O livro do poeta Gonçalo Salvado e do arquiteto Siza Vieira, “Quando a luz do teu corpo me cega” é apresentado na Biblioteca Nacional, em Lisboa, no próximo dia 10 de dezembro, pelas 18H00. A entrada é livre.
A apresentação estará a cargo do ex-ministro da Cultura, Luís Castro Mendes, e da poetisa, ensaísta e critica de arte, Maria João Fernandes.
A obra, editada pela RVJ editores, apresenta-se em duas edições, uma delas especial, em Braille, composta por uma seleção de poemas e incluindo um desenho de Siza Vieira na capa (com a colaboração do Centro de Recursos para a Inclusão Digital da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Politécnico de Leiria), ambas as edições apoiadas pela Câmara Municipal de Proença-a-Nova.
A edição especial em Braille intitula-se Luminea reunindo poemas de Gonçalo Salvado com o tema da luz no contexto amoroso, recorrente na poesia do autor, conta com texto de abertura de Maria João Fernandes e pretende representar uma homenagem a Luís Vaz de Camões, por ocasião dos 500 anos do seu nascimento, a partir do verso, retirado dos Lusíadas: “Que é grande dos amantes a cegueira”, uma das epígrafes que abre o livro Quando a Luz do Teu Corpo me Cega.
Três serigrafias, numeradas e assinadas por Álvaro Siza Vieira, realizadas pelo Centro Português de Serigrafia a partir dos desenhos que ilustram a obra, acompanham as duas edições. As imagens para as três serigrafias, foram previamente selecionadas e escolhidas pelo seu autor.
A apresentação da edição especial desta obra, em braille, assim como das três serigrafias, decorrerá em Lisboa na galeria do CPS do Centro Cultural de Belém em fevereiro de 2025. Na circunstância, será inaugurada uma exposição dos desenhos originais de Álvaro Siza Vieira e das serigrafias que se associam o livro.
Recorde-se que as duas edições da obra foram lançadas no passado da 23 de junho de 2024, na Biblioteca Municipal de Proença-a-Nova tendi sido apresentadas por Pedro Mexia (por videoconferência) e por Maria Joao Fernandes. Associado ao lançamento foi também inaugurada uma exposição com desenhos originais e serigrafias de Siza.
Acerca da poesia de Gonçalo Salvado já se pronunciou o próprio arquiteto Álvaro Siza Vieira (citado na contracapa do livro) referindo a sua transparência e essencialidade: “Gosto muitíssimo da sua poesia. Tentarei aproximar-me com os meus desenhos da essencialidade e do grande rigor com que “esculpe” as palavras”.
Maria João Fernandes no seu texto de abertura considera esta obra como uma “Verdadeira gramática, quase uma enciclopédia do amor que ficará como uma referência importante do nosso lirismo. Junta num mesmo sortilégio a poesia de Gonçalo Salvado e os desenhos de Siza Vieira e situa-nos de imediato no terreno do mito. (…) A poesia de Gonçalo Salvado alimenta-se dos diversos afluentes, temas de outros dos seus livros, a poesia e os textos de amor ancestrais e da grande tradição do lirismo, do Cântico dos Cânticos, de Safo, Ovídio e Omar Khayyam a Camões, Bocage, Leonardo Coimbra, Florbela Espanca, Pablo Neruda, Octavio Paz, Paul Éluard, Herberto Hélder, António Ramos Rosa e David Mourão-Ferreira, entre muitos outros.”
Acrescentando: “O ritual do amor, nas infinitas variações amorosas da palavra, encontra uma soberba correspondência na eloquente depuração das linhas de Siza Vieira rumo à imaterial transcendência, ao mistério mais absoluto, a que as imagens, literária e plástica, apelam. Nos desenhos a extrema depuração é eficaz e eloquente. As linhas delicadamente subtis, precisas, preciosas, matisseanas, do arquiteto artista e as palavras densas, enamoradas da claridade, do discurso igualmente depurado do poeta, tendem para a síntese, na infindável litania amorosa, que é uma forma de invocação, um apelo à revelação que por vezes os desenhos parecem não apenas corporizar, mas evocar, invocar.
Celebração da mulher como realidade, como metáfora e como símbolo, e do ritual amoroso a que ela dá um sentido. Mediadora dos elementos, ícone supremo do mundo natural e do mundo sobrenatural, numa sublime fusão do humano, do cósmico e do divino, a sua evidência e o seu mistério diluem-se em pura luz, em cintilantes iridescências, um outro título do autor. Palavra e imagem desenham um mesmo corpo nas suas variações infinitas. Corpo material e imaterial, real e imaginário, do arquétipo, mais ardente do que o fogo, mais luminoso do que a luz e que traduz a sua essência última. Inominável.”
Pedro Mexia por sua vez referiu-se ao autor do seguinte modo: “Gonçalo Salvado ao longo destas duas décadas e meia, desde o seu primeiro livro Quando publicado em 1996 e sobre o qual na altura tive oportunidade de escrever, tem vindo a afirmar-se como um poeta do amor no sentido lato do termo, um amor ao mesmo tempo erótico e ao mesmo tempo romântico num sentido que não diz respeito apenas nem ao romantismo no sentido vulgar da palavra, nem ao romantismo do período romântico.
Um amor que vai muito além destes conceitos, que faz com que o erótico transcenda o mero jogo. Os poemas de Gonçalo Salvado ultrapassam aquilo que geralmente se denomina como os limites do poema erótico, estabelecem uma ligação com uma outra realidade do âmbito do sagrado ou do divino (…) Gonçalo Salvado cita neste seu novo livro muitos poetas amorosos, mas na verdade não se parece com nenhum deles, a sua poesia possui uma identidade própria. (…) Se há um modelo na poesia amorosa de Gonçalo Salvado é o do Cântico dos Cânticos, poema bíblico cuja presença é constante na sua poesia, um livro religioso que toma de empréstimo a linguagem amorosa. (…) Um outro aspeto a sublinhar na sua poesia é o da brevidade que tem a ver com uma certa tradição lírica e cujo exemplo de depuração e exigência formal na poesia portuguesa é o de Eugénio de Andrade. Aspetos que a poesia de Gonçalo Salvado igualmente apresenta.”