Babel e Sião (Guerra & Paz), de Jorge de Sena, é uma jóia de livro, reunindo o poema de Camões “Sobre os Rios que Vão”, o Salmo 136 de David, em que se inspirou, e ainda o ensaio “Babel e Sião” e o conto “Super Flumina Babylonis”, transformando o salmo “numa pessoal e individualizada expressão do seu pensamento poético”, quiçá testamento do seu génio onde se cruzam as leituras e vivências de toda uma vida.

Camões – Uma antologia (Quetzal), com textos escolhidos e anotados por Frederico Lourenço, a partir da épica e das rimas, um modo novo de ler o poeta através do olhar experimentado do classista, num livro que é um contributo para o entendimento da obra e do seu alcance e valia contemporânea. “Que, se a vida tão pequena/se acrescenta em terra estranha,/ se o amor assi o ordena/razão é que se canse a pena/de escrever pena tamanha”.

Luís de Camões (Gradiva), de António José Saraiva (1917 – 1993), nova edição, com prefácio de Ernesto Rodrigues, reúne os ensaios de “análise dos diversos estilos camonianos, da poesia lírica e dos principais aspectos da epopeia”, fazendo deste livro uma boa introdução das diversas dimensões, históricas e literárias do legado que o poeta.

Camões – Vida e Obra (D. Quixote), de Carlos Maria Bobone, é a leitura possível do enigma que foi a vida do poeta, mas sobretudo um estudo e uma interpretação da obra, da epopeia à lírica, daquele que fez do Português um idioma universal moderno, e “uma gramática literária e histórica” que se abeirou do Oriente. “Ler Camões é ler o mundo”.

Fortuna, Caso, tempo e Sorte (Contraponto), de Isabel Rio Novo, com o subtítulo “Biografia de Luís Vaz de Camões”, é a mais completa biografia, à data, da vida, tropelias, desamores, prisões, estroinas, viagens, combates, naufrágio e padecimentos do soldado, poeta e viajante, numa investigação exaustiva de fontes antigas e achados recentes, constituindo um retrato não só do homem como da época em que viveu no reino e nos dezassete anos de Oriente, além da lenda e das circunstâncias que caldearam a obra.

Navegações (Texto Editores), de Malyn Newitt, com o subtítulo “Os Descobrimentos Portugueses e a Renascença”, do prestigiado estudioso da história da expansão portuguesa, apresenta-nos o contexto das navegações e viagens que transformaram o mundo medieval numa nova era, analisando os avanços da cartografia, culturas e geografia, flora e fauna, até então desconhecidas dos europeus, além do papel dos navegadores e das mulheres da realeza, ou de homens como Duarte Pacheco Pereira ou Magalhães, para compreender o alcance dos feitos desse tempo.

A Bebedeira de Kant (Planeta), de David Erlich, com o subtítulo “ E outros 49 episódios da História da Filosofia para pensar a sorrir”, é uma entusiasmante digressão pela vida e obra de filósofos desde a Antiguidade Clássica aos dias de hoje, num livro desopilante que devia constar em qualquer biblioteca escolar, num registo informado e divertido sobre “as ideias filosóficas que todas precisamos de conhecer para compreender o mundo em que viemos e a forma como pensamos”.

Pensar como um Filósofo (Temas e Debates), de Peter Cave, com o subtítulo “Académicos, sonhadores e sábios que nos ensinam a viver”, do divulgador inglês de filosofia, apresenta e desembrulha com sagacidade e uma pitada de ironia, através da vida e obra de trinta personalidades, o que é a filosofia, do ponto de vista ocidental, embora comece com Lao Tzu, o mais enigmático dos pensadores de todos os tempos e épocas. A filosofia faz pensar, o pensamento é uma maleita do intelecto. “Tudo conspira”.

Ética a Nicómaco (Quetzal), de Aristóteles, em nova edição, traduzida do grego por António de Castro Caeiro, com uma apresentação do tradutor, é um dos mais importantes tratados do grego que influenciou, por exemplo S. Tomás de Aquino, deixando uma herança que ainda hoje se faz sentir nas categorias de ética, epistemologia, lógica, essência ou substância, e da felicidade do ser. “O Bem é aquilo por que todos anseiam”.

Eu Canto e a Montanha Dança (Cavalo de Ferro), de Irene Solà (Malla, 1990), poeta e artista catalã, é uma leitura esplêndida, onde ecoam os trovões e a chuva, os raios e as tempestades, as feiticeiras, os animais e as plantas, os mortos e dos vivos, num coro de vozes na paisagem dos Pirenéus, dando substância às histórias que tecem um encantamento lírico, feroz e terno, e que fazem destas belas páginas um poema à vida secreta do mundo, de uma beleza selvagem e atemporal.

Velar por Ela (Porto Editora), de Jean-Baptiste Andrea, Prémio Goncourt 2023, é um romance magnífico, onde se conta a história dos amores de Mino e Viola Orsini, ele um pequeno escultor de génio, ela uma aristocrata livre, numa Itália desde dos anos primeiros anos do século passado aos anos sessenta, acompanhando os acontecimentos e o estranho destino da escultura, uma Pietà, que acaba escondida num mosteiro, onde ele termina os seus dias, levando consigo o segredo daquela obra que perturba quem a contempla.

O Futuro Recordado (Bertrand), de Irene Vallejo, a sabedora escritora aragonesa, autora do celebrado “O Infinito num Junco” (na mesma editora), seguindo a tradição dos contos antigos, em crónicas de jornal, apresenta neste livro, em capítulos curtos, reflexões baseadas nos clássicos gregos, romanos, egípcios e orientais, que muito podem dizer aos perplexos contemporâneos, enredados numa cultura descartável e quase irrespirável na sua futilidade. “O futuro? Já não me lembro”.