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Pedro Mendonça Pinto, jornalista e pivô O português que trabalhou com os presidentes da UEFA

20-05-2022

Pedro Mendonça Pinto passa em revista uma carreira de sucesso e reconhecimento internacional, primeiro na CNN e depois na UEFA. Atualmente a colaborar com a Eleven Sports, antecipa o duelo entre Liverpool e Real Madrid, a 28 de maio, em Paris.

Esteve no lançamento do projeto Eleven Sports, em 2018, como diretor não executivo. Posteriormente, assumiu as funções de pivô nas noites da Liga dos Campeões. Que balanço fez deste projeto com menos de quatro anos?

O impacto principal da Eleven Sports no mercado português foi inovar a forma como se trata, não só o futebol, mas o desporto em geral, entendendo-o como um produto de entretenimento. Sempre com o foco de celebrar e festejar os grandes momentos que o desporto nos oferece, sempre em comunhão com os adeptos. A Eleven assumiu-se como um novo “player” num mercado dominado por outro canal durante décadas, mas, em jeito de balanço, acho que esta competição acabou por melhorar o produto disponível para os telespetadores. Aliás, o “feedback” dos nossos subscritores e seguidores nas redes sociais foi neste sentido: o mercado das transmissões televisivas de desporto estava a precisar de uma lufada de ar fresco. Historicamente, tratou-se sempre o futebol e os programas dedicados ao desporto de uma forma muito política e algo séria, e o que tentámos trazer foi uma visão mais internacional, mais leve e mais divertida.

No dia 28 de maio realiza-se em Paris a final da Liga dos Campeões, entre Liverpool e Real Madrid. Que cobertura é que a Eleven Sports preparou para esse jogo?

Irei estar no relvado do Stade de France, em Paris, na companhia do nosso comentador, o Fernando Meira. Vai ser uma grande emissão de 48 horas dedicadas à “Champions”. Antevejo um grande jogo para fechar com chave de ouro uma temporada espetacular de jogos da “Champions”.

A par com a colaboração com a Eleven Sports, é sócio de uma agência de comunicação, focada no desporto, que trabalha, entre outros, com João Mário, Nani, Cédric e Paulo Fonseca…

A minha agência de comunicação trabalha na área da assessoria de imprensa e na criação e gestão de conteúdos para atletas, treinadores, dirigentes, clubes, federações, marcas, etc. Temos clientes nestas áreas todas.

Foi na CNN Internacional, como chefe do departamento de desporto, que atingiu o auge da carreira na televisão. Quais os principais desportistas que teve oportunidade de entrevistar?

Estive em Atlanta, a sede da CNN, cinco anos e meio e depois permaneci em Londres sete anos. Foi um longo período em que tive a oportunidade e o privilégio de falar com alguns dos principais desportistas do planeta. No futebol, destaco o Cristiano Ronaldo e o Messi, com quem falei algumas vezes. No ténis, o Roger Federer, uma pessoa com quem ainda hoje mantenho uma excelente relação. Tive o privilégio de falar com o nadador Michael Phelps, uma verdadeira lenda na história dos Jogos Olímpicos, e que é um dos melhores nadadores de todos os tempos. Na Fórmula 1 entrevistei também o Michael Schumacher. Estes foram apenas alguns dos maiores e melhores desportistas com quem me cruzei, mas foram muitos mais.

Recuando no tempo, começou a carreira no “Caderno Diário” da RTP, um magazine para jovens, antes tinha estado no «Um do li tá», com Vera Roquete, e o «Sempre a abrir». Mas o objetivo sempre foi o departamento de desporto da RTP, mas sem sucesso. As portas nunca se abriram. Porquê?

No início da minha carreira regressei a Portugal depois de ter terminado o curso de comunicação e “broadcaster” nos Estados Unidos. Enviei o meu currículo para vários meios de comunicação. Em Portugal, acabei por fazer os trabalhos que descreveu na RTP, no departamento infantil e juvenil. E foi uma excelente forma de lançar as bases da minha carreira. Contudo, a minha ambição foi sempre trabalhar no meio desportivo. Aquando da minha passagem pelos Estados Unidos, tive oportunidade de estagiar na NBA e outras experiências com o circuito profissional de golfe, e no jornal da minha universidade escrevia sobre os jogos de futebol.  Por isso, uma vez em Portugal, tentei a minha sorte na direção de informação e desporto em busca de uma oportunidade. Infelizmente, nunca me foi dada essa chance. Em Portugal, o acesso às oportunidades está muito focado nos contactos que se tem e menos nas mais valias e qualificações dos candidatos. Mas não desisti e procurei outros caminhos.

Depois de tantos anos no estrangeiro e depois do regresso a Portugal, o que é que se sente mais e menos falta do nosso pais?

Ao todo estive mais de 20 anos fora. A trabalhar, foram cinco anos nos Estados Unidos, sete anos em Inglaterra e quatro na Suíça. O que se sente mais falta do país são as saudades da família e das grandes amizades que aqui fiz e sempre alimentei. À medida que profissionalmente ia ganhando experiência no estrangeiro, fiquei consciente que dificilmente regressaria a uma estrutura portuguesa. Em Portugal, para o bem ou para o mal, as relações pessoais são, muitas vezes, mais importantes do que as relações profissionais. Quando estou inserido num projeto profissional gosto que o foco esteja no produto e no resultado e não no processo e nas pessoas que têm de estar envolvidas nele. Por vezes, perde-se muito tempo em discussões sobre esse mesmo processo e pouco tempo no trabalho de equipa que pode levar a um produto melhor. Lá fora, é diferente. Nos países por onde passei, o mais importante é sempre preparar e apresentar o melhor produto, seja um programa, um evento ou outra coisa qualquer. O importante são as melhores pessoas, não necessariamente as mais importantes.

