” no período compreendido entre 1970 e 2020 e a conclusão foi que a qualidade das melodias e das letras baixou ao longo dos anos. Este é apenas um poderoso sinal de que os tempos modernos obrigam a coisas mais simples e mais fáceis. Objetivo: serem digeridas mais rapidamente. Tipo pastilha elástica.

Isso deve-se à fulgurante e massiva presença das redes sociais junto da população, em especial nos jovens?

Sem dúvida. Esse poder e projeção ganho pelas redes sociais é irrefutável. Os conteúdos têm de ser necessariamente curtos para chegar aos destinatários. Não é por acaso que um dos conselhos que dou aos políticos é «explora as tecnologias».  Já dizia Gianroberto Casaleggio, um especialista em “marketing” que fundou o Movimento 5 Estrelas, em Itália: «Se o teu filho gosta de política, não o metas num curso de ciência política. Mete-o em matemática e física». Porquê? O que conta no futuro é quem controla os algoritmos. O mesmo é dizer, as redes sociais, o “deep fake” e a inteligência artificial.

A era da política entretenimento e espetáculo surge com a ascensão de Trump ao poder, em 2016, e prossegue, por exemplo, com Bolsonaro no Brasil e Milei na Argentina. Vê alguma possibilidade de retrocesso neste caminho?

O primeiro líder a controlar e a trabalhar verdadeiramente a sua imagem através das redes sociais foi Narendra Modi, o primeiro-ministro da índia. Foi ele o primeiro a explorar o Twitter (atual X) como meio de contacto direto com os seus eleitores – inclusive mesmo antes de Trump. A Índia é um país muito subdesenvolvido em diversos indicadores sócio-económicos, mas está extraordinariamente avançada em termos tecnológicos. Steve Bannon esteve nos bastidores de Trump em termos estratégicos e a partir desse êxito construiu uma internacional populista, em que replicou a mesma cartilha a diversos líderes de extrema-direita. Salvini, em itália, e Orbán, na Hungria, são dois exemplos. Mas deixe-me fazer a ressalva: Trump é um caso à parte por se tratar de um homem do espetáculo, a estrela dele próprio, que fez o seu percurso à margem do Partido Republicano. Para ser sincero, Trump tem pouco de republicano ele, na verdade, é um “trumpista”. Mas foi Bannon que introduziu as técnicas, os conceitos e os métodos de comunicação política que ainda hoje perduram em vários líderes da extrema-direita. E com resultados evidentes. Meloni conquistou o governo de Itália, Geert Wilders venceu nos Países Baixos e o Chega de André Ventura conseguiu 50 deputados e ser o terceiro partido mais votados nas últimas legislativas em Portugal.

Boa parte da fulgurante ascensão do Chega explica-se pela comunicação direta nas redes sociais?

O Chega é um fenómeno fortíssimo nas redes sociais, muito bem trabalhado, em especial no Tik Tok, onde acumula centenas de milhares de visualizações. Vamos ver agora como se resolve esta aparente suspensão por 10 anos no Facebook. Mas acredito que para eles há outros meios de alcançar os seus eleitores. Sublinho só o seguinte: André Ventura, para além de ser um líder político, é também uma estrela “pop”, o que faz com que entre, rapidamente, nas faixas etárias mais jovens.

«Prever muito, improvisar pouco», é uma frase de Karl Rove, o estratega de George W. Bush, que cita no livro. Gafes em política sempre existiram e a realidade é dinâmica, mas um político quando sai de casa pela manhã tem a perfeita e absoluta noção se vai falar e, em caso afirmativo, o que vai dizer?

Se não cumprir o guião que pela manhã tem na cabeça é amador.  E isto pode ser numa conferência de imprensa ou numa cerimónia pública em que participe. Pegando na frase de Karl Rove, se prevermos tudo, quase com toda a certeza a estratégia seguirá no bom caminho. Se se improvisar, ou houver necessidade de improvisar, significa que a estratégia terá de ser adaptada, podendo escapar ao nosso controlo.  Mas é evidente que, como disse, a realidade é dinâmica e pode haver assuntos ou acontecimentos que obriguem a fugir ao guião.  O primeiro-ministro pode, por exemplo, estar preparado para falar dos pensionistas e acontecer, subitamente, uma crise internacional. O guião muda automaticamente. Mas o importante é que sejamos sempre os senhores da nossa estratégia e não andemos atrás do acontecimento do dia. Se isso acontecer, seremos um cata-vento. Pedro Passos Coelho tinha defeitos, mas também muitas virtudes. Tinha um rumo e um destino traçado. Delineava a estratégia a seguir. Mas, por vezes, falhava na parte tática por lhe faltar um certo jogo de cintura e lidava mal com a comunicação. António Costa, pelo contrário, sempre foi um especialista em jogo de cintura. E, como o próprio admitiu, sempre foi um exímio construtor de “puzzles”, enquanto hóbi, para desanuviar de um intenso dia de trabalho. Mas até faz sentido porque a política é um “puzzle” com milhares de peças à espera de serem encaixadas.

Uma das armas fortes dos políticos é a gestão do silêncio. Mas como é que se fica em silêncio com a pressão mediática que rodeia a vida política?
Luís Montenegro esteve irrepreensível, da fase de construção até à tomada de posse do governo. Praticamente correu tudo bem e fez tudo em silêncio, quase sepulcral. Hoje em dia, como se sabe, há muito comentário nos canais de informação, muito espaço mediático para preencher. Apesar disso, cabe ao primeiro-ministro saber quando é que tem de falar. Terá de ser ele a gerir o seu tempo e a gerir as expetativas.  Montenegro durante a campanha geriu as expetativas, porque baixou-as. Correu bem. No primeiro passo que deu falou sobre a questão do IRS quase como se fosse uma “bomba atómica” e criou a seguinte expetativa: para lá do que estava no Orçamento para 2024 ainda injetaria mais 1500 milhões de euros. Resultado: as expetativas baixaram.  Os futuros líderes que amanhã sairão das universidades para o mercado de trabalho – empresas, instituições ou projetos pessoais – têm de ter esta máxima em mente: um líder, seja ele qual for, homem ou mulher, em que circunstâncias e meio for, é em primeiro lugar um gestor de expetativas. Na introdução do livro cito uma frase da temporada 3 da série “Billions”: «Há muitos a ver filmes de Bruce Lee, não quer dizer que saibam karaté». Posso confessar que foi uma das frases que mais me inspirou para escrever o livro desta maneira.

Os políticos lidam mal com a verdade?

Maquiavel que era, acima de tudo, um cínico, é uma das minhas inspirações. Sabia todos os mecanismos do poder. Modéstia à parte eu também, ando nisto há 28 anos. Fui jornalista, tive a responsabilidade de liderar a comunicação da maior câmara municipal do país e também estive como adjunto político de um primeiro-ministro. Do 25 de abril até aos dias de hoje só deve ter havido dois políticos que nunca cumprimentei, simplesmente porque não calhou: um foi Álvaro Cunhal e outro Cavaco Silva. Isto tudo para dizer que sei bem que a política é feita de muito cinismo. Sobre a verdade, costumo dizer: «Entre a transparência e a opacidade, a transparência, sempre». Ou seja, entre a verdade e a mentira, verdade sempre…se puderes. Lá está, como dizia Winston Churchill: «um político que não sabe mentir é incompetente».  Como em política nem sempre se pode dizer tudo, omite-se. E há assuntos que têm de ser geridos com a importância de Estado e não podem, até dado momento, ser divulgados na praça pública.

Com um governo tão frágil como é o atual, estou certo que vão existir muitas conversas entre o ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte e todos os outros partidos da oposição. Isso tem de se saber? Não. E não é fugir à verdade. A política tem muito a ver com a arte do compromisso, nas sombras, nos silêncios, nas omissões. Um político deve evitar ao máximo ficar com a fama de mentiroso, sob pena de arruinar a sua reputação, e, por isso, e sublinho, deve, sempre que pode, dizer a verdade.

Carisma e “gravitas” são traços e características em vias de extinção na política portuguesa desde Sá Carneiro, Cavaco Silva e Mário Soares?

Não concordo. Importa não confundir os conceitos de carisma e “gravitas”. Vou dar exemplos concretos. Pedro Passos Coelho e Durão Barroso tinham “gravitas”, apesar de este último nem ter sido um grande primeiro-ministro. Contudo, o que foi depois presidente da Comissão Europeia não tinha carisma. Pedro Santana Lopes tinha carisma, mas não tinha “gravitas”. Na cena internacional, JF Kennedy esbanjava carisma, mas “gravitas”, como viemos a saber, tinha pouco. Os quase três anos em que esteve como presidente dos Estados Unidos foram um desastre. O melhor dos Kennedy, Robert, acabou por não chegar lá, e também como o irmão acabaria assassinado. Em Portugal, neste momento, não há nenhum dos principais líderes políticos com “gravitas”. André Ventura tem carisma, Pedro Nuno Santos tem algum carisma, Luís Montenegro não tem carisma. Aliás, o primeiro-ministro não tem “gravitas”, nem carisma.

Já vi que acalenta baixas expetativas sobre o recém-empossado líder do governo…

Não quero que se veja esta minha análise em tom depreciativo. Luís Montenegro é um homem totalmente normal e às vezes também é bom termos homens normais. O seu desempenho vai depender da sua qualidade e competência.

As televisões são um campo de debate dialético entre comentadores e também políticos, alguns deles deputados. Por vezes o ecrã torna-se uma espécie de mini-Parlamento. Quais são as rotinas preparatórias de um comentador para analisar diariamente a vida política de um país?

Na rua já me abordaram e fizeram-me a seguinte pergunta: «Em quem é que o senhor vota?» Faço uma declaração de interesses: Nunca pertenci a nenhum partido político e não represento qualquer partido político, apesar de já ter trabalhado com o PSD, o PS, o CDS e até o PAIGC da Guiné-Bissau. Na televisão digo tudo o que me apetece e às vezes agrado à esquerda e outras à direita. O fundamental para comentar na televisão, seja o que for, é não ter preconceitos. E eu não tenho preconceitos, contra pessoas ou partidos.

Depois dessa introdução, como se prepara durante o dia para os comentários em “prime time”?

Para começar, a política está-me no sangue. Vivo a política desde os 6/7 anos. A vasta experiência profissional é um fator decisivo: conheço todos os políticos e os seus percursos, da mesma forma que conheço bem os portugueses. Aliás, eu falo para os portugueses. Ler muito e ter mundividência são outros aspetos fundamentais. Não acredito em comentadores que só leem o jornal da manhã. Os conteúdos do dia são importantes, mas é essencial ter memória do que aconteceu no passado. E depois há informação que nos é fornecida, em certas ocasiões, por políticos. Isso aconteceu, por exemplo, durante a visita do Papa Francisco a Portugal, em que solicitei ao então ministro da Administração interna, José Luís Carneiro, dados sobre os meios de segurança envolvidos. A informação foi-me disponibilizada e permitiu-me complementar e enriquecer o meu comentário. Este é um bom exemplo de como é salutar para todos que haja uma proximidade desinteressada entre decisores (podem não ser só políticos) e a chamada bolha ou mercado mediático.

Para além dos eventuais comentários menos agradáveis que recebe nas redes sociais, costuma receber pressões?

Não. Tenho algumas regras que ajudam a que isso não aconteça: primeiro, estou vacinado quanto a redes sociais. Tenho, mas não alimento qualquer comentário – por acaso, e pelo que me dizem, até acho que nem sou dos que leva mais pancada. Segundo, não levo o telemóvel para dentro do estúdio, como muitos colegas meus fazem. Terceiro, antes de entrar para o estúdio, não gosto de ouvir outros comentários, justamente para não me influenciar. Para além disso, os políticos conhecem-me. Sou um tipo muito duro. Por isso, se houver alguém que ouse tentar pressionar-me, é capaz de se virar o feitiço contra o feiticeiro.

O já falecido jornalista Emídio Rangel dizia que a televisão deveria vender presidentes como sabonetes. O programa de Marcelo Rebelo de Sousa aos domingos levou-o, tranquilamente, a ser eleito Presidente da República. Marques Mendes e Paulo Portas, também com programas aos domingos à noite, estão a fazer o seu caminho com o mesmo fito?

A imprensa tem perdido poder, as redes socias ganharam um enorme ascendente, mas a televisão é sempre a televisão. Quando surgem convites para os principais políticos darem entrevistas as respostas dos assessores são quase sempre as mesmas: «Televisão? Todas. Jornais? Logo se vê. Rádio? Falamos mais tarde.» Isto para lhe dizer que apesar do desgaste dos “media” tradicionais, a televisão é sempre prioridade absoluta. É na televisão que se chega a um segmento eleitoral global, mais capilar, mais amplo e que atinge um maior estrato de camadas etárias. Um político prestar declarações para um jornal ou falar para uma rádio é apenas um fator reputacional. A televisão possibilita uma maior notoriedade. Mas como defendo no livro, a reputação vale mais do que a notoriedade. A primeira demora mais tempo a construir, mas é mais duradoura. A notoriedade pode desgastar-se, num ápice.

Insisto: Mendes e Portas querem imitar Marcelo ou a popularidade que têm não é comparável com a que o atual Presidente granjeou para chegar a Belém?

Marcelo conquistou os portugueses, à esquerda e à direita, com os seus simpáticos comentários durante 15 anos, na RTP e na TVI. Marques Mendes e Paulo Portas estão num patamar superior para serem presidenciáveis face a outros com menos notoriedade. Ambos têm uma relação de confiança, de proximidade – quase de amizade – com os telespetadores que assistem ao seu programa semanal.

A Medialivre, empresa dona do “Correio da Manhã”, anunciou a criação, para breve, de mais um canal de informação 24 horas. Há mercado para quatro canais deste tipo?

Com mais este “player” olho com alguma apreensão para a viabilidade financeira destes projetos. É sabido que para ter uma situação financeira sólida têm de alcançar, em média, três pontos de “share”. E isso não tem estado a acontecer este ano. Com mais um concorrente, o mercado ficará mais dividido, e há ainda a questão publicitária. Mas isto vai trazer, sob outro ponto de vista, mais pressão para os próprios decisores políticos e, naturalmente, um maior escrutínio. Vão surgir certamente novos comentadores e novos rostos, com opiniões próprias. Isso é positivo. O consumidor de informação sairá a ganhar. E mais um órgão de comunicação social – numa altura tão crítica para o setor – é sempre de saudar.

Nos tempos em que vivemos há algum governo, maioritário ou minoritário, que na sua gestão diária consiga blindar-se contra os «casos e casinhos» que vão surgindo?

Nenhum está blindado contra os «casos e casinhos» porque o erro é humano, os humanos vão errar sempre e as pessoas que constituem os governos têm um passado que não podem apagar ou reescrever. Até os que preenchem os questionários para avaliar as condições políticas para serem membros do governo podem mentir. O atual primeiro-ministro teve um assunto com a sua casa em Espinho e o ex-líder do executivo demitiu-se por causa de um comunicado do Ministério Público. O próprio Presidente da República tem a sombra do «caso das gémeas». Moral da história: nenhum político, esteja em que cargo estiver, está imune a ficar sob suspeita. Por isso, nos próximos tempos, transparência tem de ser a palavra-chave na relação dos políticos com as pessoas. Enquanto houver opacidade, surge a dúvida.

A polémica em relação ao IRS foi uma entrada em falso do governo?

Acima de tudo beliscou a credibilidade, porque em termos reputacionais a relação de confiança fica afetada e macula a sua imagem. É uma brecha na relação de confiança entre o primeiro-ministro e os portugueses.

A maior ou menor longevidade deste governo será determinada pelas sondagens?

Vai depender do desempenho do primeiro-ministro, da qualidade dos ministros e se executa as políticas de que o país precisa. Se, entretanto, as políticas que apresentem chegarem às pessoas, os eleitores vão penalizar nas urnas quem precipitou a queda do governo. Se o governo fizer o seu trabalho, e mesmo assim houver eleições antecipadas, as pessoas vão premiar o executivo.

São notórias as dificuldades dos partidos políticos em recrutar os melhores da sociedade para os seus quadros e até para elencos governativos. As forças partidárias têm urgentemente de se reinventar para atrair talento?

Não são apenas os partidos que precisam de melhorar, o próprio sistema político globalmente precisa de melhorar. Só com um ambiente mais respirável será possível atrair os melhores que são formados nas universidades a sentirem o gosto de servir o país. Enquanto o ambiente não mudar, teremos na política aqueles que fazem carreira nos partidos e depois ascendem via aparelho. Dou o exemplo de Elvira Fortunato, uma das cientistas mais brilhantes do país, que pouco depois de ter tomado posse como ministra foi confrontada com um caso envolvendo o ex-marido. Afinal, veio a concluir-se que não era nada. Vale a pena, uma pessoa altamente reputada e com uma carreira de prestígio, ver a sua imagem manchada nos jornais e nas televisões?

A reputação é importante, mas a questão monetária não é despicienda. Ganha-se mal na política?

É preciso criar condições de atratividade e atrair jovens que dominem as principais tendências do desenvolvimento tecnológico, que é onde reside a base do país e do mundo. Mas para começar os políticos têm de ser muito mais bem pagos. A métrica para definir os ordenados de líderes de empresas tem de ser o vencimento do Presidente da República. Para ser franco, gostava de ver Paulo Macedo no governo. Mas o atual presidente da CGD ganha dezenas de milhares de euros. Alguém acha que vem para o governo auferir 3500 euros líquidos? Isto é ser bem pago? Vai colocar em jogo a sua reputação?

 

A CARA DA NOTÍCIA

Braço direito de Santana Lopes

Rui Calafate é consultor de comunicação e acumula três décadas de experiência profissional. Como jornalista, foi redator de política e editor da secção de internacional do jornal «Semanário», diretor-executivo da revista «PM» e fundador da revista «Política Moderna», que dirigiu durante três anos. Posteriormente, foi responsável pela comunicação da Câmara Municipal de Lisboa e adjunto político de Pedro Santana Lopes, primeiro-ministro no XIV governo constitucional. É comentador da CNN Portugal, colunista do «Jornal Económico», do «Record» e autor do podcast «Maquiavel para Principiantes». «Os 10 mandamentos da política», editado pela Oficina do Livro, é a sua estreia em livro.

Nuno Dias da Silva
Direitos Reservados
Voltar