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Cultura LIVROS & LEITURAS

03-07-2023

Crepúsculo da Liberdade (Assírio &Alvim), de Óssip Mandelstam (1891 – 1938), antologia que reúne prosa e poemas de um dos maiores poetas russos de sempre, contemporâneo de Anna Akhmátova, Marina Tsvetáeva e Boris Pasternak, vítima do terror estalinista, como muitos outros companheiros das letras, “poeta fundamental para compreender a cultura russa do século XX”. Recordações de infância, uma viagem à Arménia, ensaios sobre literatura e uma recolha de poesia preenchem estas páginas, dando conta de uma vida dedicada à nobre arte das musas.

Contra Toda a Esperança (Imprensa da Universidade de Lisboa), de Nadejda Mandelstam (1899 – 1980), estudou em Kiev, casada com o poeta Ossip Mandelstam, acompanhando-o em vida, sendo a guardiã da obra do marido, enviando o arquivo literário para ser publicado no estrangeiro, e publicando este extraordinário livro, testemunho incomparável de uma época e de um tempo, num registo memorável, que a coloca num lugar de destaque nas letras russas do século XX. Tradução, introdução e notas de Ana Matoso e Larissa Shotropa.

Professor Unrat ou o Fim de um Tirano (E-Primatur), de Henrich Mann (1871 – 1950), levado à tela por Josef von Sternberg, no célebre filme “O Anjo Azul”, com Marlene Dietrich, é uma das grandes obras literárias alemãs do século passado, desde a sua publicação em 1905, premonitória do que seria o desenrolar da vida alemã e europeia. O livro narra o descalabro de um respeitado e autoritário professor de liceu que, numa sociedade em mudança, desliza num processo de acentuada decadência, perda de valores e corrupção extremas.

O Castelo do Barba-Azul (Porto Editora), de Javier Cercas, é o último volume da trilogia de “Terra Alta”, que inclui “Independência (todos na mesma editora). Melchor Marín, o protagonista, antigo polícia, é atirado para uma derradeira aventura, por via da filha Cosette, uma adolescente atraída em Maiorca por um vilão predador sexual. O envolvimento de várias personagens de livros anteriores culmina neste romance, num fecho de abóbada literário muito bem urdido, que é devedor das melhores aventuras de heróis de outros tempos.

Pecados Passados (Betrand), de Manfred Grebe (n. 1947, Kassel), antigo responsável do Círculo de Leitores. Este livro, muito bem enredado, conta-nos a história de um submarino alemão que descarregou um tesouro na Ericeira, no final da Segunda Grande Guerra, e do que se seguiu até aos dias de hoje, com sinistras organizações nazis na sombra. Uma jovem comissária da Judiciária alemã vem ao nosso país para tentar deslindar a morte do avô, e tudo se desencadeia numa vertigem imparável de peripécias com final feliz.

Porco Assado (Quetzal), de An Yu (n. 1992, Pequim), escritora chinesa,  que escreve m inglês e vive em Hong Kong. Jia Jia é uma jovem pintora que perdeu o marido há pouco e tenta decifrar o enigma de um sonho do homem-peixe que a atormenta. Viaja para o Tibete em busca da resposta, conhece um escritor que também anda à procura da mulher tibetana desaparecida, e descobre um antigo segredo de família que lhe diz directamente respeito. Uma história de uma magia discreta e elegante.

Sob a Estrela de Outono (Cavalo de Ferro), de Knut Hamsun (1859 – 1952), escritor norueguês, Prémio Nobel em 1920, autor de obras como “Fome” ou “Mistérios” (na mesma editora), apresenta-nos neste livro Knut Perdesen, que decide largar a vida citadina e procurar pelos campos algo que o alivie da neurastenia. A deambulação termina com o seu regresso à cidade sem ter conseguido livrar-se do estado de indecisa lassidão, tão própria de uma estação evocadora e melancólica. Liberdade existencial e comunhão com a Natureza misteriosa.

O Jogo das Escondidas (Quetzal), de Fernando Sobral (1960 – 2022), cronista e romancista de créditos firmados, é a sua derradeira obra, com cenário em Macau de 1923, envolvendo um tenente do exército, uma misteriosa chinesa, um falso padre franciscano, um empório comercial, piratas, além de um alemão ganancioso, numa trama muito bem urdida, de espionagem e negócios de droga, e uma digressão sobre o destino português no Oriente, num registo nostálgico de amores e traições, no eterno jogo de sombras e segredos, e a poesia de Camilo Pessanha.

Lucy à Beira-Mar (Alfaguara), de Elizabeth Strout, regressa à personagem de Lucy Barton, escritora, agora em tempo de pandemia, depois do reencontro com o ex-marido William, que a convence a sair da cidade de Nova York, para uma vilória à beira-mar no Maine, onde podem escapar ao vírus que deflagrou com toda a força. Não sabem ainda o que os espera nesses dois anos seguintes. Um livro pleno de emoção discreta e empatia esperançosa sobre as flutuantes relações familiares.

Kokoro (Presença), de Natsume Soseki (1867 – 1916), o mais celebrado escritor japonês ainda hoje em dia, romancista e poeta, foi professor de literatura inglesa, antes de se dedicar à escrita, num período de transição na sociedade japonesa, com o fim da era Meiji e a entrada na modernidade. Publicado em 1914, este romance retrata a relação do protagonista com o Mestre, assenta quase num equívoco, numa teia psicológica muito densa, que apenas de desfaz no final, com a confissão do velho mentor. É considerado o primeiro grande romance moderno japonês.

Atlas Histórico da Escrita (Guerra & Paz), de Marco Neves, é uma fabulosa viagem profusamente ilustrada pela história de uma invenção humana que fixou em letra de forma o passado dos idiomas falados desde há pelo menos cem mil anos, desde o surgimento das primeiras letras na Suméria, passando pelo Egipto, China e Mesoamérica e tantas outras formas de dar corpo às vogais e consoantes de que se tecem as palavras.

José Guardado Moreira
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