O Jornalismo é uma área que atrai muitos jovens, mas a oferta de trabalho não chega para a procura. Como perspetiva o futuro da profissão?

Esta é, de facto, uma profissão que exige muitas horas de trabalho, e que, numa fase inicial, está longe de ser bem paga, mas é uma etapa que deve ser encarada com naturalidade no início de qualquer carreira. Também me aconteceu o mesmo. Faz parte do percurso. Mas faz sentido uma pessoa, ainda por cima jovem, investir muitas horas numa profissão pela qual se sente apaixonada.  O grande desafio do Jornalismo hoje em dia é a procura da verdade e distinguir o que são factos e o que é propaganda e opinião. A linha é cada mais difícil de identificar, nomeadamente ao nível das redes sociais, mas é preciso fazer esse esforço.

Que conselho daria aos estudantes que aspiram seguir esta carreira?

O Jornalismo está cada vez mais segmentado em áreas. Por isso, é importante escolher uma área de especialização e possuir um rigor informativo muito apurado para garantir a credibilidade. Estamos a assistir a uma tendência preocupante: há muita gente que quer ser jornalista para ter opinião, quando o que se pretende é que estes profissionais apurem e transmitam a informação correta e a verdade dos factos. Admito que vivemos num período em que a pressão para um jornalista encontrar novos artigos, recolher mais informação e abordar novas perspetivas é cada vez maior. O foco está a mudar da qualidade para a quantidade de informação. E isso considero que é um caminho perigoso. Em suma, esta e a próxima geração de jornalistas devem ter como desígnio manter a credibilidade e investir na procura dos factos.

E os que alimentarem o sonho de um dia chegarem à CNN? Sonhar é grátis?

Hoje em dia, com o número de órgãos de comunicação e outros canais que existem, é possível chegar a qualquer meio nacional ou internacional. Depois é preciso o “timing” certo, a persistência, a proatividade e a qualidade necessárias para agarrar essas oportunidades. No meu tempo foi bem difícil, através do telefone, chegar à fala com a pessoa do departamento de desporto da CNN, em Atlanta. Hoje em dia, com a internet, as redes sociais e os “emails” disponíveis, o caminho para chegar diretamente até quem toma as decisões está mais facilitado.

Na UEFA foi chefe do departamento de comunicação com Michel Platini na presidência – entretanto, suspenso – e ainda assessorou o atual presidente, Aleksander Čeferin. Como foi a experiência?

A minha passagem pela UEFA foi um período de grande aprendizagem, até porque transitava de quase duas décadas de jornalista para a assessoria de imprensa. Nos primeiros anos tive vários momentos desafiantes, o mais difícil, provavelmente, a suspensão de Platini. Com Čeferin foi sempre muito fácil trabalhar. Ele trouxe uma forma muito objetiva e executiva no modo de trabalhar. Procurou tornar a UEFA um organismo mais moderno. Sempre foi uma pessoa muito focada em apresentar o melhor produto possível. Foi um período muito gratificante e ainda hoje colaboro com a UEFA, tanto na apresentação de eventos, como no apoio a algumas campanhas de comunicação que o organismo desenvolve.

É uma presença regular na apresentação dos sorteios ou nas galas da UEFA. Como surgiu essa oportunidade?

A primeira oportunidade para apresentar um sorteio surgiu, em 2003, quando ainda estava como pivô de desporto na CNN. Estavam a organizar o sorteio do Euro 2004, que se iria realizar em Portugal, e contactaram-me da Federação Portuguesa de Futebol e do comité organizador.  O sorteio realizou-se no Pavilhão Atlântico e eu apresentei o evento com a Fátima Campos Ferreira. Anos mais tarde, a UEFA decidiu mudar os apresentadores dos seus sorteios. Devido à minha relativa experiência na apresentação e como falava línguas, surgiu o convite, em 2005. Já lá vão 17 anos. É sempre uma oportunidade fantástica estar associado a eventos com tanto impacto mediático – o sorteio da “Champions” e do Euro, por exemplo – e onde estão presentes as principais estrelas do mundo do futebol. Devido a esse contexto, ainda hoje, 17 anos depois, quando apresento algum sorteio, não consigo esconder a ansiedade, apesar da experiência acumulada.

 

A CARA DA NOTÍCIA

Apresentador dos sorteios da UEFA

Pedro Mendonça Pinto nasceu em Lisboa, a 28 de janeiro de 1975. Formou-se na Universidade da Carolina do Norte, em Charlotte, em comunicação social e televisão. Começou a sua carreira no “Caderno Diário”, na RTP. Foi jornalista desportivo da CNN Internacional, entre 1998 e 2003, na sede da estação, em Atlanta. Posteriormente, transitou para a redação do canal norte-americano, em Londres. Foi também pivô na SportTV. De dezembro de 2013 a fevereiro de 2018 foi chefe do gabinete de imprensa e porta-voz oficial da UEFA, organismo com o qual ainda colabora, nomeadamente na apresentação dos sorteios. Atualmente, é gerente da agência de comunicação Empower Sports e colabora com o canal de desporto, Eleven Sports, onde apresenta as noites da Liga dos Campeões.

Nuno Dias da Silva
Direiros Reservados
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