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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

Propostas Livros & Leituras

17-05-2024

Fragmentos de Novalis (Assíro & Alvim), com selecção, prefácio, tradução e desenhos de Rui Chafes, em reedição, pensamentos do escritor alemão, que viveu entre 1772 e 1801, figura ímpar do Romantismo, é um livro de amor pela poesia desse que foi o grande cultor da arte poética como filosofia, ciência espiritual e magia do que é natural. “Tudo o que autêntico dura eternamente. A verdade é antiquíssima”.

Taludes Instáveis (D. Quixote), de José Carlos Barros (n.1963), com prefácio de Francisco José Viegas, reúne a obra poética entre 1984 e 2023, “luminosa tanto quanto pairando à beira das sombras” de uma paisagem pujante, não bucólica, antes na esteira de uma tradição lírica que se reinventa face a uma realidade natural e da memória que não se rende aos lugares-comuns do insípido meio urbano. “O vento dos poemas/não faz mexer/uma folha”.

Romancista como Vocação (Casa das Letras), de Haruki Murakami, seis ensaios de natureza autobiográfica literária, do mais internacional escritor japonês, que abre a sua oficina aos leitores, falando dos começos como autor, e de como foi descobrindo uma voz própria desde a epifania inicial, contando como o facto de não pertencer ao clube nipónico das letras o encaminhou para a criação de um universo muito especial, onde o sonho e a realidade se lhe impuseram como marca de água.

Vemo-nos em Agosto (D. Quixote), de Gabriel Garcia Márquez (1927 – 2014), novela póstuma do escritor colombiano, que os herdeiros em boa decidiram libertar, conta-nos a vida de Ana Magdalena Bach que todos os anos vai visitar a campa da mãe, mas nas últimas visitas sucedem-se vários episódios amorosos que a desconcertam, para descobrir algo mais sobre a mãe. Um livro que revela a mestria do escritor mesmo no final de vida.

Advento (Cavalo de Ferro), de Gunnar Gunnarsson (1889 – 1975), é um clássico moderno do escritor islandês que, a par Halldór Laxness, ocupa um lugar de destaque nas letras nórdicas, onde se conta a jornada anual de Benedikt, que todos os anos empreende a tarefa de resgatar ovelhas perdidas nas montanhas, acompanhado pelo cão e por um carneiro, formando uma trindade de bons samaritanos, num ambiente hostil de nevões e tempestades de vento inóspito. Uma pequena obra-prima.

Sinais de Fogo (Guerra & Paz), de Jorge de Sena (1919 – 1978), romance póstumo e o mais importante do Século XX português, que acompanha a vida de um jovem em formação, no ano de 1936, servindo para retratar o país dessa época, pondo em evidência os costumes e a descoberta da sexualidade e iniciação à poesia como cerne da criatividade, ou como assinalou Eduardo Lourenço “espaço de fúria, de êxtase, mas sobretudo de busca”, fazendo deste magnífico livro uma obra maior do escritor e poeta, ensaísta e professor, e um intelectual sem par.

Pax (Vogais), de Tom Holland, com o subtítulo “Guerra e Paz na Idade de Ouro de Roma”, é uma viagem ao cerne do império romano que seu auge dominou o mundo, desde que o primeiro césar se impôs, tempo esse que terminou com a morte de Adriano quase um século depois, essa pax romana que permitiu erguer e manter uma civilização de que ainda hoje se fazem sentir os efeitos e as consequências.

As Origens do Totalitarismo (D. Quixote) de Hannah Arendt (1906 – 1975), em reedição, é um compêndio essencial para compreender as razões, as origens e as consequências da ideologia totalitária que campeou no século XX e que transbordou para este século, com fórmulas renovadas de apelo ao domínio dos povos, desde a ascensão do anti-semitismo aos impérios coloniais, ao nazismo e estalinismo, nas suas diversas graduações, hoje em dia mascaradas pelo voto no populismo de todos os matizes.

O Labirinto dos Perdidos (Marcador), de Amin Maalouf, é uma excelente lição de História que estuda o jogo de forças, desde o Século XIX, entre Japão, China, Rússia e os EUA, numa perspectiva histórica que decorre da luta pela hegemonia do modelo de sociedade, desde a derrota da Rússia czarista face ao Japão imperial, da ascensão da China moderna, ao papel do Ocidente no complexo xadrez das nações.

A Mercearia do Mundo (Quetzal), de Pierre Singaravélou e Sylvain Venayre, é uma fabulosa viagem pela história cultural dos alimentos e de como se disseminaram pelo planeta desde o Século XVIII, à boleia dos cruzamentos e influências que se estabeleceram pelo incremento do comércio desde os Descobrimentos, do Novo Mundo à Ásia, trazendo condimentos que hoje são comuns em qualquer cozinha, bebidas e pratos que se tornaram património, não de um lugar ou cultura, mas da humanidade no seu todo.

Último Capítulo (E- Primatur) de Machado de Assis (1839 – 1908), com o subtítulo de “Contos Completos 1884-1907”, com introdução, organização e notas de Amândio Reis, é o primeiro de quatro volumes reunindo a ficção curta, pela ordem cronológica invertida de publicação, até ao último volume com a juvenília, do grande escritor brasileiro, reconhecido universalmente “a par de Guy de Maupassant, o melhor contista da literatura moderna”, segundo Susan Sontag.

Os Crimes de West Heart (Lua de Papel), de Dann McDorman, engenhosa revistação dos policiais, num enredo muito original, em que se cruzam ecos da história americana ao enigma do quarto fechado, com abundantes reenvios aos clássicos do género, com citações e digressões que fazem deste livro um desafiante mistério de como num clube de caça, umas quantas famílias abastadas tentam sobreviver ao tédio da falência, traições e segredos conduzindo à morte, num final inesperado.

José Guardado Moreira
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