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Cultura Livros & Leituras

06-07-2022

O mundo é uma floresta encantada à espera de ser descoberta, uma vasta biblioteca desconhecida pronta a ser lida. “A leitura é uma tarefa confortável, solitária, lenta e sensória”, escreveu o autor deste livro, Um Diário de Leituras (Tinta-da-china). Alberto Manguel (n.1948, Buenos Aires) é um cidadão do mundo, a residir em Lisboa, para onde transportou a sua vasta biblioteca, que ofereceu à cidade de Ulisses, depois de tanta viagem pelas páginas do mundo, o mesmo é dizer pelos livros que fazem o mundo. Este livro é um jardim luxuriante, que leva o leitor do Japão à Índia, da meseta ibérica aos desertos, da sombra dos salgueiros às ilhas dos mistérios, das ruas londrinas às terras germânicas. As notas de leitura que nos acompanham são como marcos na estrada da curiosidade infinita que alimenta o leitor pelas veredas que confluem naquele recanto em que o espanto se sacia de mais descobertas por vir.

A Honra Perdida de Katharina Blum (Cavalo de Ferro), de Heinrich Boll, Prémio Nobel da Literatura em 1972, aborda de forma incisiva o papel de certa imprensa sensacionalista que vive da calúnia e da mentira. Blum é uma rapariga trabalhadora e séria, que por amor repentino e inesperado, se vê envolvida numa situação inusitada, alvo de perseguição que termina com morte, desolação e vidas desfeitas. Num registo sóbrio, são relatados os factos que lavaram ao desfecho inesperado. O autor, no seu posfácio, explica exemplarmente os contornos subsequentes do romance e as diversas ramificações que se sucederam à sua publicação. A sociedade alemã do tempo é a de todas as épocas e lugares. Uma obra-prima.

Contos de Odessa (Relógio d´Água), de Isaac Babel (1894 – 1941), escritor judeu ucraniano, foi um notável contista que bebeu no seu compatriota Gogol e em Maupassant, a arte das suas histórias, cheias de personagens vívidas, que ilustram uma época e um local, essa mítica cidade do Mar Negro, onde se pavoneiam meliantes e outros que tais, em memórias da sua juventude. “A Odessa de Babel é um lugar único, é uma amálgama de objectos, de sensações, de cores, de cheiros”, descrições servidas por uma linguagem opulenta e rica de cambiantes.  

Será Este LivroUm Romance ? (Caminho), de João Melo (n.1955, Luanda) é um esfuziante acto de perícia literária, uma farândola de hilariantes observações, um fogo-de-artifício de locuções afro-portuguesas e brasileiras (pena é que esteja infectado pelo vírus do acordês). Resumindo: trata-se de um livro que goza descaradamente com todas, ou quase, vacas sagradas dos tempos actuais, seguindo a máxima “O conteúdo está na forma”. Ou como observa o narrador/autor, “A verdade atrapalha”, ou ainda “A literatura não serve para nada…”.

Operação Secreta (D. Quixote), de Ben Macintyre, é uma reconstituição, baseada em documentação original, da mais intrigante e bem sucedida operação de contra-espionagem levada a cabo pelos serviços secretos britânicos durante a Segunda Guerra Mundial. Nem os melhores escritores do género podiam ter concebido este enredo tão extravagante, que levou os alemães ao engano de um modo tão fulminante. O aparecimento nas costas do sul de Espanha de um cadáver de um oficial inglês era o elemento central da “Operação Mincemeat”, destinada a ludibriar os nazis quanto ao verdadeiro objectivo estratégico dos Aliados no Mediterrâneo. O êxito foi total. “Quem, na guerra, não terá dado uma gargalhada no meio das caveiras?”.

Impérios Islâmicos (Relógio d´Água), de Justin Marozzi, é uma viagem através do tempo e do espaço, desde Córdova a Samarcanda. As cidades são por natureza o lugar onde a civilização floresce e se desenvolve. Os seus muros guardam o eco de um esplendor do que outrora as fez reconhecidas pela História. E são as histórias destas quinze cidades árabes, portadoras dos vestígios da civilização islâmica, que este livro portentoso nos apresenta, numa viagem recordando que todos os empreendimentos humanos, por mais inspiradores e magníficos que sejam, estão sujeitos a Saturno e às suas metamorfoses.

Os Séculos Otomanos (E-Primatur), de Lorde Kinross, é um daqueles clássicos que o tempo torna valioso, mostrando aos vindouros como a era moderna, inaugurada com a queda de Constantinopla, em 1493, alterou o destino tanto da Ásia Menor como da Europa. Esta é a história da ascensão e queda do grande império turco que segundo Peter Frankopan :”Lê-se como um romance épico”.

José Guardado Moreira
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