Este website utiliza cookies que facilitam a navegação, o registo e a recolha de dados estatísticos.
A informação armazenada nos cookies é utilizada exclusivamente pelo nosso website. Ao navegar com os cookies ativos consente a sua utilização.

Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

Propostas Livros & Leituras

19-11-2024

O Reino da Estupidez (Guerra & Paz), de Jorge de Sena (1919 – 1978), em segundo volume, reúne um conjunto de textos e artigos de imprensa, sob o imortal mote da estupidez humana, com destaque para as paródias camonianas do autor, que se divertiu e nos diverte, com a erudição e a seriedade da alta paródia.

Revolução (ASA), de Arturo Pérez-Reverte (n. 1951, Cartagena), herdeiro dos grandes romances de aventuras, de Dumas a Salgari, viaja neste romance até ao México de 1911, na figura do jovem engenheiro de minas se envolve nos anos loucos da revolução, acompanhante involuntário de Pancho Villa, dinamiteiro por curiosidade, até ser salvo de uma morte iminente, recordando, anos mais tarde, esses tempos.

O Mestre dos Batuques (Quetzal), de José Eduardo Agualusa (n. 1960, Huambo), romance sonoro, em que o reino do Bailundo serve de metáfora histórica para a contar a relação conturbada entre europeus e africanos, através da história de um mestre dos batuques, pela voz da narradora que, como assinala Mia Couto, “é uma digressão prodigiosamente construída sobra as ilusões das fronteiras e dos territórios que nos definem” para além de todas as categorias, onde a magia do som impera sobre a “realidade”.

Vermelho Delicado (Tinta-da-china), de Teresa Veiga, sete contos da reputada contista, há muito aguardados, confirmando a sua arte da narrativa, retratando personagens femininas, em ambientes de superfícies deslizantes, em que a aparência de normalidade encontra o estranho quase gótico, num universo inusitado povoado de ecos: “Do fundo da escuridão até à verde luz brilhante do sol. Do nada até todas as coisas. De cada coisa até ao esquecimento”.

Visitar Amigos e Outros Contos (D.Quixote), de Luísa Costa Gomes (n. 1954, Lisboa), treze histórias requintadas e assombradas por fina ironia e lógica quase perversa, onde se passeiam personagens quase banais em situações aparentemente triviais, evocando um estranho perfume que persiste, desde um menino-prodígio, a obras em casa, gatos, impaciências, velhos birrentos, mestres abusivos e viagens, com uma coda em Kierkegaard. “É sem respirar que admiro e desejo essas estrelas, ordem e ornamento da Terra. Siderada, estou na outra dimensão”.

As Maçãs Douradas do Sol (Cavalo de Ferro), de Ray Bradbury (1920-2012), publicado em 1953, reúne vinte e duas histórias publicadas em revistas, com todo o sabor especial que o autor incutiu na sua obra, entre ao fantástico, o maravilhoso, o absurdo, o cómico e o misterioso, no presente estranho ou num futuro improvável, num registo poético e profético sobre a condição humana: “Só o Sol realmente sabe o que queremos saber, e só o Sol tem o segredo”.

A Corneta Acústica (Antígona), de Leonora Carrington (1917- 2011), pintora e escritora surrealista, que conviveu com o grupo em Paris antes de chegar ao México, depois de uma vida atribulada que, no entanto, não arrefeceu o seu ímpeto criativo, como se pode constatar com este romance espampanante, prefaciado por Ali Smith, história de uma nonagenária meio surda, que termina com um apocalipse digno dos melhores finais do mundo, com uma sátira aos mitos ocultistas de todos os séculos.

A tradução do mundo (Alfaguara), de Juan Gabriel Vásquez (n. 1973, Bogotá), apresenta as conferências de Weidenfiled, que o escritor colombiano proferiu em 2022, em Oxford, brilhantes reflexões sobre literatura como modo de interrogar ou traduzir o enigma humano: “é uma forma de saber o que se sabe o que não se sabia que se sabia”, citando Javier Marías, escrutinando com rebeldia a ambiguidade e a incerteza do mistério que só o romance e a arte da ficção é capaz de iluminar. 

O que é a Arte? (Gradiva), de Lev Tolstói (1828 – 1910), em reedição, com introdução de Aires Almeida, é um contributo provocador do escritor russo para a discussão do que é a arte, a sua função e importância no aprimoramento da humanidade, como veículo de emoções que, por contágio, a conduza a uma irmandade universal, como era a sua divisa íntima, atacando como falsas as estéticas do seu e nosso tempo.

A História da Arte Sem Homens (Objectiva), de Katy Hessel, livro fundamental e amplamente ilustrado, que desde o Renascimento ao presente, abre novos olhares sobre a arte em várias épocas, culturas e continentes, estilos e suportes, antigos ou modernos, ocidentais ou orientais, valorizando o papel das mulheres artistas no cômputo geral da História da arte, surpreendendo os distraídos sobre a arte destas pioneiras.

Sangue na Neve (Temas e Debates), com o subtítulo “A revolução russa 1914-1924)”, de Robert Service, é a obra-prima do historiador inglês, que levanta o véu sobre a história e o destino império russo, que tomou novas vestes depois de uma década sangrenta, para se tornar um poder insaciável, que não olha a custos humanos para se manter intocado.

O Osso de Prata (Porto Editora), de Andrei Kurkov (n.1961), escritor ucraniano, leva-nos a Kyiv, em 1919, quando os bolcheviques tomam conta da cidade, seguindo a história do jovem Samson Kolechko, que perde uma orelha, e é recrutado pela polícia para desvendar crimes, numa narrativa cheia de humor negro, num universo caótico e alucinante.

José Guardado Moreira

Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico

Voltar