O novo livro de poesia de Gonçalo Salvado, Luminea, com capa de Álvaro Siza Vieira e introdução de Maria João Fernandes foi apresentado pela autora do texto de abertura, quinta-feira, 27 de março, em Lisboa, na Galeria do Centro Português de Serigrafia do Centro Cultural de Belém. A obra foi editada pela RVJ Editores.
Luminea reúne uma seleção de poemas de Gonçalo Salvado em versão bilingue português/braille, com a colaboração do Centro de Recursos para a Inclusão Digital da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Politécnico de Leiria, retirados do livro Quando a Luz do Teu Corpo me Cega (Ed. RVJ Editores), ilustrado por Álvaro Siza Vieira. O livro conta com um ensaio de abertura de Maria João Fernandes e consiste na edição especial da obra que está na sua origem e da qual se pode considerar uma síntese.
Compõem este livro poemas com o tema da luz no contexto amoroso, recorrente na criação do autor. Ambas as edições são apoiadas pela Câmara Municipal de Proença-a-Nova.
Acompanham as duas edições três serigrafias, numeradas e assinadas por Álvaro Siza Vieira e realizadas pelo Centro Português de Serigrafia a partir de desenhos selecionados pelo seu autor.
Associada ao lançamento inaugurou uma exposição de desenhos originais e das serigrafias de Álvaro Siza Vieira atualmente editadas, mostra igualmente apresentada por Maria João Fernandes.
Luminea pretende representar uma homenagem a Luís Vaz de Camões, referência fundamental do autor, por ocasião dos 500 anos do nascimento do poeta dos Lusíadas, a partir do verso aí incluído: “Que é grande dos amantes a cegueira”, uma das epígrafes que abre Quando a Luz do Teu Corpo me Cega.
Recorde-se que este livro foi lançado a 10 de dezembro 2024, na Biblioteca Nacional de Portugal, tendo sido apresentado pelo ex-ministro da Cultura Luís Filipe Castro Mendes e por Maria João Fernandes. Da circunstância fez parte o visionamento de um depoimento de Álvaro Siza Vieira gravado em vídeo, sobre o livro e o seu autor.
Citamos as palavras de Maria João Fernandes na atual sessão a propósito quer da apresentação da poesia de Luminea, quer da exposição de desenhos da Álvaro Siza Vieira que acompanham este livro:“Ocorre-nos lembrar que a obra de arte representa sempre uma tomada de conhecimento com um mistério essencial. Eis-nos hoje perante a dupla expressão do mistério fundador da vida, o amor, na poesia e no desenho. Ut pictura poesis recordando Horácio. A pintura é uma poesia silenciosa e a poesia uma pintura que fala. Procurarei uma vez mais as palavras para esta poesia que acha na imagem a sua mais secreta vibração.
Em busca de uma realidade única com o rosto do amor que parece renascer das suas cinzas nesta quase memória do apocalipse e se nos afigura como a chave da civilização.
A poesia de Gonçalo Salvado alimenta-se dos diversos afluentes, temas dos outros livros do autor, a poesia e os textos de amor ancestrais e da grande tradição do lirismo, do Cântico dos Cânticos, de Safo, Ovídio e Omar Khayyam a Camões, Bocage, Leonardo Coimbra, Florbela Espanca, Pablo Neruda, Octavio Paz, Paul Éluard, Herberto Hélder, António Ramos Rosa e David Mourão-Ferreira, entre muitos outros.
O ritual do amor, nas infinitas variações amorosas da palavra, encontra uma soberba correspondência na eloquente depuração das linhas de Siza Vieira rumo à imaterial transcendência, ao mistério mais absoluto, a que as imagens, literária e plástica, apelam.
A mulher é nesta poesia já emblemática do lirismo atual um ícone simultaneamente da natureza, do Cosmos e do divino, ainda que aparentemente a componente erótica mais evidente possa induzir em erro sobre o seu verdadeiro significado. Mediadora (evocando um título de María Zambrano) da totalidade do conhecimento e da vida, simultaneamente natural e sobrenatural, propiciadora na fusão amorosa absoluta, do espírito e da carne, da grande alquimia que une a morte e a vida, todos os contrários, numa outra vida infinita. Porque o amor é infinito como a vida e essa é a grande lição da arte, das mil palavras e dos mil traços representados hoje pela poesia de Gonçalo Salvado e pelo desenho de Siza Vieira.”