O salão nobre do Museu Francisco Tavares Proença Júnior, em Castelo Branco, foi pequeno para acolher todos aqueles que quiseram assistir, no passado domingo, à apresentação do livro “Hypólito comenta”, da autoria de Celeste Capelo. A professora compilou nesta obra os cartoon’s que Amado Ramos Estriga publicou no então semanário Beira Baixa, entre 1 novembro de 1971 e junho de 1976.
“O Hypólito comenta...”, (ED. RVJ Editores) acrescentou uma realidade nova à imprensa regional da época, com humor e muita acutilância, mesmo no período em que não havia liberdade de expressão. Os primeiros cartoons falam da necessidade de abastecimento de água a Castelo Branco e do futuro do Hotel de Turismo. 53 anos depois, a atualidade dos temas mantém-se.
O Orfeão de Castelo Branco, onde a autora cantou durante largos anos, fez uma pequena atuação de lançamento para a apresentação da obra e da exposição de caricaturas de Amado Estriga (patentes até ao final do mês), para as quais Celeste Capelo contou com os apoios da Sociedade dos Amigos do Museu Francisco Tavares Proença Júnior, da Câmara de Castelo Branco e da Junta de Freguesia albicastrense.
“Considero o conteúdo desta publicação como uma premonição e advento da liberdade de expressão que veio a ser conquistada em Abril de 1974. As características do cartoonista, Amado Estriga revelam o seu espírito crítico e acutilante, observador, interventor e não resignado. A subtileza que conseguiu nos seus desenhos, revela uma inteligência e discernimento cauteloso, pois nunca foi alvo do ‘lápis azul’. Sem grandes pretensões, julguei necessária esta obra, pois ela mostra a evolução da cidade, das suas aspirações, das suas contrariedades, enfim de um quotidiano desde 1971, onde tudo era diferente do que hoje achamos tão evidente e normal”, refere Celeste Capelo.
“Amado Estriga nunca se conformou, apontando sempre o seu desenvolvimento ligado à nossa vizinha Espanha. O corredor Castelo Branco/Madrid estava sempre presente nas suas conversas como eixo polarizador para o desenvolvimento e combatente desta interioridade. No meu entender teve razão antes do tempo”, recordou a autora.
A sessão contou ainda com as intervenções de Leopoldo Rodrigues, presidente da Câmara, que abordou a dimensão Amado Estriga e dos seus cartoon’s de e o facto de alguns temas serem ainda hoje pertinentes, como a questão da água; de José Pires, presidente da freguesia, para quem “o Hypólito, que nasceu das mãos de Amado Estriga em 1971, foi, enquanto existiu, um estereótipo comunitário e fica, com esta publicação, promovido a património imaterial de um sentir (e pensar) albicastrense”, e de Hermann Scheufler, presidente da Sociedade dos Amigos, que sublinhou a ligação de Amado Estriga àquela coletividade, referindo que o apoio a esta obra foi aprovado por unanimidade em Assembleia Geral.