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Atualidade Honoris Causa Rui Nabeiro recorda dificuldades da infância

08-06-2022

O empresário Rui Nabeiro recordou, na Universidade de Coimbra (UC), “a pobreza e o analfabetismo” que grassavam em Campo Maior na sua juventude, ao ser distinguido com o grau de doutor “honoris causa” da instituição.

Na Sala dos Capelos, perante o reitor da UC, Amílcar Falcão, que presidiu à cerimónia, e o claustro doutoral, o dono do grupo empresarial dos Cafés Delta manifestou-se “profundamente sensibilizado” com a homenagem.

Manuel Rui Azinhais Nabeiro, de 91 anos, expressou, no início do ritual académico, “a honra de ser doutorado” a título honorífico pela mais antiga universidade portuguesa, fundada pelo rei D. Dinis, em 1290.

O candidato, prestes a receber das mãos do reitor as insígnias de doutor pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC), confessou que esta distinção “foi um sonho” que nunca lhe “passou pela cabeça” desde a infância, na vila de Campo Maior, no Alto Alentejo.

“O momento é de emoção. Revejo pessoas que marcaram a minha vida para sempre”, afirmou, com palavras de gratidão aos antepassados, especialmente os seus pais, e em geral à família, amigos, conterrâneos e trabalhadores do grupo Delta.

A distinção recebida, dia 8 de junho, será “um impulso feliz e generoso para continuar a minha já longa caminhada”, sublinhou.

As “desigualdades sociais e dificuldades” dos conterrâneos do Alto Alentejo, durante a ditadura de Salazar, na primeira metade do século XX, junto à fronteira com Espanha, então vigiada pelos carabineiros do general Franco, deram-lhe “uma imensa vontade de fazer algo diferente” para si e para os outros.

“Principalmente, ajudar as pessoas da minha terra e não só”, acentuou Rui Nabeiro.

Recordando “a pobreza, o analfabetismo e a falta de assistência médica que imperavam” entre os vizinhos, na infância e na juventude, o novo doutor pela Universidade de Coimbra explicou que essa vivência veio a determinar o seu percurso de cidadão e empresário.

“Sou um homem que sonho todos os dias em fazer algo de diferente”, disse.

No desfile tradicional que antecedeu a distinção, ao som da música da charamela, com os instrumentistas trajados a rigor, Rui Nabeiro foi acompanhado pela ministra da Coesão Territorial e professora da FEUC, Ana Abrunhosa, que o amparou na curta caminhada entre a Biblioteca Joanina e a Sala dos Capelos.

O elogio do apresentante (o “padrinho”, que não usa da palavra neste ritual), o catedrático jubilado Carlos Fortuna, coube a outra professora da FEUC, Margarida Mano, ex-vice-reitora da UC e antiga ministra da Educação, no segundo Governo (de breve duração) de Pedro Passos Coelho, em 2015.

Margarida Mano referiu que o doutoramento “honoris causa” de Rui Nabeiro pela Universidade de Coimbra (UC) reconhece o “compromisso integral” do empresário com uma gestão com “dimensão humana”.

“A experiência de vida de Rui Nabeiro constitui uma inspiração e um testemunho da vitória da iniciativa individual face às adversidades das diversas épocas por que passou e em que deixou marca”, afirmou Margarida Mano, ao fazer o elogio do “padrinho” do doutorando, o sociólogo Carlos Fortuna, catedrático jubilado da Faculdade de Economia da UC (FEUC).

“Rui Nabeiro reconheceu, desde o início da sua vida profissional, o sentido ético e a afirmação da responsabilidade social, não enquanto respostas a uma exigência externa, mas antes como uma necessidade natural de quem sabe que a economia é feita de pessoas”, enfatizou a professora da FEUC.

A Universidade de Coimbra, na sua opinião, celebrou hoje, com o doutoramento “honoris causa” do empresário de Campo Maior, uma “história de sucesso” de um homem “a partir de origens humildes, bem como um percurso de ação política e de profunda preocupação social, para não falar do engenho e do espírito inovador que moldaram uma marca, uma terra e um país”.

“Mas, antes de mais, celebramos um português que a todos deu – e ainda dá – uma profunda lição de economia real que Portugal devia estudar e aprender”, acentuou Margarida Mano, que interveio na cerimónia depois do seu colega António Martins, a quem coube elogiar o doutorando.

António Martins, por sua vez, disse que, “para que a Universidade de Coimbra se sentisse honrada em homenagear Rui Nabeiro, não seria necessário qualquer concreto pretexto”.

“A sua vida e a sua obra bastariam para, a qualquer momento, fundamentar plenamente a outorga da láurea doutoral”, considerou.

O orador lembrou que a distinção de Rui Nabeiro foi concretizada no âmbito das comemorações dos 30 anos da licenciatura em Gestão de Empresas da FEUC.

“A Faculdade de Economia, onde se ministra esta licenciatura, enobrece-se ao distinguir um empresário para quem as empresas e a respetiva responsabilidade social são um ponto focal no conjunto da sua vida e da sua obra”, acrescentou.

Para António Martins, Rui Nabeiro “perfilha uma ideia de liberdade fundada na tolerância pela perspetiva contrária”.

“De que se pode estar errado e a tempo de corrigir o engano. Não a liberdade feita de cartilhas que decidem o que é autorizado e o que se demoniza. Ou que avalia os atropelos à liberdade e à vida consoante a longitude”, referiu.

O professor da FEUC realçou que “a justiça social constitui, em Rui Nabeiro, uma linha de rumo numa vida cheia”.

“Não se trata, obviamente, da perspetiva hayekiana, segundo a qual à distribuição primária do rendimento que ocorre na esfera da produção não devem ser aplicados critérios de justiça redistributiva. Também não é a justiça social com os atributos dos coletivismos, usualmente cerceadores da liberdade. É, antes, uma justiça social assente em dois pilares. O primeiro, fundado num sistema económico que produza eficientemente um excedente. O segundo, garantindo que esse excedente é, por via da ação de um Estado Democrático e de iniciativas individuais, destinado, em boa parte, a impedir que se desça abaixo de formas de viver não compatíveis com a dignidade do ser humano”, explicou.

Os direitos sociais, frisou António Martins, “não são um mundo à parte da produção e da distribuição que ocorrem na esfera económica”.

“Rui Nabeiro sabe-o e pratica-o na sua vida”, sublinhou.

 

LUSA
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