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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVIII

Editorial Ensino Magazine: 27 anos a bombar

24-02-2025

Pois é, parece que foi ontem, mas já lá vão vinte sete anos desde a publicação do número zero deste projecto jornalístico que a RVJ acarinhou, desde a primeira hora, desde o dia em que, no sótão da minha antiga casa, pude explicar ao João, ao Vítor e ao Rui, o meu objectivo de criar um jornal dedicado à educação, gratuito e com distribuição universal.

Desde então, sobretudo para esta pequena e notável equipa que, mês após mês, se vê directamente envolvida na produção do Ensino Magazine, este esforço merece o elogio e o público reconhecimento.

Não vale o elogio barato, nem a exaustiva explanação do produto conseguido ao longo de quase três décadas. Mas deve fazer-se a elementar justiça de reconhecer que este jornal cresceu vertiginosamente, no contexto de uma indisfarçável crise das empresas de comunicação social, vítimas, também elas, e de uma estrutura económica monopolista e controladora da informação que se deseja livre e independente.

Sem qualquer dúvida, ou assombro, livre e independente é o Ensino Magazine que, ano a pós ano, se consolidou sendo, hoje, uma referência nacional e internacional na área educativa.

Por tudo isto, cá estamos, com raízes fortes e saudáveis, para continuarmos a servir a comunidade educativa, contribuindo, na medida das nossas possibilidades, para o enobrecimento de uma comunicação social formativa e responsável.

O futuro deste jornal está bem entregue, já que depende de uma Direção e de uma equipa editorial, de reconhecidos profissionais de primeira água, dedicados e altamente qualificados para manterem um espírito visionário, indispensável à evolução e projecção nacional e internacional do projecto. O futuro está, pois, bem entregue, porque lhes sobra no imaginário a vontade de melhorar e de fazer cumprir outros e novos rumos que a educação, a cultura e o ensino merecem.

Neste espaço plural continuará a haver lugar para todos. Neste espaço colectivo cabem a força das opiniões e a credibilidade da investigação científica. Neste espaço singular cabem o êxtase da arte e a interrogação do pensamento prospectivo. Neste espaço de convivência marca-se todos os meses um encontro com uma comunidade diversificada, que já nos espera e que dela muito esperamos, sobretudo porque este jornal tem sido uma voz lúcida, esclarecida e resistente na defesa da qualidade das instituições de ensino e na dignificação do estatuto e imagem social dos professores.

Por razões que não cabe agora escalpelizar, raras são hoje as publicações que se dedicam a temas de educação, cultura e investigação científica. Poucas, ou nenhumas, as que sobreviveram à nacional indiferença por tudo o que não seja novela, intriga política ou futebol.

Mas, temos, excecionalmente, o Ensino Magazine a “bombar” e a constituir um indicador de referência na pequena história editorial deste país, banhado pela iliteracia das conveniências.

Está-se, pois, a traçar um rumo certo e a dar passos seguros, amadurecidos e consistentes no sentido de projectar ainda mais este jornal que, no curto prazo, pode vir a alcançar a tiragem histórica de vinte mil exemplares, distribuídos gratuitamente por centenas de instituições educativas, de ensino básico, secundário e superior, um pouco por todo o mundo, quer na sua edição em suporte de papel, quer na sua inovadora edição digital, quer através do site, com informação actualizada ao minuto.

Nos últimos anos temos vindo a assistir a um incompreensível desinvestimento na educação, com um claro retrocesso das políticas de desenvolvimento e promoção das instituições públicas. Em que se regrediu? Em demasiados domínios: na expansão e financiamento da rede do pré-escolar; no percurso de autonomia das escolas básicas e secundárias; na disseminação da educação especial e nos apoios educativos; na descentralização administrativa; no processo de colocação dos professores; no financiamento do ensino superior e da investigação científica; no entendimento da autonomia dos politécnicos e das universidades… Na permanente tentação do poder político tentar dominar a autonomia do ensino superior, criando nele uma geração dinástica de dirigentes, com uma cada vez maior tentação de manipulação do voto eleitoral, como se pode adivinhar que se venha a agravar, tendo em conta alguns indicadores de presságio da recente proposta de revisão do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior.

Nós sabemos que, infelizmente, o problema tem décadas e é tema recorrente de debates, congressos, estudos e artigos de opinião. Porém, o contínuo alternar de ciclos de investimento e de desinvestimento na educação revela a ausência de uma estratégia concertada que coloque a promoção das instituições de ensino como uma das mais urgentes prioridades nacionais.

É nossa profunda convicção de que o Ensino Magazine tem sido uma voz lúcida, esclarecida e resistente na defesa da qualidade da educação. Tem constituído um veículo único para a difusão dos sucessos educativos e das boas práticas, junto dos professores, dos alunos e das famílias, contribuindo para informar e formar, mas também para melhorar a auto-estima de educadores e educandos.

Sabemos que as instituições de ensino são organizações muito complexas…São paixão e movimento perpétuo. São atracção e remorso. São liberdade e prisão de sentimentos contraditórios. São mescla de angústias e espontâneas euforias. São confluência e rejeição. São orgulho e acanhamento. São todos e ninguém. São nome e chamamento. São hoje um dar e amanhã um rogar. São promoção e igualdade. São mérito e inveja. São jogo e trabalho. São esforço, suor e emancipação. São convicção e espontaneidade. São responsabilidade e comprometimento com todos os futuros. São passados e presentes. São a chave que abre todas as portas das oportunidades perdidas. São acolhimento, aconchego, colo e terapia. São a estrada do êxito, mas também um percurso inacabado, que nos obriga a voltar lá sempre, num fluxo de eterno retorno.

Porém, também acontece muitas vezes serem o pião das nicas, o bombo da festa, o bode expiatório, sempre e quando aos governos dá o jeito, ou lhes apetece.

Daqui afirmamos que não queremos instituições de ensino que sejam de baixa qualidade. Estamos aqui com todos aqueles que afirmam  ser urgente relançar as instituições de ensino, através da inclusão, da igualdade de oportunidades, da ética e dos valores da democracia. Instituições de ensino que sejam exigentes na valorização do conhecimento, e promotoras da autonomia pessoal. Instituições de ensino que não desistam de uma forte cultura de motivação e de realização de todos os membros da comunidade escolar. Instituições de ensino que reconheçam que os seus estudantes são também o seu primeiro compromisso, que sejam lugar de desenvolvimento pessoal e de aprendizagens gratificantes, dentro e fora da sala de aula, e que se envolvam no debate, para reflectir criticamente e saber enfrentar os desafios que nos coloca a transição abrupta da aldeia global para a megalópolis do imprevisível.

Felizmente, o futuro está para lá das pequenas mediocridades e dos tiques de arrogância que algumas circunstâncias sustentam. Independentemente do grau, as Escolas não são um bem descartável, de uso tópico, a gosto de modas e de pseudo conveniências financeiras e orçamentais. As instituições de ensino valem muito mais que tudo isso. Valem bem mais do que aqueles que as atacam. Valem por mérito, por serviços continuamente prestados, socialmente avaliados e geracionalmente validados.

Sim, as instituições de ensino são a base do humanismo, do diálogo entre povos e nações e os alicerces do futuro. E é muito apaziguador saber tudo isso…

João Ruivo
ruivo@rvj.pt

Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico

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