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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

Opinião Livros & Leituras

09-04-2024

Uma Brancura Luminosa (Cavalo de Ferro), de Jon Fosse, Prémio Nobel em 2023, é o seu mais recente livro, uma voz utilizando o monólogo interior para aceder à corrente do subconsciente, espraiando-se por zonas desconhecidas, neste caso um homem que se perde numa floresta  onde nevou, para encontrar umas figuras da sua imaginação, até alcançar um estado de luminosidade estranha mas reconfortante, numa prosa sinuosa poética e em clave quase transcendente, sem paralelo na literatura actual.

Elogio da Loucura (Bookbuilders), de Erasmo de Roterdão (1466 – 1536), é um dos grandes clássicos renascentistas, escrito para deliciar o seu amigo Thomas More, com uma dedicatória, “texto satírico de crítica de costumes de ordem social e religiosa”, enunciado pela Loucura ela mesma, que discursa perante uma assembleia de eruditos, expondo as falácias dos humanos, que ainda hoje mantém o seu vigor polémico e desconcertante.

Teresa Veiga (Tinta-da-china), coordenação de Serafina Martins e Silvie Spankova, com o subtítulo “Luz e mistério na ficção portuguesa contemporânea”, reúne meia dúzia de ensaios sobre a contista e novelista Teresa Veiga abordando as diversas facetas de uma obra ímpar no contexto das letras portuguesas conemporâneas, demonstrando “como o mistério é um lugar de subversão”.

Revolta (Livro B), de Wladyslaw Reymont (1867- 1925), escritor polaco, Prémio Nobel em 1924, dá-nos uma feroz sátira da revolução bolchevique, através da história de uma insurreição animal numa quinta, que se propõe a libertação do jugo dos humanos mas acaba na mais funesta das tragédias, com os animais a implorarem por alguém que os submeta de novo. Orwell ter-se-à inspirado neste livro para a sua conhecida própria obra.

A Morte do Sol (Relógio d´Água), de Yan Lianke (n. 1958), escritor chinês, autor, entre outros de “Os Quatro Livros” (na mesma editora), conta-nos uma fábula portentosa, que pode ser lida como crítica do regime actual, pela voz de um jovem um pouco tonto, relatando os funestos acontecimentos do dia em que o sol não nasceu, conduzindo a toda uma série de desgraças provocadas pelos sonâmbulos que infestam a aldeia.

O Mapa do Conhecimento (Clube do Autor), de Violet Moller, com o subtítulo “Como as grandes ideias da Antiguidade viajaram até aos nossos dias”, é uma fascinante viagem na qual a historiadora britânica nos conta como os saberes antigos reunidos em Alexandria seguiram para Bagdad, Córdova, Sicília, Veneza e Toledo, onde foram salvos do olvido para serem redescobertos em pleno Renascimento, pondo em destaque a herança de Euclides, Galeno e Ptolomeu que a invenção da imprensa preservou.

As Cruzadas (Crítica), de Thomas Asbridge, com o subtítulo “A guerra pela Terra Santa”, do especialista britânico em História medieval, é um extraordinário inquérito abrangente do que verdadeiramente esteve em causa na invasão cristã da Palestina ordenada pelo papa urbano II, pondo em confronto duas culturas e civilizações, aqui retratadas sob ambos pontos de vista, e o rasto das consequências que legou aos vindouros.

Domingos No Cinema (Porto Editora), de Anthony Marra (n.1984, Washington), é uma esplêndida revisitação dos anos40 de Hollywood, quando um pequeno estúdio de cinema, propriedade de dois irmãos, de origem polaca, tenta sobreviver na época em que os EUA entram na guerra,  e que uma leva de emigrantes europeus afluiu à Califórnia, tendo como protagonista a história de Maria Lagana, italiana de origem, num mundo de “políticas conflituantes, lealdades divididas e ambições desmesuradas”.

Jogo Duplo (D. Quixote), de Ben Macintyre, é a história empolgante do arrojado grupo de agentes duplos que convenceram o alto comando alemão de que o iminente desembarque aliado ia ser efectuado na Noruega e em Calais, e não Normandia, criando uma complexa teia de ilusões, artimanhas, engodos e enganos, permitindo o êxito do maior desembarque anfíbio de sempre da história militar.

A Cultura Como Enigma (Gradiva), de Guilherme d´Oliveira Martins, reúne um vasto leque de crónicas que o autor foi publicando na imprensa, sobre livros, leituras e pessoas, tendo como mote a cultura e o amor pelos livros, que é o enigma que atravessa todas as épocas mostrando que a humanidade só se realiza através dos mais altos padrões do conhecimento.

Crónicas (Caminho), de Helder Macedo, são resultado de excelentes crónicas de imprensa, deste destacado Camonista, escritas entre 2006 e 2023, e que são um resumo de mais de sessenta anos de vida em Londres, sem nunca deixar de olhar para o que se passa entre nós, e que nunca deixou de encarar a literatura como o farol que lhe norteou a vida, com humor e sentido crítico, dialogando com os amigos idos e contemporâneos.

Confissões de um Jovem Escritor (Gradiva), de Umberto Eco (1932 – 2016), reúne um conjunto de brilhantes palestras que são uma digressão bem-humorada e erudita sobre os segredos pessoais do autor na construção das suas ficções, sobre o texto e os intérpretes, personagens ficcionais e um delirante capítulo sobre listas, de alguém que quando perguntado como escreveu os romances, respondeu “ da esquerda para a direita”.

Caminhar (Antígona), de Frédéric Gros, é uma digressão filosófica e literária sobre a arte de caminhar fora dos trilhos usuais, seguindo Thoreau, Rousseau, Rimbaud, Nietzsche, Nerval, Gandhi, Alexandra David-Néel, Stevenson e tantos viajantes, que souberam, do Tibete ao México e outros lugares distantes, desfazer horizontes flanando para se surpreender do mundo não encerrado em lugares-comuns e saboreando a liberdade.

José guardado Moreira
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