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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVIII

Editorial Para uma Escola Feliz (Parte quatro)

17-11-2025

A Escola, tal como a conhecemos, é uma invenção recente da humanidade. Mas não é um bem descartável, de uso tópico, a gosto de modas e de incompreensíveis conveniências conjunturais. A Escola vale muito mais que tudo isso. Vale por mérito, por serviço ininterruptamente prestado, socialmente avaliado e geracionalmente validado.
Escola revela-se, pois, como uma organização muito complexa. É paixão e movimento perpétuo. É atração e remorso. É liberdade e prisão de sentimentos contraditórios. É mescla de angústias e espontâneas euforias. É confluência e rejeição. É orgulho e acanhamento. É todos e ninguém. É nome e chamamento. É hoje um dar e amanhã um rogar. É promoção e igualdade. É mérito e inveja. É jogo e trabalho. É esforço, suor e emancipação. É convicção e espontaneidade. É responsabilidade e comprometimento com todos os futuros. É passado e é presente. É a chave que abre todas as portas das oportunidades perdidas. É acolhimento, aconchego, colo e terapia. É a estrada do êxito, mas também um percurso inacabado, que nos obriga a voltar lá sempre, num fluxo de eterno retorno.
Ao trabalho do professor é inerente a presunção da mudança. Mudança consentida, e assumida de saberes, de atitudes e valore valores. E a esse processo contínuo e dialético, de desconstrução e reconstrução, temos o hábito, consensualizado, de chamar de EDUCAÇÃO.
Porém a educação não é uma dádiva dos deuses. A educação é uma obra assombrosa, fruto da frágil elaboração humana. Quando bem utilizada, reconhecemos-lhe a força e o vigor próprio das forças cósmicas. Quando instrumentalizada, em nome de valores inconfessáveis, revela-se débil e ténue, como se não soubesse ser outra coisa que não fosse a de ajudar a humanidade a ser cada vez melhor.
A educação vale muito. Vale pelo menos a sobrevivência da humanidade. Vale a felicidade, o bem-estar e a melhor das qualidades da vida. Vale a cultura: o pouco que acrescentamos ao que já temos; mais a arte, a literatura, a pintura e a música. Vale a cura e a salvação, a alternância, a tolerância e a diversidade. E a humanidade só avança, só cria e se recria com base naquilo que recebeu, modelou e transformou.
Na atualidade a Escola, para construir um clima organizacional de Felicidade Total (e esse deveria ser o verdadeiro conceito da Qualidade Total e não a dos indicadores neoliberais que nos têm vindo a impor) esforça-se por desenvolver práticas referentes à educação inclusiva, compensatória e multidimensional. Porque, todos o sabemos, o aluno, muitas vezes, gosta de ir à escola, mas não gosta de ir às aulas.
Dividido entre currículos formais, informais e ocultos, vítima da rápida transformação das famílias extensas em famílias nucleares e monoparentais, os jovens são convidados a valorizar as aprendizagens fora da escola, nas redes sociais e nos grupos de pares, cujos currículos, para eles, estão sempres atualizados, nomeadamente nas ofertas virtuais incontroláveis desta inesperada mudança, já que, passámos, vertiginosamente, da aldeia global à megalópolis do imprevisível.
O progressivo emergir de alunos com mais níveis de escolaridade que os pais e até dos empregadores, apresenta-se, drasticamente, como uma das limitações da felicidade na escola, já que promoveu a influência negativa de uma pequena burguesia urbana, com alguns níveis preocupantes de iliteracia, mas com algum poder de compra, que desvaloriza, perante os seus filhos, as aprendizagens escolares e contesta o valor da meritocracia das aprendizagens escolares, assim como desvaloriza a obtenção de diplomas, enquanto varável preditiva da mobilidade social ascendente, pelo que, para essas famílias, a escola deixou de constituir uma alavanca social para os seus descendentes.
Incompreensivelmente, as suas representações sociais sobre a escola são conservadoras e não ajudam em nada à integração dos alunos.
Proclama-se uma escola inclusiva numa sociedade que não acolhe os excluídos. Pretende-se promover uma escola para todos numa sociedade em que o bem-estar e a cultura só estão ao alcance de alguns; em que a escola não consegue integrar os filhos das famílias vitimadas por esquecimentos e incúrias. Incúrias essas que acentuam o desemprego, o trabalho infantil, a iliteracia, a delinquência, a violência doméstica e coagem muitos pais a verem a escola obrigatória, como referimos, como um obstáculo à incorporação dos filhos no mundo do trabalho.
Os tempos estão a mudar. Duvido que seja para melhor…
In: Ruivo, J. (Coord.) (2025). Ideias Simples para uma Escola Feliz. RVJ, Editores

João Ruivo
ruivo@rvj.pt

Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico

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