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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVIII

Editorial As escolas de pirâmide invertida

20-06-2025

A crise que atinge uma parte significativa das instituições formadoras de professores não é apenas de natureza demográfica.
Em bom rigor, há muito tempo que inúmeros intervenientes no sistema educativo vinham chamando a atenção para o progressivo distanciamento dos processos formativos da realidade das nossas escolas, bem como para o desajuste entre as necessidades reais da rede de ensino básico e secundário e o número de educadores e de formadores que, anualmente, eram injectados no mercado de ensino.
Muitas das instituições abusaram de um inexplicável autismo face a realidade dos novos tempos. Outras, atempadamente, tentaram reformular percursos, mas sempre com a resistência das diferentes tutelas.
No centro deste debate situa-se a formação de professores e de educadores que, como tal, se converte num campo de análise de crescente preocupação e interesse para os formadores e para os decisores políticos, sendo que a agenda das instituições responsáveis pela formação inicial e permanente tem sido totalmente preenchida, com a tentativa de análise das razões que permitiram a incoerência revelada, na prática, por algumas das estratégias formativas.
Portugal inclui-se num sistema educativo de "tentação" centralizadora, em que muitas vezes não se entende a formação de professores como um processo dinâmico e articulado com as necessidades de desempenho profissional (não apenas na sala de aula, mas também na comunidade escolar e social), mas antes, como uma aceitação passiva de normativos técnicos e operativos, impostos de "cima para baixo". Todavia, e apesar disso, tem havido algum entendimento de que é possível, mesmo no actual quadro, alterar comportamentos e atitudes, de forma a se corresponder à ambição de formar cada vez mais e melhores professores e educadores, impregnados de uma cultura profissional, e capazes de corresponderem às solicitações de uma formação constante, numa busca de valorização contínua, enquanto membros de uma sociedade em mudança permanente.
Considerar, deste modo, a actividade docente, como um contributo para a praxis de uma profissão dinâmica e em desenvolvimento, já se traduz num avanço significativo, já que permite, igualmente, admitir que os professores são parte integrante, activa e fundamental, da mudança educativa, das reformas curriculares, da eficácia das escolas, do sucesso do sistema educativo, e da formação de cidadãos capazes de enfrentar os desafios de um futuro tão complexo e imprevisível.
As instituições formadoras deveriam, pois, se outras razões mais não houvessem, continuar o debate, centrando a sua atenção na reflexão sobre os fundamentos das teorias, modelos e estratégias necessárias à compreensão e melhoria da formação de professores e de educadores, não com uma postura meramente académica, mas antes com uma atitude indagadora e plástica, de forma a reunir as respostas que satisfaçam as necessidades e interrogações que, no dia-a-dia, invadem e condicionam a actividade de todos os docentes.
Entre o desejável e o possível, aguarda-se que os decisores institucionais não permitam o agudizar da crise que se atravessa. Os ventos e os tempos que correm não permitem mais hesitações ou demoras. Cada dia, cada ano que passa pode ser um tempo de reforma ou um tempo de estagnação. Seria imperdoável o desperdício do investimento acumulado devido a incúria ou a qualquer medida política de visão estreita e meramente conjuntural.
E atenção! Por detrás da aparente crise demográfica outros interesses podem tomar de assalto o sistema de formação de docentes. Como dizia a minha avó: “cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém” ….

João Ruivo
ruivo@rvj.pt

Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico

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