O Inquieto Verbo do Mar (Assírio & Alvim), de Sebastião da Gama (1924 – 1952), reúne a poesia completa do poeta que deixou uma obra lírica singular e confessional, em que a Natureza tem o seu altar na Arrábida do seu encanto banhada pelo vasto mar. “Em mim a recolhi/a Luz/que ao Sol-posto baixou/Daí/a minha saudade do Céu,/aspiração d apenas ser a Luz/que me inundou, /liberta/desta mancha de sombra que sou eu”.
Pessoa Revisitado (Gradiva), de Eduardo Lourenço, agora reeditado, é um livro fundamental para entender o universo pessoano sob uma óptica original “de que os heterónimos pessoanos não são fragmentos de um puzzle“, antes remetendo para “a fragmentação de uma realidade identificada” como sendo a do próprio poeta ele-mesmo, num série de ensaios inovadores sobre a obra do grande fingidor.
Cesariny e o Monstro Pessoa (Tinta-da-china), de Rui Sousa, ensaio para compreender a estranha relação do poeta surrealista, autor de “O Virgem Negra”, daquele que assombrou a poesia em português do século XX, e que aqui é dissecado com mestria pelo autor, nos seus diversos aspectos de um diálogo, não só com a galáxia pessoana, mas com a própria história da literatura lusitana.
Uma Coney Island da Mente (Antígona), de Lawrence Ferlinghetti (1919 – 2021), poeta e editor, fundador da Livraria City Lights, em S. Francisco, publicou de Allen Ginsberg o “Uivo”, livro mítico da Beat Generation, reúne neste livro uma visão surrealista e literária da paisagem americana, título pedido emprestado a Henry Miller, que se inscreve nas convicções que nortearam toda a sua vida. “Não me dei conta de que era poeta, dei-me conta de que tinha algo a dizer”. Traduziu Margarida Vale de Gato.
Desertar (D. Quixote), de Mathias Énard (n.1972, França), reúne duas histórias que se cruzam: a de um soldado que foge de uma guerra incerta, e a história de um matemático alemão, antigo prisioneiro de Buchenwald, figura considerada da antiga RDA, contada pela filha, uma historiadora, por ocasião de um colóquio celebrado em 11 de Setembro de 2001, e os laços tecidos de amor, guerra, cativeiro, traição e números infinitos, num registo de um lirismo dilacerado, reflectindo o destino humano.
Templos da Alegria (ASA), de Kate Atkinson (n. 1951, York), bem urdida crónica romanceada dos loucos anos 20, no Soho, em Londres, baseado na vida de uma empresária da noite, Kate Meyrick, dona de clubes nocturnos, aqui na figura de Nellie Coker, uma irlandesa danada para o negócio, e do rancho de filhos, numa intriga que tem como protagonista uma polícia bom e outros corruptos, no tempo em que as festas no “bas-fond” eram famosas ao som do “jazz”, crimes, amores, traições e muita bebida.
O Bebedor de Vinho de Palma (Tinta-da--china), de Amos Tutuola (1920- 1997), com prefácio de j.M. Coetzee, escritor nigeriano, publicou este livro extraordinário em 1952, com grande estrondo nas letras africanas, num inglês atabalhoado, recriando com uma imaginação delirante as lendas e mitos do povo iorubá, celebrando a imagética e o ritmo das histórias tradicionais de um mundo em que mortos e vivos convivem alegremente, ao sabor do vinho de palma.
Sete Noites (Quetzal), de Jorge Luis Borges (1899 – 1986), reúne sete palestras lidas em 1977, no Coliseu de Buenos Aires, primeiro publicadas em jornal, depois revistas pelo autor, abordando temas tão diversos como Oriente e o Ocidente, “As Mil e Uma Noites”, a “Divina Comédia”, os sonhos e os pesadelos, a Cabala, o Budismo, a poesia e a cegueira, numa deambulação imaginativa, tão característica do seu génio literário e da sua vasta e profunda erudição.
Autocracia, Inc. (Bertrand), de Anne Applebaum, com o subtítulo “Os ditadores que querem governar o mundo”, é um ensaio esclarecedor dos ataques a que as democracias estão sujeitas hoje em dia por um grupo de ditaduras que pretendem alterar as relações entre países, incentivar a desordem internacional e manter-se no poder todo o custo, desinformando e agredindo, para manter os elevados níveis de corrupção que alimenta os seus delírios de poder, seja na Rússia, Irão, China e outros.
A Guerra de Putin contra as Mulheres (Objectiva), de Sofi Oksanen, com o subtítulo “Uma história antiga de violência e opressão”, é um libelo acusatório muito detalhado sobre o modo como o poder russo, desde pelo menos Catarina, a Grande, se entrega, conduz e incentiva atrocidades contra as mulheres, como meio de dominarem os povos que conquistam ou pretendem manter submissos, numa política deliberada de violência, estupro e humilhação, desumanizando as vítimas mesmo na sua terra.
Luís de Camões (Bertrand), de Aquilino Ribeiro (1885 – 1963), com prefácio de António Valdemar, sobre o “fabuloso e verdadeiro” poeta que se esconde atrás do mito com que foi sendo revestido ao longo do tempo, ao sabor das conveniências de cada um, académicas ou políticas, e que mestre Aquilino desmonta com acerto, verve e polémica, renovando o interesse pela obra do vate.
Índias (Clube do Autor), de João Morgado, com o subtítulo “Vasco da Gama, o herói imperfeito da História de Portugal. Um tempo de ódios, vinganças, ambições e conquistas a ferro e fogo”, é um romance histórico, na linha de Alexandre Herculano, sobre a era dos Descobrimentos, tendo como fulcro a figura do Gama e os seus empreendimentos.
Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico