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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

Atualidade A importância da desfibrilhação quando o coração pára

22-03-2023

A Paragem Cardiorrespiratória (PCR), vulgarmente conhecida por ataque cardíaco, é uma das principais causas de morte em todo o mundo.
Sabe-se que cerca de 76% das vítimas que sofreram PCR foi devida a uma arritmia em particular: a fibrilhação ventricular. A fibrilhação ventricular é uma arritmia potencialmente fatal que consiste num conjunto de contrações caóticas e descoordenadas dos ventrículos impedindo que o coração consiga bombear sangue oxigenado para o cérebro e restantes órgãos do organismo. Estudos demonstram que a probabilidade de sobrevivência nestas situações diminui 10% por cada minuto que passa sem atuação e que passados 5 minutos a probabilidade de sobrevivência é praticamente nula.
O único tratamento que se prova eficaz nestas situações é a desfibrilhação que consiste na administração de choques elétricos ao coração em fibrilhação ventricular, possibilitando a restauração do ritmo cardíaco normal. Assim, salvar a vida de uma vítima de PCR em ambiente extra-hospitalar pode depender exclusivamente da existência de um aparelho de desfibrilhação nas imediações e da presença de alguém habilitado para o operar.
Embora o Desfibrilhador Automático Externo (DAE) seja de fácil manuseio, é necessária uma formação teórico-prática em Suporte Básico de Vida (SBV) com DAE, onde são simulados casos clínicos, para que o operador se familiarize com os passos a seguir e treine o modus operandi e a gestão de stress inerente à situação. É fundamental a atuação rápida na presença de uma PCR, uma vez que cada minuto conta para o sucesso da intervenção.
A Cadeia de Sobrevivência interliga os diferentes elos, que se assumem como vitais, para o sucesso da reanimação: ligar 112, Reanimar, Desfibrilhar e Estabilizar. Os procedimentos preconizados, quando devidamente executados, permitem diminuir substancialmente os índices de morbilidade e mortalidade associados à PCR e aumentar, significativamente, a probabilidade de sobrevivência da vítima.
Dado que a PCR ocorre, na maioria das vezes, em ambiente pré-hospitalar será difícil uma desfibrilhação precoce se a intervenção for apenas executada por médicos. Face a esta realidade, foi regulamentada, em muitos países, a desfibrilhação por não médicos. De acordo com a lei - DL 188/2009 e DL 184/2012 - “foram estabelecidas regras de utilização de um Desfibrilhador Automático Externo (DAE) em ambiente extra-hospitalar por não médicos e de obrigatoriedade de equipamentos de DAE em locais de acesso público. Neste âmbito, foram criados Programas de Desfibrilhação Automática Externa que consistem na instalação de aparelhos DAE em espaços acessíveis ao público e na formação de pessoas que frequentem esses espaços em Suporte Básico de Vida com DAE”.
Deste modo, assume-se de extrema importância a criação de incentivos e condições, nomeadamente por parte dos municípios, no que diz respeito à implementação de DAE em espaços públicos, tais como escolas e estabelecimentos de formação; empresas; centros de negócios e congressos; instalações hoteleiras; ginásios e recintos desportivos; lares e centros de dia para idosos; espaços de ATL para crianças; espaços culturais; eventos públicos, entre outros.
De igual importância constitui--se a formação certificada em SBV com DAE para que os cidadãos possam atuar perante uma situação de emergência e socorro, realçando as Forças de Segurança e Proteção Civil, frequentemente presentes em eventos de massa, culturais e desportivos.
Em suma e sendo este um assunto de conhecimento geral, como se justificam as lacunas na formação e aquisição destes equipamentos? Quanto vale uma vida? Desfibrilhadores: um custo ou um investimento?

André de Lima Antunes
Cirurgião cardíaco no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra | Docente na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra | Médico na De Lima Antunes Health Care Services | www.delimaantunes.pt
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