No Fio Inconstante dos Dias (Guerra & Paz), de Shen Fu (1763-1825), como subtítulo “Memórias de uma vida flutuante”, é um magnífico clássico da literatura chinesa, onde o seu autor, um letrado e pintor de poucas posses, nos conta o seu amor pela mulher, as viagens e as agruras da vida, numa prosa de “uma beleza devastadora”, dando uma visão bucólica, intensa e lírica da sociedade do seu tempo.
Fronteira (Relógio d´Água), de Can Xue (n.1953), escritora chinesa, tradutora de Dante, Borges e Kafka, leva-nos a um mundo onírico e encantado pela mão de Liu Jin, vendedora de tecidos, que habita a Cidade dos Seixos, perto da Montanha da Neve, onde vive o leopardo-das-neves, num mundo onde nada é o que parece, numa visão poliédrica de um jardim de muitos e estranhos prodígios sobrenaturais.
Assassinato no Comité Central (Quetzal), de Manuel Vásquez Montalbán (1939-2003), clássico de Pepe Carvalho, em que o detective e gastrónomo catalão, é contratado para investigar em Madrid, no auge da transição espanhola para a democracia, a morte do secretário-geral do PCE, numa digressão pelo tempo e o modo de uma época de mudanças, com aquele sabor inigualável de um grande mestre do romance policial.
A Cidade e as Suas Muralhas Incertas (Casa das Letras), de Haruki Murakami, é um mergulho na realidade mágica e ambígua do escritor japonês, quase uma súmula da sua obra, onde um jovem se apaixona por uma estranha rapariga que desaparece num universo paralelo, onde o espera a tarefa de leitor de sonhos, numa biblioteca sem livros e fantasmas que habitam dois mundos: “Somos apenas sombras de alguém”.
O Menino (D. Quixote), de Fernando Aramburu (n. 1959, San Sebastián), um grande livro elegíaco, onde se narra o que pode ter acontecido a uma família depois da morte inesperada do filho de seis anos, umas das vítimas de uma explosão ocorrida numa escola do País Basco, seguindo um fio narrativo cheio de pudor, segredos e tragédias pessoais.
A Ponte sobre o Drina (Cavalo de Ferro), de Ivo Andric (1892-1975), Prémio Nobel, nascido na Bósnia, em reedição, autor desta grande obra onde se celebra a ponte sobre o rio Drina, em Visegrad, construída por ordem de uma paxá turco, nascido na região, seguindo o destino dos povos até ao dealbar do século XX, com um ímpar fôlego épico.
As Cleópatras (Bertrand), de Lloyd Llewellyn-Jones, historiador, revela a longa história das sete rainhas egípcias celebradas pelo nome imortal de Cleópatra, mulheres poderosas que governaram as terras do reino do Egipto, sendo que a última, a sétima, ficou na memória dos tempos por ter seduzido dois romanos e se ter suicidado, depois muita traição e violência.
SPQR (Crítica), de Mary Beard, classista e professora em Cambridge, com o subtítulo “Uma história da Roma antiga”, abrange mil anos do mais poderoso império antigo, desde a fundação da pequena cidade até à sua expansão da Península Ibérica à Ásia, contando a vida dos cidadãos, bem como dos imperadores, de Cícero a Augusto, num panorama vasto dos feitos do Senado e do Povo de Roma.
A Mesopotâmia Antiga e o Nascimento da História (Bertrand), de Moudhy Al-Rashid, investigadora em estudos orientais em Oxford, dá vida, através de peças com 2500 anos, a um dos períodos mais determinantes da humanidade, retratando a vida daquele berço da civilização e origem da escrita, mostrando como o passado é uma terra distante, mas não estranha.
Hipocritões e Olhigarcas (Tinta-da-china), de Rui Tavares, com o subtítulo “Passado e futuro das guerras culturais”, desenrola o fio de Ariadne que desde o mais remoto passado ao presente século, permite compreender os grandes desafios da sociedade actual submergida por questões e figurões. "asteriscos e obeliscos” emocionais.
A Doutrina Invisível (Presença), de George Monbiot e Peter Hutchison, com o subtítulo “A história secreta do neoliberalismo” ou “como a ideologia do neoliberalismo controla a nossa vida” é uma denúncia devastadora de como o capitalismo neoliberal está a arruinar a vida não só das pessoas bem como a levar o planeta à destruição, nesta era de “palhaços assassinos” e de oligarcas, que são a antecâmera do fascismo.
Quarenta Àrvores em discurso directo (Porto Editora), de António Bagão Félix (n. 1948, Ílhavo), é uma versão ampliada de livro anterior, onde se visitam quarenta espécies comuns da nossa fauna, através da botânica, mas também das suas relações com a cultura popular, as artes e a poesia, a religião e as tradições, numa magnífica viagem pelo mundo das árvores.
Dicionário de Proust (Quetazl), de João Pedro Vala (n.1990, Lisboa), é não só o mais completo abecedário temático dedicado à obra de Marcel Proust e à sua obra maior, “Em Busca do Tempo Perdido”, mas também uma minuciosa pesquisa sobre a arte e a literatura, numa “tentativa desesperada de aprisionar” e dominar, embora imperfeitamente, o mundo.
Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico