Uma Poesia Extrema (Penguin Clássicos), de António Maria Lisboa (1928-1953), selecção e introdução de Joana Matos Frias, antologia da obra do “maior poeta surrealista português” nas palavras e Mário Cesariny: “A verdade não se pensa – sabe-se; o que se pensa é a explicação da verdade”.
Reencontro (Presença), de Fred Uhlman (1901-1985), é uma pequena obra-prima da novela, relato da amizade de dois jovens adolescentes alemães nos anos 30, um judeu, filho de médico, o outro, aristocrata com pergaminhos, que se conhecem no liceu pouco antes da ascensão do nazismo e que, apesar de tudo, permanece intocada no tempo.
Extinção- uma derrocada (Documenta), de Thomas Bernhard (1931-1989), com tradução e prefácio de José A. Palma Caetano, foi a último livro publicado do escritor austríaco, o “artista do exagero”, autor de uma obra carregada de pessimismo ontológico, com uma prosa de estrutura musical envolvente e muito original, história de uma família tradicional e da reparação histórica, quando o narrador a entrega à comunidade israelita, a propriedade ancestral, pois só uma “extinção” e consequente recomeço é possível viver “num mundo completamente novo”.
Kairos (Relógio d´Água), de Jenny Erpenbeck (n. 1967, Berlim), livro vencedor do Prémio Internacional Booker 2024, história da relação entre uma jovem estudante e um escritor mais velho, que um dia se encontram por acaso, na velha RDA, antes da queda do muro, e das atribulações que se seguiram, e que ela recorda anos mais tarde ao receber o espólio do amante, memórias de um Alemanha dividida, como eles, entre um amor funesto e as traições num tempo de segredos e lealdades desfeitas.
O Papagaio de Flaubert (Quetzal), de Julian Barnes (n. 1946, Leicester), edição comemorativa dos quarenta anos da publicação deste fabuloso romance, sendo o escritor francês o centro de uma narrativa onde a vida, o amor, o século XIX, a literatura, o amor, a crítica, o humor e tudo o mais se desenrola magistralmente, num livro de uma sagacidade que Flaubert teria invejado, sob os auspícios do seu papagaio embalsamado, aqui erigido como pretexto para uma inventiva digressão literária.
Despedidas Impossíveis (D. Quixote), de Han Kang, Nobel de 2024, vencedora do Prémio Médicis 2023, conta-nos a relação entre duas jovens coreanas, uma delas da ilha de Jeju, local onde ocorreu um massacre perpetrado pelos militares da ditadura que vigorava à época na Coreia do Sul, através de um dispositivo narrativo onírico que se transforma numa elegia e num hino à amizade contra o esquecimento.
A Vingança Criadora (E-Primatur), de Alfonso Reyes (1889 – 1959), reúne os contos completos, pela primeira vez traduzidos, do escritor mexicano, que Borges considerou “o melhor prosador de língua espanhola de qualquer época”, e fundador da moderna literatura daquele país, um mestre contador de histórias, possuidor de uma enorme cultura, cruzando desde tradições maias à Antiguidade Clássica, numa prosa “revelando ao leitor o que une a mitologia, a vida do quotidiano e o nosso subconsciente”.
Estranhos na Sua Terra (Temas e Debates), de Francisco Bethencourt, com o subtítulo “Ascensão e queda da elite mercantil cristã-nova (séculos XV-XVIII)” é um estudo monumental sobre os descendentes dos judeus forçados à conversão, uma elite de comerciantes, banqueiros e intelectuais, o seu papel e influência nesses três séculos, dentro e fora do país e na diáspora que se espalhou pelo globo, até ao seu declínio.
O Julgamento de Espinosa (Bertrand), de Jacques Schecroun, romance de reconstituição histórica do julgamento de Bento Espinosa, por heresia pela comunidade judaica portuguesa de Amesterdão em 1656, e de como o seu pensamento foi o percursor do Século das Luzes, numa demonstração de que filosofar livremente, sempre foi perseguido pelos podres temporais e religiosos de todos os quadrantes e idades.
Cultura (Temas e Debates) de Martin Puchner, com o subtítulo “Uma nova História do Mundo” é um extraordinário ensaio em quinze capítulos, apresentando uma inovadora visão das influências, empréstimos e cruzamentos culturais que ao longo do tempo forjaram uma base comum cultural, desde as grutas pré-históricas ao presente, mostrando que a cultura é um empreendimento colectivo sem fronteiras ou épocas.
Fascismo e Populismo (ASA), de Antonio Scurati (n. 1969, Nápoles), com o subtítulo “Mussolini hoje”, do autor do magistral ciclo “M- O filho do século”, quadruplo romance sobre Mussolini e a fascismo (na mesma editora), é um pequeno grande ensaio baseado numa conferência de 2022, sobre quais os perigos que assolam as democracias, estudando o que foi o fascismo do século XX, e como se deve combater o populismo de hoje.
A Desnazificação (Guerra & Paz), de Emmanuel Droit, como subtítulo de “A pós-história do III Reich”, ou como as potências vencedoras da Segunda Guerra Mundial lidaram com o processo de erguer uma nova Alemanha nos escombros do pesadelo nazi, investigando, reeducando e reconstruindo toda uma sociedade que, de um maneira ou outra, participara ou apoiara, o regime nazi, e como a História, entre o perdão e a justiça, pode ser enganadora.
Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico